No dia mais importante da primeira fase das eleições americanas, eleitores de 15 estados diferentes — incluindo gigantes como Califórnia e Texas, além do território da Samoa Americana — vão às urnas escolher, por votação indireta, os candidatos que devem representar os partidos Democrata e Republicano nas eleições de novembro. Conhecida como Super Terça, a data costuma definir a configuração final da corrida pela Casa Branca, que, exceto por um fato novo, promete repetir o embate entre o atual presidente, Joe Biden, e seu antecessor, Donald Trump.
Até o momento, projeções da imprensa americana apontam Trump como vitorioso na Virginia e na Carolina do Norte, dois estados onde sua única opositora com chances reais, Nikki Haley, tinha esperança de algum sucesso. Biden, por outro lado, venceu com tranquilidade o caucus democrata, cuja votação foi realizada por e-mail, em Iowa. O presidente também conquistou a Virginia e a Carolina do Norte, repetindo o feito de 2020, além de Vermont, onde foi derrotado pelo senador Bernie Sanders na última prévia democrata. Segundo a rede NBC, as projeções também apontam vitória de Biden em Oklahoma e Tennessee.
Na Super Terça, mais de um terço dos delegados de cada partido estão em jogo: são 865 do Partido Republicano (35% do total nacional) e 1.420 do Partido Democrata (30%). Os critérios para distribuição, no entanto, variam de acordo com o estado. Em alguns casos, o vencedor leva todos, mas há modelos em que a distribuição leva em conta também a proporção nos distritos eleitorais. Para obter a indicação na Convenção Nacional, o vencedor precisa de pelo menos 50% do total de delegados.
Apesar do peso nas prévias americanas, matematicamente é improvável que qualquer dos candidatos consiga o número mínimo de delegados nesta Super Terça. Trump precisa de 1.215, e atualmente tem 273. Mesmo que leve todos os 854 delegados em disputa, não sairá vencedor nesta noite. O mesmo vale para Biden, que precisa de 1.968 delegados, e atualmente tem 206. Dependendo dos resultados de hoje, é mais provável que decisão fique para 19 de março, quando eleitores de cinco estados vão às urnas.
Em muitos estados, os eleitores também escolhem os representantes dos partidos governos locais, além dos candidatos ao Senado e à Câmara — fator que pode atrasar a contagem final dos votos. Nos Estados Unidos, ao contrário do Brasil, o sistema de votação não é automatizado, e varia de acordo com os estados e até de distrito a distrito.
Neste ano, todos os olhares estão voltados para o duelo no campo republicano. Embora Trump, com 273 delegados, seja franco favorito à indicação — sobretudo após a “grande vitória” na Suprema Corte dos EUA, que o considerou elegível às vésperas da Super Terça —, ele ainda precisa enfrentar um último obstáculo no caminho: Nikki Haley.
A ex-governadora da Carolina do Sul, que renunciou ao cargo para assumir como embaixadora dos EUA na ONU no governo Trump, é a última adversária do ex-presidente que ainda segue na disputa. No domingo, ela venceu sua primeira prévia, em Washington D.C., mas ainda segue muito atrás do ex-presidente, com apenas 43 delegados. Haley aposta em bons resultados em alguns estados nesta Super Terça, principalmente os mais urbanos e com votação aberta a eleitores independentes (em muitos casos, apenas eleitores registrados podem votar nas prévias do seu partido). No entanto, há poucas expectativas de que sua campanha possa sobreviver às próximas duas semanas.
Mesmo com diversas batalhas judiciais em paralelo à campanha, é pouco provável que Trump não chegue às cédulas em novembro. Uma pesquisa de boca de urna realizada pela CNN apontou que mais de 60% dos eleitores republicanos na Carolina do Norte, e cerca de 50% dos republicanos na Virginia, afirmaram que ele estaria apto a ser presidente mesmo se condenado em um dos quatro processos criminais a que responde. A sondagem também mostrou que 40% dos republicanos na Carolina do Norte e 30% na Virgínia se identificam com o chamado “Movimento MAGA”, ou “Façam os EUA Grandes Novamente”, espécie de carro-chefe do discurso trumpista desde 2016. Nos últimos anos, a Virginia é um estado que tem votado com os democratas — a última vitória de um republicano ali foi a de George W. Bush, em 2004. Já a Carolina do Norte desde 2012 vota no Partido Republicano.
Do lado democrata, Biden não enfrenta nenhuma grande concorrência além de si mesmo. O presidente venceu com vantagem todas as prévias anteriores à Super Terça, mas desde semana passada sua campanha tenta conter a mobilização de parte do eleitorado, contrário ao seu apoio à Israel na guerra em Gaza, para que as pessoas não votem ou marquem a opção “sem compromisso” nas cédulas. A alternativa, que indica apoio ao partido, mas não aos candidatos listados, foi escolhida por mais de 100 mil eleitores no Michigan — uma votação surpreendente, que pode ter efeitos nesta noite.
Acompanhe abaixo as votações por estado, na ordem dos resultados disponibilizados primeiro.
No primeiro resultado da noite, Biden venceu o caucus de Iowa, realizado por e-mail, de acordo com projeções da imprensa americana. Há quatro anos, Biden terminou em quarto na disputa, atrás de Pete Buttigieg, Bernie Sanders e Elizabeth Warrren.
Em uma disputa que era considerada simbólica para o ex-presidente Trump, ele venceu a primária na Virginia, de acordo com as projeções da imprensa americana. O estado, que tem votado com os democratas nas últimas eleições e tem republicanos considerados mais moderados, era uma aposta de Nikki Haley, e o sucesso de Trump ali sinaliza que a noite deve ser de boas notícias para sua campanha.
Biden também venceu, segundo as projeções, na Virgínia, repetindo a vitória de 2020 — na época, ele disputava voto a voto com o senador Bernie Sanders.
Em Vermont, outra vitória esperada de Joe Biden — em 2020, Biden foi derrotado por Bernie Sanders, que é natural do estado, mas venceu com facilidade na eleição de novembro contra Donald Trump. Segundo a projeção do New York Times, o resultado final deve trazer Biden mais de 80 pontos percentuais à frente da rival mais próxima, Marianne Williamson.
Trump manteve o favoritismo na Carolina do Norte, outro estado onde os dois pré-candidatos republicanos investiram tempo e recursos para um bom resultado nesta Super Terça. Segundo as projeções, o ex-presidente venceu Nikki Haley, sem sustos.
Biden também repetiu a vitória de 2020 na Carolina do Norte — há quatro anos, também em uma Super Terça, ele disputou voto a voto com Bernie Sanders e com o bilionário Michael Bloomberg, que desistiu da disputa horas depois de uma jornada “decepcionante”, segundo pessoas próximas de sua campanha.
(Em atualização)
Fonte: O Globo