Vieira defende declaração polêmica de Lula sobre Israel: ‘Falou com a sinceridade de quem busca preservar a vida’

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo/11-05-2023

Em audiência pública na Comissão de Relações e Defesa Nacional do Senado, nesta quinta-feira, o chanceler Mauro Vieira afirmou que a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no mês passado, ao comparar a matança de judeus na Segunda Guerra Mundial às mortes de palestino, foi em defesa das vidas perdidas na Faixa de Gaza. Segundo Vieira, não apenas Lula, mas boa parte da comunidade internacional tem essa preocupação.

— O presidente Lula falou com a sinceridade de quem busca preservar um valor supremo, que é a própria vida humana.

Mauro Vieira condenou as ações de Israel na Faixa de Gaza e a possibilidade de os ataques se estenderem a outros territórios palestinos. Vieira deixou claro que as críticas foram dirigidas para o governo israelense, não ao povo daquele país.

— Nossa amizade com o povo israelense sobreviverá ao comportamento do atual governo — afirmou.

O chanceler também chamou de desproporcional a reação de Israel aos ataques do Hamas em 5 de outubro do ano passado.

— A reação de Israel ao ataque tem sido extremamente desproporcional e não tem como alvo somente os responsáveis pelo ataques, mas todo o povo palestino.

Vieira mencionou uma série de fatores que, segundo ele, mostram que, no conflito com o grupo terrorista Hamas, Israel não cumpre as normas do direito internacional: o bloqueio da ajuda humanitária à Faixa de Gaza, as mortes de mais de 31 civis palestinos — dos quais 25 mil mulheres e crianças — o aumento das ocupações ilegais por colonos israelenses, a não aceitação de um Estado palestino e o não cumprimento de determinações feitas pela Corte Internacional de Justiça, em um ação movida pela África do Sul que acusa Israel de genocídio.

Ele ressaltou que o governo brasileiro sempre defendeu a libertação dos reféns que estão com o Hamas. Mas considera que o direito internacional não está sendo cumprido por Israel.

— É cenário desolador. Crianças morrem diariamente por desnutrição. Desde 7 de fevereiro, não há mais hospital funcional em Gaza. Fazem cirurgias sem anestesia, inclusive em crianças — disse o chanceler, que chamou de “massacre” a morte de mais de cem palestinos que esperavam ajuda humanitária e foram atingidos por tiros disparados por soldados israelenses.

A fala de Lula sobre a morte de judeus pelos nazistas gerou uma crise diplomática entre Brasil e Israel. O governo israelense reagiu com duas medidas: além de repreender publicamente o embaixador brasileiro, Frederico Meyer, no Museu do Holocausto — local totalmente fora dos padrões, decidiu declarar Lula como persona non grata.

Por determinação de Lula, Mauro Vieira chamou o embaixador brasileiro de volta ao Brasil e convocou o chefe da representação de Israel em Brasília, Daniel Zonshine, para uma reunião no Palácio do Itamaraty, no Rio. As duas medidas, na linguagem diplomática, têm por objetivo demonstrar a insatisfação do governo brasileiro com as autoridades israelenses.

O clima ficou ainda pior, porque o chanceler israelense, Israel Katz, passou a provocar Lula em redes sociais. Vieira reagiu divulgando uma nota que dizia, já no início, que a do país após as declarações do presidente brasileiro sobre a guerra em Gaza é uma “vergonhosa página da diplomacia de Israel”.

Mas as relações entre Brasil e Israel já estavam abaladas, desde que o Brasil anunciou seu apoio à África do Sul em uma ação movida na Corte Internacional de Justiça. Os sul-africanos acusaram formalmente Israel de cometer genocídio contra o povo palestino pediram o fim das operações militares.

Fonte: O Globo

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