Sem destaque

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, fala com o presidente da Câmara, Arthur Lira, com o dedo apontado para ele; ambos são observados pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco
Articulista afirma que muitos casos de interesse público, se não forem enfrentados neste governo, por governo de outra linhagem não o serão, jamais; na imagem, os presidentes Lula da Silva (República), Artur Lira (Câmara) e Rodrigo Pacheco (Congresso)

Os móveis do Palácio da Alvorada. À falta de ouros e pedrarias, o casal destronado não os quis vender nem levar. Exceto, dizem, a cama de seu múltiplo uso, por alguma particularidade técnica do móvel ou dos usuários. Os novos moradores do palácio estão sob ataque por terem suspeitado, em público, de apropriação dos móveis que os antecessores fizeram esconder em lugar incerto na “área da Presidência”. Tudo muito emocionante.

A centralização de compras, pelo Ministério da Saúde, hoje feitas em cada hospital federal, para dificultar aquela velha especialidade brasileira em compras do serviço público, civil e militar, não é admissível. A ministra Nísia Trindade foi posta em leilão. O próprio PT, que se supõe o partido no governo, deprecia a ministra com lances fulminantes. Se vai ou se fica, eis outra questão emocionante.

Fatos com esse calibre agitam o governo e, até que algo como o caso Marielle venha à tona, orientam a comunicação social. À sua volta, mal sobrevivem assuntos como a resistência à recente obrigação de igualdade salarial de mulheres e homens com a mesma função.

E assuntos mais do que polêmicos como o acordo entre governo e bancada evangélica sobre impostos: as igrejas e seus pastores “não deixarão de ser cobrados”, mas vão receber a quantia de volta, com a apresentação de suas despesas.

Os pastores evangélicos cobram das ovelhas 10% de tudo o que recebam. Dizem que é o dízimo da Bíblia. Os que frequentam as igrejas evangélicas são, em evidente maioria, de famílias que precisam contar centavos. Porque nunca recebem concessões equivalentes às dadas a seus pastores. O acordo não é sério, é enganador.

Impostos recebem maior ou nenhum destaque conforme o interesse dos que o noticiam. O silêncio sobre a regulamentação da positiva reforma tributária, aprovada no fim de 2023, é significativo: avança uma articulação para obter na lei reguladora compensações às perdas com a reforma.

Três cabeças elevadas publicaram um artigo de adesão ao manifesto“Por uma reforma tributária saudável: imposto seletivo para produtos ultraprocessados”. Carlos Monteiro, epidemiologista; José Gomes Temporão, sanitarista e pesquisador na Fiocruz, e Monica de Bolle, imunologista, microbiologista, mais conhecida como economista, advertem:

São grandes anunciantes, sim. O consumidor jamais receberá o mesmo tratamento que o industrial e o comerciante. É regra do sistema. Mas imposto diferenciado já está na lei. Que seja formalizado em defesa da saúde e da vida depende só de que não seja um assunto sufocado, abra-se à discussão.

Muitos casos de interesse público, se não forem enfrentados neste governo, por governo de outra linhagem não o serão, jamais. Mas concessões sem compensação verdadeira e garantida criam privilégios, mais discriminação, nada solucionam.

Fonte: Poder360

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