Tensão com Israel ofusca 1ª grande reunião do G20 no Brasil

Mauro Vieira, Lula, Fernando Haddad, Roberto Campos Neto e Maurício Carvalho Lyrio
A presidência brasileira do G20 se estenderá até 30 de novembro de 2024; na foto, Lula (2º da esquerda para a direita) participa da sessão conjunta das Trilhas de Shepas e Finanças em 2023

Os chanceleres das maiores economias do mundo se reúnem nesta 4ª e 5ª feiras (21 e 22.fev.), no Rio, no 1º grande evento do G20 sob a presidência brasileira. A escalada da tensão entre Brasil e Israel deve contaminar os debates e as declarações públicas das autoridades convidadas.

O evento, que ocorrerá na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, terá representantes de todos os membros do G20 (África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia, União Africana e União Europeia).

Em seu período a frente do G20, o Brasil estabeleceu 3 temas prioritários: inclusão social e combate à fome e à pobreza e promoção do desenvolvimento sustentável e reforma das instituições da governança global.

Durante o encontro no Rio, a ideia brasileira era focar na reforma da governança global, que passa por críticas recorrentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao financiamento dos países em desenvolvimento e ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).

Na véspera do evento, entretanto, a pauta internacional brasileira só teve espaço para a tensão com Israel. No domingo (18.fev.2024), Lula comparou os ataques israelenses na região ao extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler (1889-1945) na 2ª Guerra Mundial (1939-1945).

Na 3ª feira (20.fev.204), o ministro de Relações Exteriores israelense, Israel Katz, voltou a exigir um pedido de desculpas do presidente brasileiro pela fala em que compara os ataques de Israel na Faixa de Gaza ao extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945).

Em seu perfil no X (ex-Twitter), o chanceler subiu o tom e disse que a declaração de Lula é “um cuspe no rosto dos judeus brasileiros”. Declarou que não é tarde para que o presidente “aprenda História” e “peça desculpas”.

“Milhões de judeus em todo o mundo estão à espera do seu pedido de desculpas. Como ousa comparar Israel a Hitler? É necessário lembrar ao senhor o que Hitler fez?”, disse Katz.

Pimenta classificou a fala de Katz como notícia falsa: O chanceler de Israel, Israel Katz, distribui conteúdo falso atribuindo ao Presidente Lula opiniões que jamais foram ditas por ele. Em nenhum momento o presidente fez críticas ao povo judeu, tampouco negou o Holocausto. Lula condena o massacre da população civil de Gaza promovido pelo governo de extrema-direita de Netanyahu, que já matou mais de 30.000 palestinos, entre eles, 10.000 crianças.”

Entenda na linha do tempo abaixo:

Autoridades brasileiras saíram em defesa de Lula e criticaram a posição do chanceler israelense. O 1º foi o ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência da República, Paulo Pimenta, que afirmou que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, está isolado e que seu governo usou desinformação contra Lula.

O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim, criticou que a nova declaração de Israel Katz.

Ao Poder360, Amorim, que foi chanceler dos governos de Itamar Franco e Lula 1, afirmou que a declaração é “descabida” e que “sequer merece ser comentada”. Nos bastidores, um pedido de desculpas do presidente é visto como improvável.

Já o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, afirmou que as declarações de seu contraparte de Israel são “inaceitáveis e mentirosas”. Para ele, a forma como o chanceler israelense se manifestou em relação ao presidente Lula é “insólita e revoltante”.

Vieira afirmou que o episódio é uma página “vergonhosa” na diplomacia de Israel. As declarações foram feitas no Rio de Janeiro, onde o ministro está para a cúpula de chanceleres do G20.

As falas de autoridades brasileiras já ofuscaram o tema que o Brasil quer destacar no evento desta 4ª feira. Houve pouco espaço na mídia para as declarações do embaixador Mauricio Lyrio, que lidera as negociações do lado brasileiro.

“Tudo isso está gerando uma crise humanitária absurda. Precisamos de uma governança global que evite a ocorrência de conflitos”, disse, tentando adiantar o debate sobre a reforma da governança global.

Fonte: Poder360

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