‘Treino do pânico’: família questiona versão oficial de morte de PM no DF e pede reprodução simulada

Tenente Abraão Taveira, de Alagoas, morreu durante treinamento no Distrito Federal
Tenente Abraão Taveira, de Alagoas, morreu durante treinamento no Distrito Federal — Foto: Reprodução/Redes Sociais

A família do tenente-coronel Abraão Taveira, que morreu aos 39 anos durante um treinamento com autoridades do Distrito Federal, questiona a versão oficial sobre o incidente. O advogado dos parentes do comandante do canil do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar de Alagoas afirmou ao GLOBO que vai pedir aos investigadores uma reprodução simulada para dirimir dúvidas sobre o caso.

Segundo Napoleão Lima Júnior, as informações repassadas por organizadores do curso de “administração do pânico” pelo qual Taveira passava não batem com relatos de testemunhas e de profissionais de saúde enviados de Alagoas para acompanhar o quadro clínico do militar.

— Bombeiros falaram que ele teria batido a cabeça numa manilha, se afogado e sido resgatado por um instrutor. Mas os nossos médicos identificaram que houve um edema cerebral não provocado por pancada, mas por falta de oxigenação no cérebro. Outro detalhe: nos disseram que ele foi visto na manilha por um instrutor, mas depois ouvimos que ele foi visto por outro aluno. Não estavam monitorando de forma correta? Isso causou surpresa na família. Temos informações privilegiadas de que não houve acidente e que o mal súbito foi gerado por sobrecarga de estresse — afirmou.

As informações foram reveladas pelo portal Uol e confirmadas pelo GLOBO. Na hora do incidente, em 30 de agosto, o tenente Taveira passava por um curso de cinotecnia, um manejo e controle de cães, promovido pela PM do DF. Ele ficou dez dias internado no Hospital de Base, na capital federal, mas não resistiu e faleceu no último sábado.

O advogado também destacou que Taveira estava em Brasília havia dez anos e havia sido submetido a um teste físico e uma inspeção de saúde, que o declararam preparado para o treinamento. Ele aponta a ausência de socorro adequado no local do treinamento.

— Não havia uma ambulância de suporte avançado, como determinam as regras desse tipo de treinamento. Havia uma viatura simples, sem um médico. O delegado lá de Brasília detectou, pelo sistema integrado de monitoramento da segurança pública, que levou 30 minutos para uma ambulância chegar ao local do fato. E aí houve a tentativa de reanimação por 30 minutos — contou.

Segundo Napoleão, na etapa em que ocorreu o treinamento, o tenente deveria entrar numa manilha submersa, a cerca de três metros de profundidade, e resgatar um boneco — uma “pessoa” que estaria se afogando. Depois, deve seguir para uma última manilha. Para a família de Taveira, o fato que gerou a falta de oxigenação do militar ocorreu na saída da penúltima manilha.

A família ainda está “aterrorizada” com o que aconteceu, mas agora foca em esclarecer o que aconteceu com o militar durante o curso, diz o advogado Napoleão.

— Eles estão extremamente aterrorizados, mas estão querendo saber a verdade do que aconteceu para fazer justiça à perda do ente querido e para evitar que esse tipo de coisa se repita com outras famílias, que outras pessoas saudáveis e jovens não tenham a vida abreviada por irresponsabilidade — destacou.

Quatro apurações foram abertas sobre o caso — na PM do DF, que realizou o curso; no Corpo de Bombeiros, que administra o local do treinamento; e na 1ª Delegacia de Polícia da Asa Sul, em Brasília. A PM de Alagoas também promove uma investigação, em paralelo. Em nota, a Polícia Civil do DF informou apenas que a apuração está com a 1ª DP. Procurados, o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar do DF ainda não responderam aos contatos do GLOBO.

Fonte: O Globo

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