Durante os 51 dias em que ficaram foragidos da Penitenciária Federal de Mossoró, Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento praticaram outros crimes. Em depoimentos prestados à Polícia Civil do Rio Grande do Norte, as vítimas narraram terem sido ameaçadas e roubadas pela dupla, que invadiram as suas casas, as renderam com “pedaços de madeira”, as obrigaram a lhe servir água e comida e levaram seus telefones celulares.
No inquérito instaurado, ao qual O GLOBO teve acesso, os moradores contam que, por volta de 20h de 16 de fevereiro, ouviram seus cachorros latindo assustados, olhando em direção à porteira. Enquanto o marido foi verificar as ovelhas, a mulher entrou na residência. Ambos se apresentaram ao casal como “os fugitivos” da unidade prisional, de onde haviam escapado dois dias antes.
Aos investigadores, as vítimas contaram que, “muito assustados”, os criminosos perguntaram se eles estavam sozinhos, se tinham armas ou se eram policiais. Ambos também afirmaram estarem com muita fome, fazendo a mulher esquentar comida para eles. Enquanto jantavam, relatou o casal, os bandidos ficaram ouvindo o que passava em um telejornal.
“QUE ambos disseram que estavam com muita fome e queriam comer; QUE sua esposa disse que estava com a comida pronta e foi esquentar a comida para eles; QUE um destes não saiu de perto do declarante; QUE enquanto comiam ficaram ouvindo o que estava passando na televisão, pois neste momento estava passando o Jornal Nacional; QUE estavam muito assustados, prestando atenção a todos que passavam de frente, pois sua casa tem visão de qualquer carro que se aproxima, à distância”, contou a vítima, no depoimento.
Em seguida, a dupla teria obrigado as vítimas a desbloquearem seus celulares para checarem as informações que circulavam nas redes sociais sobre a fuga – a primeira na história de um presídio federal do país.
Após acharem que uma luz vinda de fora da casa era da polícia, Mendonça e Nascimento teriam se afastado com o homem em “direção ao mato”. Neste momento, ele contou ter “temido pela vida”. Na delegacia, a mulher também disse que “não conseguia ter paz”.
“QUE após realizarem as ligações que queriam, eles permaneceram até por volta de meia-noite mantendo-os sob sua vigilância e quando a internet caiu e eles avistaram um carro se aproximando às escuras, eles se evadiram e foram embora mata adentro; QUE até o presente momento, não consegue ter paz, pois após a saída dos foragidos, chegaram diversos policiais de diversas instituições, onde permanecem até hoje”, disse a outra vítima, também em depoimento.
Os criminosos foram recapturados nesta quinta-feira, pela Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, na BR-222, em Morada Nova, no Acre. Durante a fuga, eles cruzaram 1.600 quilômetros e passam por três estados. Durante a madrugada, eles foram novamente encaminhados a Mossoró.
Fonte: O Globo