Viúva de Navalny vai à embaixada russa na Alemanha para votar em eleições presidenciais

Yulia Navalnaya, viúva do falecido líder da oposição do Kremlin, Alexei Navalny, participa de comício próximo à embaixada russa em Berlim
Yulia Navalnaya, viúva do falecido líder da oposição do Kremlin, Alexei Navalny, participa de comício próximo à embaixada russa em Berlim — Foto: Tobias Schwarz/AFP

Yulia Navalnaya, viúva do opositor russo Alexei Navalny, morto em fevereiro em uma prisão no Ártico, foi à embaixada da Rússia na Alemanha neste domingo para votar nas eleições presidenciais de seu país. Ela não falou com a imprensa no tempo em que permaneceu na longa fila enfrentada pelos eleitores, embora sua presença tenha causado alvoroço. Sob gritos de seu nome e de “obrigado” em russo, Navalnaya foi muito aplaudida. Opositores também entoaram versos contra o presidente russo, Vladimir Putin, que será reeleito hoje, e contra a guerra na Ucrânia.

Antes da votação, Navalnaya havia pedido aos seus apoiadores que fossem às urnas ao mesmo tempo, ao meio-dia de domingo, e que votassem em qualquer outro candidato que não fosse Putin. A viúva, que prometeu continuar o legado de seu falecido marido mesmo em exílio, juntou-se à fila em frente à embaixada e concordou em tirar fotos com simpatizantes. Um vídeo publicado no X por Kira Yarmysh, porta-voz de Navalny, mostra Navalnaya sendo aplaudida por pessoas que aguardavam para votar.

Antes uma figura que não frequentava tanto as câmeras e nem concedia entrevistas, a viúva passou a ser a principal voz em defesa do trabalho do legado do marido. Em resposta ao chamado para este domingo, batizado de “Meio-dia contra Putin”, eleitores também se reuniram em frente a colégios eleitorais em Moscou e outras cidades russas. O objetivo era homenagear Navalny e denunciar as eleições, que terminam hoje e devem dar mais um mandato a Putin. Segundo organizações de direitos humanos, 74 pessoas foram detidas.

— Vim para expressar minha solidariedade com uma pessoa muito importante. Estas eleições são uma forma de honrar a memória de Navalny — disse Denis, um jovem de 21 anos, ao protestar em Moscou.

Aos 47 anos, o mais notório opositor de Putin morreu, de acordo com a versão oficial fornecida pelo Serviço Penitenciário Federal russo, depois de sentir-se mal “após uma caminhada, perdendo quase imediatamente a consciência”.

Ao contrário de outras figuras que dominam a política russa, Navalny não possuía laços com oligarquias ou famílias tradicionais, nem fez sua base nos tempos da União Soviética. Nascido nos arredores de Moscou e filho de pequenos empresários, ele passou alguns verões na Ucrânia, de onde vinha parte de sua família e onde aprendeu o idioma local. No final dos anos 1990, formou-se em Direito na Universidade Russa da Amizade dos Povos. Também possuía ainda formação em finanças, um conhecimento que se mostrou útil em suas incursões no ativismo político.

O opositor fez seu nome ao expor a corrupção oficial, rotulando a Rússia Unida, legenda de Putin, como “o partido dos vigaristas e ladrões”. Em 2006, começou a escrever um blog sobre corrupção focado nas grandes corporações que comandavam a economia russa. Em outra frente, criou um projeto conhecido como RosYama, em que os cidadãos reportavam buracos de rua e pressionavam as autoridades para que os tapassem. Nessa mesma época surgiu a Fundação Anticorrupção, que se tornaria sua principal fachada política.

Apesar de ser considerado a “face da oposição” na Rússia pelo Ocidente, Navalny não seguiu a esperada cartilha internacionalista e liberal. A começar pela forma como se definia, um nacionalista democrata. Em diversas ocasiões, foi acusado de se aliar a grupos extremistas.

Navalny tentou capitalizar politicamente esse prestígio. Em 2011, foi um dos responsáveis pelos protestos que questionavam a lisura das eleições legislativas daquele ano. Chegou a ser preso e foi liberado logo depois, mas sacramentou seu papel na oposição, muito embora as pesquisas mostrassem que apenas cerca de 5% dos russos o conheciam. Dois anos e muitas prisões em protestos depois, Navalny concorreu à prefeitura de Moscou contra o aliado de Putin, Sergey Sobyanin. Com uma campanha baseada na militância, recebeu 27% dos votos. Em 2016, anunciou que seria candidato à Presidência, mas acabou vetado.

Em agosto de 2020, durante uma viagem à Sibéria, Navalny se sentiu mal durante um voo e foi hospitalizado em estado grave em Omsk, sob suspeita de envenenamento, um ato creditado ao Kremlin. Depois de alguma negociação, foi enviado para a Alemanha, onde passou por um longo tratamento. O advogado tinha a opção de se tornar um líder da oposição no exterior — Alemanha e França chegaram a oferecer asilo —, mas preferiu voltar à Rússia, mesmo sabendo que poderia perder a liberdade. Ao pousar em Moscou, foi imediatamente preso, acusado de violar as regras da condicional relativa ao processo em que foi condenado em 2014. (Com AFP)

Fonte: O Globo

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