Ucrânia aprova recrutamento de presidiários pelo Exército em troca de anistia por crimes

Soldados ucranianos aguardam ordens para disparar contra posições russas distantes apenas três quilômetros dali. Com a escassez de munições, os soldados passam horas e horas aguardando ordens para disparar. Foto tirada na Floresta de Kremina, Oblast de Donetsk, Ucrânia
Soldados ucranianos aguardam ordens para disparar contra posições russas distantes apenas três quilômetros dali. Com a escassez de munições, os soldados passam horas e horas aguardando ordens para disparar. Foto tirada na Floresta de Kremina, Oblast de Donetsk, Ucrânia — Foto: Yan Boechat

O Parlamento da Ucrânia aprovou, nesta quarta-feira, um projeto de lei que permite que presidiários que cumprem pena no país sejam recrutados pelas Forças Armadas em troca de anistia pelos seus crimes. A medida, que exclui detentos presos por uma série de crimes graves, ocorre em um momento em que Kiev tenta mobilizar mais soldados para lutar contra a Rússia.

O texto foi aprovado em segunda leitura no Parlamento com 279 votos a favor. Ficam excluídos do recrutamento condenados por delitos graves, como homicídio, violência sexual e atentados contra a segurança nacional, segundo comunicou a deputada Olena Shulyak, aliada do presidente Volodymyr Zelensky.

A Ucrânia tenta desesperadamente repor suas fileiras em um momento em que o conflito no front é favorável às tropas russas e suas forças acumulam derrotas e baixas em suas fileiras. O país tenta lidar com a pressão de famílias que esperam o reconhecimento dos corpos de seus entes queridos, esperando por identificação em necrotérios lotados ou em zonas inacessíveis do campo de batalha.

Oficialmente, o governo ucraniano não divulga o número de soldados desaparecidos em ação — termo que, muitas vezes, é utilizados para militares mortos e não identificados. Em fevereiro, em uma rara declaração, Zelensky estimou que o número de soldados mortos em 31 mil. Estimativas dos EUA sugerem que 70 mil soldados ucranianos tenham morrido até agosto.

A moral das tropas ucranianas também diminuiu ao longo de dois anos de guerra, com uma série de derrotas impostas pelas forças russas. Soldados envelhecidos e esgotados pela rotina excruciante do front tentam manter as posições. O governo tenta criar alternativas para ampliar o recrutamento. Em abril, reduziu a idade mínima para o alistamento obrigatório, de 27 para 25 anos — idades consideradas altas para os padrões internacionais de nações em guerra.

O recrutamento de presidiários não é um tema novo na guerra na Ucrânia. Ainda em 2022, a Rússia autorizou o Grupo Wagner, então dirigido pelo falecido líder mercenário Yevgeny Prigojin, a recrutar homens em cadeias russas. A proposta incluiria salários 200 mil rublos (R$ 17,3 mil), anistia para os crimes de quem retornasse com vida e indenização de 5 milhões de rublos (R$ 43,3 mil) para as famílias de quem morresse em combate, relataram veículos da imprensa internacional na época.

A tática russa, no entanto, foi denunciada por recrutas que desertaram para o lado ucraniano em meio ao conflito. Ex-prisioneiros disseram que foram enviados para o front sem treinamento, equipamento de proteção e, em alguns casos, desarmados. Também relatam que a ameaça de morte a desertores era constante e que mesmo após o fim dos períodos estabelecidos em contrato, muitos foram forçados a continuar combatendo.

Fonte: O Globo

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