Tragédia no Sul: gaúchos tentam voltar lentamente à vida normal

Equipes removem entulho das ruas de Porto Alegre não mais inundadas. População faz balanço dos prejuízos e arregaça as mangas para reconstrução -  (crédito: Henrique Lessa/CB/D.A Press)
Equipes removem entulho das ruas de Porto Alegre não mais inundadas. População faz balanço dos prejuízos e arregaça as mangas para reconstrução - (crédito: Henrique Lessa/CB/D.A Press)

Porto Alegre e Capão da Canoa (RS) — Apesar do desejo dos gaúchos de retomarem o quanto antes a vida normal, a vontade esbarra na realidade deixada pela destruição das inundações. As toneladas de entulhos e dejetos, de bens definitivamente inutilizados e de imóveis com estrutura comprometida, espalhados pelos locais onde as águas baixaram, somam-se à infraestrutura de serviços públicos que voltaram a funcionar, só que precariamente. Ainda assim, a tristeza de ter perdido tudo dá vez à resignação de reconstruir tudo (ou quase tudo) do zero.

Ontem, 22 escolas da rede municipal de educação de Porto Alegre retomaram as atividades e mais 16 reabrem hoje. “Cerca de 50% dos nossos alunos retornarão às aulas normalmente. A retomada das aulas é essencial para a aprendizagem dos estudantes e, da mesma forma, para a volta ao cotidiano da cidade”, afirmou o secretário municipal de Educação, José Paulo da Rosa.

De acordo com a prefeitura da capital, 99 unidades públicas e 219 parceiras foram atingidas pelas enchentes. Destas, 14 públicas e 12 de rede conveniada ainda estão totalmente ou parcialmente alagadas.

Mas, apesar do esforço de voltar à normalidade, estima-se que 180 mil lares gaúchos ainda estão sem energia elétrica, de acordo com dados das distribuidoras CEE Equatorial e RGE. A região mais afetada é a metropolitana de Porto Alegre. O desafio, segundo as empresas, é religar a rede em um espaço razoável de tempo para que a vida siga em direção à normalidade.

Mas, para isso, os técnicos têm de trafegar por estradas precárias e inseguras. De acordo com o mais recente balanço da Defesa Civil, são 78 trechos com bloqueios totais e parciais em 47 rodovias.

Mas o religamento da rede elétrica não depende da vontade das distribuidoras. A Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros Militar têm de dar o sinal verde, pois são muitas as galerias subterrâneas alagadas.

Na região metropolitana de Porto Alegre, o cálculo é de aproximadamente 40 mil lares sem água, de acordo com a Corsan, responsável pelo abastecimento no estado. Na capital gaúcha, das 24 estações de bombeamento de água pluvial espalhadas pela cidade, apenas nove funcionam — como garante o Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE). Há previsão de que duas voltem a funcionar hoje e mais uma até quinta-feira.

Só que o restabelecimento da infraestrutura pode ser afetado pelas chuvas nos próximos dias — que, segundo a meteorologia, deve recomeçar amanhã. O nível do Guaíba pode voltar a subir: ontem, passou de 4,24m para 4,32m em algumas horas, mas voltou a descer.

Aviso à prefeitura

O DMAE alertou o prefeito da capital gaúcha, Sebastião Melo (MDB), sobre da iminência das inundações. O documento foi divulgado, ontem, pelo deputado estadual Matheus Gomes (PSol). Segundo ele, depois das cheias de novembro 2023, diversas bombas do sistema de drenagem da cidade precisavam de manutenção.

O documento, assinado por engenheiros da própria prefeitura, alerta o prefeito do risco de alagamento na cidade. “Necessidade urgente de resolução desta demanda para evitar o risco de alagamento da área central de Porto Alegre, entre a Usina do Gasômetro e a rodoviária”, diz o documento divulgado pelo parlamentar. A advertência apontava o risco de inundações de bairros de Porto Alegre seria ocasionada pelo não funcionamento do sistema de drenagem da cidade.

E em todo o Rio Grande do Sul há 19 pessoas diagnosticadas com leptospirose e outras 304 são suspeitas de estarem infectadas. A informação foi divulgada ontem pela Secretaria Estadual da Saúde, que confirmou também a morte de um homem de 67 anos pela doença. O caso foi registrado na última sexta-feira no município de Travesseiro, no Vale do Taquari, onde outras três pessoas recebem tratamento médico pelo mesmo motivo.

De acordo com a Defesa Civil do estado, as inundações deixaram 157 mortos e 85 desaparecidos. São 76.188 pessoas em abrigos, de 581.633 desalojados.

 

Fonte: Correio Braziliense

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