Saudade de Obama versus Romney

Romney e Obama se cumprimentam durante debate presidencial em 2012
Romney e Obama se cumprimentam durante debate presidencial em 2012 — Foto: Damon Winter/The New York Times

Poderia descrever a decadência dos EUA de muitas formas, mas a mais simples seria comparar os dois candidatos nas eleições presidenciais de 2012 com os favoritos para representarem os partidos Democrata e Republicano no ano que vem. As opções 11 anos atrás eram entre o presidente Barack Obama, um dos maiores ícones dos progressistas na História dos EUA, e Mitt Romney, um dos mais íntegros políticos do país. Agora, temos como prováveis candidatos um enfraquecido Joe Biden, envolto em questionamentos sobre sua idade e os escândalos do filho, e um antidemocrático Donald Trump, réu em múltiplas denúncias na Justiça, incluindo conspiração contra os EUA.

Abordo este assunto porque, ontem, Romney anunciou que não disputará a reeleição para o Senado representando o estado de Utah. Será o fim da carreira de um dos raros republicanos que não temem bater de frente com Trump. Nunca abandonou seus valores democráticos. É republicano e conservador, mas de uma linha bem diferente da trumpista.

No seu comunicado sobre a aposentadoria da política, o senador, de 76 anos, disse que terá bem mais de 80 anos no fim de seu próximo mandato, sugerindo que tanto Biden, que estará próximo de completar 82 anos na eleição do ano que vem, como Trump, que terá 78, deveriam também se aposentar para abrir espaço a uma nova geração de líderes.

Um bem-sucedido ex-governador de Massachusetts que, no Senado, votou duas vezes pelo afastamento de Trump do cargo em processos de impeachment, Romney está correto na sua análise sobre a necessidade de renovação na política dos EUA. Os democratas têm bons nomes de uma nova geração para disputar as eleições. Os republicanos idem. Não há necessidade de ficarem reféns de Biden e Trump. O problema de cada partido, no entanto, é distinto.

Nas primárias democratas, não há nenhum candidato sério que tenha decidido enfrentar Biden, apesar da impopularidade do presidente, com aprovação de cerca de 40%, e questionamento da maioria da população sobre sua idade. Existe uma disciplina do partido para evitar uma alternativa ao presidente enquanto ele seguir na disputa. A última vez que um político sério decidiu concorrer em primárias contra um ocupante da Casa Branca foi em 1980, quando o senador Ted Kennedy decidiu disputar as prévias contra o então presidente Jimmy Carter, que acabou derrotado por Ronald Reagan. O ideal seria Biden anunciar que não disputará a Presidência, como sugeriu o colunista do Washington Post David Ignatius, e abrir espaço para as primárias, uma vez que sua vice Kamala Harris também é impopular. Há nomes fortes, como a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, e o governador da Califórnia, Gavin Newsom.

Os republicanos têm primárias com alternativas a Trump. O problema é que o ex-presidente desfruta ainda de enorme popularidade entre os republicanos e vê a eleição como a melhor opção para ficar fora da cadeia. Claro que, para a democracia americana, o ideal seria ele não concorrer. Mas é quase impossível que ele desista. Infelizmente, a tendência deve ser mesmo uma disputa entre o atual presidente contra seu antecessor, repetindo 2020. Saudade dos tempos quando os candidatos eram Obama e Romney, e as pessoas votavam no melhor candidato e não no que consideram o menos pior. Afinal, o principal motivo para alguém votar em Biden parecer ser o fato de o atual presidente não ser Trump.

Fonte: O Globo

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