Assim que deixou o Complexo Penitenciário de Tremembé, no início da manhã desta terça-feira, Cristian Cravinhos, de dentro do carro, avisou aos seguidores: “Tô voltando mais uma vez”. Condenado a 29 anos de prisão pela morte da mãe de Suzane von Richthofen, em 2002 — crime pelo qual o irmão dele, Daniel, também foi sentenciado, além da própria Suzane —, ele foi um dos alcançados pela primeira “saidinha” do ano, quando presos em regime semiaberto são autorizados a passar sete dias seguidos em liberdade. Cristian já havia sido beneficiado pela medida no passado, mas acabou tendo sua pena ser acrescida a mais 4 anos em regime fechado após tentar subornar dois policiais militares.
Nas redes sociais, Cravinhos, hoje com 48 anos, se arrisca como uma espécie de influenciador digital e é ativo nas postagens mostrando o dia a dia fora da cadeia. Bastou chegar em casa para compartilhar no Instagram um novo momento, dessa vez ao lado do cachorro, avisando que já havia chegado.
A reação aos conteúdos é diversa. O post em que ele comunicava o retorno, por exemplo, somava cerca de 50 comentários ao fim da noite desta terça-feira. “É isso aí, Cristian, a vida segue”, afirmou um internauta. “Viva intensamente cada dia porque só Deus vai julgar você de novo. Mais ninguém”, pontuou um segundo.
Nem todos são tão complacentes, no entanto. “Eu teria vergonha de aparecer nas redes sociais”, criticou uma seguidora. “Vê se não compra moto novamente”, aconselhou outro. Foi graças a uma motocicleta que ele havia comprado com os dólares e os euros roubados da mansão dos Richthofen que o assassinato dos pais de Suzane foi elucidado pela polícia. Despois dessa descoberta, o trio de assassinos acabou confessando.
De volta ao convívio social, a julgar por “saidinhas” anteriores, Cristian anda em motos de corrida, toca bateria, se relaciona com diferentes mulheres e frequenta o Parque Ibirapuera e o Autódromo de Interlagos com o irmão. Todos os passeios são registrados e postados em seus perfis nas redes sociais. Ele também já ativou a conta em aplicativos de namoro, como o Tinder, onde aparece sem camisa e exibe o corpo obtido com a malhação na prisão.
A ferramenta, aliás, colaborou para que ele se complicasse judicialmente em 2018, quando regrediu de regime. Cravinhos marcou um encontro com uma jovem de 16 anos, à noite, em um bar no município de Sorocaba, para onde seguiu de moto. No entanto, sua ex-namorada, com quem tem uma filha de 15 anos, havia instalado um rastreador no veículo.
A mulher apareceu de surpresa no estabelecimento, o que deu início a uma confusão. A polícia foi chamada e flagrou Cristian violando as regras do regime aberto, o que lhe rendeu voz de prisão, não sem antes arriscar uma tentativa frustrada de suborno. A juíza que sentenciou Cravinhos pelo episódio destacou na decisão que ele não estava pronto para viver em liberdade.
Para alcançar novamente o regime aberto, passo seguinte à sua condição atual, Cristian teve de ser submetido ao teste de Rorschach. Os especialistas avaliam como ele lida não só com a possibilidade de reincidência, mas também com o assassinato brutal dos pais de Suzane. No laudo psicológico decorrente do exame, consta que Cravinhos tem personalidade voltada para o crime.
O inquérito que o indiciou em 2002 já trazia relatos de que ele havia se envolvido com pequenos furtos e até tráfico antes mesmo da morte de Marísia von Richthofen. Sobre a mãe de Suzane, ele disse aos psicólogos de Tremembé que só aceitou participar do plano por amor ao irmão, Daniel Cravinhos, então namorado da mandante do assassinato.
Assim como todos os cerca de 30 mil presos que estão em liberdade no estado de São Paulo durante a saidinha, Cristian terá de voltar na próxima segunda-feira para Tremembé. Até lá, ele também tentará estreitar laços com um filho de 26 anos que teve com uma das suas primeiras namoradas. Recentemente, o rapaz mandou tirar o nome do pai dos documentos alegando que sente vergonha do passado criminoso paterno.
Fonte: O Globo