Um em cada oito endereços do Brasil fica dentro de condomínios, indica Censo

O condomínio Vivendas do Bosque fica no coração da Barra, próximo ao BarraShopping e ao Bosque da Barra
O condomínio Vivendas do Bosque fica no coração da Barra, próximo ao BarraShopping e ao Bosque da Barra — Foto: Reprodução da internet

Mais de 10% dos endereços do Brasil ficam dentro de condomínios: 13,3 milhões (12,4% do total), o equivalente a um a cada oito em relação ao universo geral. Os dados, do Censo 2022, foram divulgados pelo IBGE nesta sexta. O Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE) registrou 106,8 milhões de endereços no Brasil, número 19,5% maior que a lista do Censo anterior.

Elaborado em 2005, o Cadastro de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE) criou um padrão de registro de endereços. Desde a década passada — considerando o Censo de 2010 e atualizações em anos seguintes —, houve a inclusão de 34 milhões de novos endereços e a exclusão de 16,5 milhões da base antiga. Assim, o CNEFE saltou de 89,3 para 106,8 milhões de endereços. A maior parte (90,6 milhões) se trata de domicílios particulares. Há ainda 4 milhões de estabelecimentos agropecuários, 579 mil religiosos, 264 mil de ensino e 247 mil de saúde.

As casas (14,7 milhões) ainda superam os apartamentos (13,5 milhões). Durante a coleta, do Censo 2022, o país tinha 3,5 milhões de edificações em construção ou reforma: 605,2 mil estavam no estado de São Paulo.

O CNEFE também evidenciou um pouco mais da realidade urbanística brasileira e as condições de vida nas habitações. Quase um quarto dos endereços do país, por exemplo, não tem número: são 24,4 milhões de localizações sem identificação numérica, ou 22,8% do total. Para especialistas, essa taxa dialoga, principalmente, com a alta informalidade entre as ocupações. O arquiteto e urbanista Carlos Murdoch, coordenador da Universidade Veiga de Almeida, lembra que essa proporção é quase a mesma da população que habita em favelas na cidade do Rio (um entre cada cinco cariocas.

— É um reflexo direto de diversas gestões municipais que, por má-fé ou pura incompetência, nunca consideraram a questão habitacional para a classe de trabalhadores menos abastados. Então, alguns territórios próximos aos pontos de concentração econômica se transformarão em grandes conglomerados informais, e repetem a lógica do sistema imobiliário formal. Estas regiões “não oficiais” da cidade sempre estiveram à margem do poder público — explica Murdoch. — Neste momento enfrentamos um grande desafio que se torna cada vez mais difícil de se confrontar, que é a retomada destes territórios através da formalização urbana, jurídica e social.

Além dos 24,4 milhões de endereços sem número, há 5,1 milhões que usam algum “sistema alternativo” para identificar a residência ou estabelecimento, que são casos onde a identificação não foi registrada pela prefeitura, mas foi instituída por alguma instituição reconhecida, desde agentes de saúde a associações de moradores, e pode ser, além de números, alguma letra ou um nome. Ainda há outros 438 mil endereços do país usam a quilometragem na via como referência de identificação.

Outro dado que chama a atenção é a alta incidência de endereços dentro de condomínios: 13,3 milhões (12,4% do total). Thiel e Murdoch destacam que uma das explicações é a sensação de insegurança nas cidades, em especial nas metrópoles, o que leva parte da população a buscar residências em condomínios, onde em muitos casos existe segurança privada.

Murdoch acrescenta ao fenômeno outros fatores, como a maior facilidade de uma expansão horizontal do que vertical nas cidades.

— É inegável que a opção rodoviarista do Brasil pós 1950 e o apelo do “American way of life”, com a vida de subúrbio, casas sem muro e grandes carros na garagem foram extremamente atraentes para a classe média da segunda metade do século XX. Lembrando que quanto mais distante dos grandes centros, maior a necessidade de proteção e gestão de serviços, o que nos leva diretamente a estruturação dos condomínios em regiões de expansão das cidades — explica o especialista, crítico da formação de “bolhas” sem conexão direta com a cidade. — Uma contradição que explica o choque social e cultural que hoje atravessamos.

Além de estruturas amostras de pesquisas domiciliares e auxiliar em planejamentos urbanos, aprimoramento de políticas públicas e padrões de ocupação, o CNEFE teve papel importante no enfrentamento de calamidades, como os ocorridos em Alagoas e Pernambuco, em 2010, em Brumadinho (MG), em 2019, e em São Sebastião (SP) no ano passado. Durante as recentes enchentes do Rio Grande do Sul, por exemplo, o cadastro serviu como referência para localizar endereços na área alagada de Lajeado (RS). Assim, foi possível levantar quantos eram domicílios particulares, estabelecimentos de saúde ou prédios desocupados.

Fonte: O Globo

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