Tragédia no Sul: Vaquinhas se proliferam, e doações para organizações de fora do RS provocam críticas

Chuvas no Rio Grande do Sul: doações de alimentos e agasalhos são coletadas
Chuvas no Rio Grande do Sul: doações de alimentos e agasalhos são coletadas — Foto: João Alves/PMSM

Enquanto os números de mortos e desaparecidos em razão das enchentes no Rio Grande do Sul crescem, personalidades e instituições se mobilizam para organizar vaquinhas e enviar doações aos necessitados. Mas o caos que tomou conta do estado tem dado abertura a polêmicas com a caridade.

Praticamente todas as regiões do Rio Grande do Sul foram afetadas pelas tempestades desde o último final de semana de abril, e agora a população do estado depende da solidariedade de brasileiros de todos os cantos do país. O governo gaúcho está recebendo doações nacionais por meio de uma chave Pix (CNPJ: 92.958.800/0001-38), em nome de SOS Rio Grande do Sul.

O estado de calamidade motivou anônimos e celebridades a se mexerem. O humorista Whindersson Nunes (que diz ter arrecadado R$ 3 milhões), o gamer Gaules (mais de R$ 300 mil) e o empresário Eduardo Badin (R$ 13 milhões, segundo a “CNN”) são exemplos disso.

Outras instituições também estão arrecadando. A Universidade de São Paulo (USP) está recebendo água potável e material de limpeza, como água sanitária, sabão em pó, panos de chão e desinfetante, para a população gaúcha. A campanha é feita em todos os campi até a próxima quarta-feira, quando os produtos arrecadados serão repassados à Defesa Civil de São Paulo antes de serem enviados ao Sul.

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) informou que vai transferir R$ 10 milhões do saldo remanescente da extinta Conta Regional de Destinação de Prestações Pecuniárias do Judiciário mineiro para a Defesa Civil do Rio Grande do Sul. Tite, técnico do Flamengo, pediu aos seguidores e torcedores do clube para contribuírem com doações. O Fundo Social de São Paulo, a Força Aérea Brasileira (FAB) e os Correios também estão ajudando.

Mas o pedido de doações para organizações sem relação com a causa humanitária e sediadas em outros lugares do Brasil têm levantado questionamentos. Os deputados federais Coronel Zucco (PL-RS) e Carla Zambelli (PL-SP) e o maquiador da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, Augustin Fernandes, por exemplo, preferiram pedir doações para o Instituto Harpia Brasil, criado em Goiás e presidido pelo ex-deputado e ex-líder do governo na Câmara Vitor Hugo.

O instituto, que também tem Bolsonaro como presidente de honra, tem organizado eventos com personalidades do bolsonarismo, oferece cursos de formação de líderes e tem entre os seus objetivos discutir uma nova Constituição para o país. O perfil da organização levou críticos a denunciarem um suposto “golpe” nas doações.

Procurado, Hugo afirmou que o instituto, embora seja sediado em Goiânia, tem abrangência nacional, com mais de 800 associados. E que a organização tem como um dos objetivos a promoção do voluntariado e o apoio a pessoas carentes.

— É uma associação civil sem fins lucrativos, então não recebe nenhum tipo de vantagem financeira. Por isso a gente fica muito à vontade de ajudar o Rio Grande do Sul, porque recebemos doações de todo o país — disse o ex-deputado.

O instituto tinha recebido até este sábado, segundo Hugo, R$ 433 mil em doações para o Rio Grande do Sul, sendo R$ 28,5 mil gastos com colchões para serem enviados à região da crise. Mais de R$ 400 mil continuavam no saldo do Harpia Brasil.

Fonte: O Globo

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