Sequestro em ônibus no Rio de Janeiro tem desfecho sem morte

PMs isolaram a rodoviária para que o Bope pudesse negociar o fim do sequestro. Governador elogiou ação -  (crédito: Pablo Porciúncula/AFP)
PMs isolaram a rodoviária para que o Bope pudesse negociar o fim do sequestro. Governador elogiou ação - (crédito: Pablo Porciúncula/AFP)

Depois de três horas de tensão, terminou sem vítimas o sequestro de um ônibus, com 16 passageiros, na rodoviária Novo Rio, na zona portuária da capital fluminense. Por volta das 15h, Paulo Sérgio de Lima, de 29 anos, tomou o coletivo que seguia para Juiz de Fora (MG) ao desconfiar de um defeito no veículo no qual embarcara — achou que era uma senha para que fosse preso — e tentar esconder a arma que levava. Foi quando Bruno Lima da Costa Soares, de 34 anos, se assustou e foi atingido com três tiros no tórax. Seu estado é grave.

Paulo Sérgio estaria fugindo de uma vingança de traficantes da Rocinha. Em depoimento informal horas depois, ele disse que voltou à favela, onde morava, no domingo, para pagar uma dívida. Em um bar, se desentendeu com outro traficante. Os dois trocaram tiros e, por ter acertado o desafeto, Paulo Sérgio decidiu sair do Rio para não ser perseguido.

O sequestrador cumprira pena depois de ter sido preso por roubar os passageiros de um ônibus da linha 110, quando o coletivo passava pelo túnel Rebouças, em 2019. Paulo Sérgio estava no semiaberto desde 2022 e foi beneficiado pela progressão de regime. Ele admitiu aos policiais que fazia parte do tráfico na Muzema, em Jacarepaguá, zona oeste da cidade.

O sequestrador comprou uma passagem, em dinheiro, para Minas, pelo menos 40 minutos antes de tomar o ônibus da viação Sampaio — conforme registraram as câmeras de segurança. Com os tiros ouvidos dentro do coletivo, os policiais militares foram chamados.

Por volta das 16h30, as equipes do Batalhão de Operações Especiais da PM (Bope) já estavam na rodoviária. Formaram um perímetro em torno do complexo e deram início às negociações para a libertação dos reféns. A tensão, porém, prevalecia: de dentro do ônibus, Paulo Sérgio atirou nos policiais, que não revidaram.

A negociação para a libertação dos reféns prosseguiu e, pouco depois das 17h30, o porta-voz da PM, coronel Marco Andrade, anunciou o fim do sequestro sem vítimas e a prisão de Paulo Sérgio. “O tomador de reféns se entregou. Ele está preso. Todos os reféns foram libertados seguros”, disse.

Por meio de sua conta no X (antigo Twitter), o governador fluminense Cláudio Castro elogiou a atuação das forças de segurança e o desfecho sem vítimas fatais. “Atuação exemplar das forças de Segurança do Rio de Janeiro. O criminoso que sequestrou o ônibus está preso e os reféns libertados. Fiquei em contato direto com o comando das polícias, passando duas determinações: resguardar a vida dos reféns e ser implacável nas negociações”, publicou.

Quem também se manifestou foi o presidente da Embratur, Marcelo Freixo. “Acompanho aliviado o desfecho do sequestro do ônibus no Rio de Janeiro com a libertação dos reféns. Deixo meu agradecimento ao trabalho dos policiais envolvidos nesta ação, e minhas orações pela recuperação de Bruno Lima de Costa Soares, baleado pelo criminoso momentos antes de anunciar o sequestro”, tuitou.

Por meio de vídeo também postado no X, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) — que ainda é considerado o candidato do partido para a disputa da prefeitura da capital fluminense, em outubro — elogiou o trabalho das forças de segurança e o desfecho com a prisão do sequestrador e a libertação dos reféns.

Uma segunda pessoa — cujo nome não foi divulgado — além de Bruno Lima Soares foi atingida por estilhaços de vidro. Mas, depois de ser atendida pelo posto de saúde local, foi liberada devido ao ferimento leve.

Quando o resultado é a tragédia

Ônibus 174 — Em 12 de junho de 2000, por volta das 14h, Sandro Barbosa do Nascimento sobe armado em um ônibus da linha 174, que fazia o trajeto entre o bairro da Gávea e a estação da Central do Brasil, no centro do Rio de Janeiro. Ainda no Jardim Botânico, alguns passageiros percebem que ele estava com um revólver calibre 38 na cintura. Um deles consegue avisar a uma patrulha da Polícia Militar — que intercepta o coletivo. Começava ali aproximadamente cinco horas de pânico, que terminaram com a morte da professora Geísa Firmo Gonçalves. Toda a ação mostrou o despreparo dos então negociadores da PM fluminense pela liberação de 10 reféns. Pouco antes das 19h, Sandro, depois de fazer várias ameaças aos cativos, decide deixar o ônibus com Geisa como escudo. Ao cruzar a porta do coletivo, um policial avança na tentativa de libertar a refém e, possivelmente, matar o sequestrador — e acerta um tiro de raspão em Geisa. A reação de Sandro foi imediata: deu três tiros fatais nas costas da professora. Os policiais caíram sobre o jovem e, depois de dominado, tentaram remover a mulher na tentativa de salvá-la — mas era tarde demais. Sandro, então, foi colocado na traseira de uma viatura, só que, antes de chegar à delegacia, foi asfixiado. Segundo os policiais, ele mordeu um dos PMs e tentou retirar a arma de outro. A morte do sequestrador foi considerada acidental. Os policiais envolvidos no episódio foram julgados e considerados inocentes.

Ponte Rio-Niterói — Na manhã de 20 de agosto de 2019, Willian Augusto da Silva manteve reféns 39 passageiros de um ônibus da viação Galo Branco, na Ponte Rio-Niterói, por aproximadamente três horas. Depois de espalhar um líquido inflamável pelo interior do coletivo, ele ameaçou incendiá-lo com todos dentro. Testemunhas disseram que Willian estava com uma arma — que soube-se depois ser de brinquedo — e uma arma de choque. Agentes do Bope cercaram o ônibus e conseguiram convencê-lo a sair do veículo. Segundo depois, ele foi atingido por seis tiros disparados por atiradores de precisão. Willian, soube-se depois, tinha problemas psiquiátricos — conforme relatou um primo, que acompanhou todo o episódio, o jovem tinha desenvolvido um quadro de depressão profunda. Minutos em seguida à morte do sequestrador, o então governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, desembarcou de um helicóptero, em plena pista da ponte Rio-Niterói, e com os braços erguidos em triunfo comemorou os tiros fatais que tiraram a vida de Willian. À época da campanha, Witzel afirmou que sua política de segurança seria de intolerância com a criminalidade — disse até mesmo que era para “atirar na cabecinha” daqueles que entrassem em confronto com as forças de segurança do estado. Os 39 passageiros foram resgatados sem ferimentos. Willian era morador de São Gonçalo, município do Grande Rio, e ainda segundo seu primo, era filho de uma família “estruturada”.

*Colaborou Vitória Torres, estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi

 

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Fonte: Correio Braziliense

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