Saiba quais os crimes cometidos por dupla do PCC morta na prisão após planejar atentado contra Moro

Janeferson (esquerda) e Reginaldo em fotos da Base Informatizada de Fotografias Criminais
Janeferson (esquerda) e Reginaldo em fotos da Base Informatizada de Fotografias Criminais — Foto: Reprodução/JFPR

Os dois integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) mortos na segunda-feira em uma penitenciária do interior de São Paulo respondiam a crimes que poderiam levá-los a cumprir penas de até 38 anos de prisão.

Janeferson Aparecido Mariano Gomes, conhecido como “Nefo”, era acusado de liderar uma célula da facção que planejava sequestrar o hoje senador Sergio Moro (União-PR). Ele era réu na Justiça Federal no Paraná por crimes de extorsão mediante sequestro (com pena de até 20 anos, ou 30 caso resultasse em morte), e integrar organização criminosa (pena de até oito anos).

Já Reginaldo Oliveira de Sousa, o “Rê” ou “Careca”, respondia por organização criminosa, posse ilegal de arma de fogo com numeração suprimida (até seis anos de prisão, mais multa), e posse ilegal de arma de fogo de uso permitido (com pena de até 4 anos de prisão, também com multa).

A dupla foi morta a facadas na tarde de ontem, na Penitenciária Maurício Henrique Guimarães Pereira, a P2, em Presidente Venceslau (SP). Nefo teria sido atacado quando foi levado ao banheiro do presídio, enquanto Rê teve o mesmo fim momentos depois, no pátio da unidade.

De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), três detentos assumiram a autoria e estão isolados, junto a um quarto suspeito que é investigado. A pasta irá pedir a inclusão dos acusados no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) à Justiça, que determinará ou não a internação. O caso é investigado pela Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Presidente Venceslau.

Segundo o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco, afirmou ao portal g1, a principal hipótese é a de que Janeferson e Reginaldo tenham sido mortos a mando dos líderes do PCC, como uma tática de “queima de arquivo”. O promotor já havia dito, em série especial publicada pelo GLOBO na semana passada, que a facção está presente em 85% dos presídios paulistas, e que nenhum integrante é morto sem o consentimento da cúpula do grupo.

Nefo e Rê estavam presos desde março do ano passado, quando foi deflagrada a Operação Sequaz pela Polícia Federal. A dupla teria planejado o sequestro e a posterior execução de Sergio Moro no período das eleições de 2022. Para isso, o PCC gastou quase R$ 3 milhões no plano que envolvia o aluguel de imóveis em Curitiba, onde Moro atuava, e o monitoramento das atividades do ex-juiz e de sua família ao longo de pelo menos seis meses. Além do ex-juiz da Lava-Jato, o próprio promotor Lincoln Gakiya também era alvo de um plano da facção criminosa.

Nefo foi apontado pelos investigadores como o chefe do grupo “restrita”, responsável pelo planejamento e execução do atentado contra Moro. Essa célula da facção é, segundo uma testemunha ouvida pela Polícia Federal, a responsável por ataques a autoridades e a órgãos públicos, bem como a execução de faccionados considerados importantes — os demais são submetidos ao “tribunal do crime”.

Os investigadores destacaram no pedido de prisão de Janeferson que o suspeito desfrutava de bens caros, o que “só ocorre com os integrantes do topo da pirâmide” da facção criminosa.

Foi a partir de mensagens enviadas por Janeferson que os investigadores descobriram o uso dos códigos “Flamengo”, usado para “sequestro”, e “Tokio”, atribuído a Sergio Moro. O criminoso chegou a ir a Curitiba em outubro de 2022.

Ainda segundo os investigadores, o PCC pretendia atacar Moro como um gesto de vingança uma vez que o agora senador assinou, quando era ministro da Justiça, uma portaria que restringiu as visitas a presos em presídios federais.

Reginaldo Oliveira de Sousa, o “Rê”, não foi denunciado por extorsão mediante sequestro, mas integrava o mesmo grupo que Nefo — a PF afirmou à 9ª Vara Federal do Paraná que o investigado exercia comando direto sobre outra pessoa que estava operacionalizando o plano contra Moro.

De acordo com os investigadores, Reginaldo era “conhecido por ações violentas” e já esteve envolvido, em agosto de 2003, em ataques a três soldados da Polícia Militar, em Taboão da Serra (SP), com artefatos explosivos.

O Ministério Público Federal (MPF) escreveu na denúncia que Reginaldo “é integrante da alta cúpula do Primeiro Comando da Capital, tendo diversas responsabilidades na organização, como, por exemplo, a contabilização e controle de integrantes, o controle de armas e munições e o acompanhamento de atividades de disciplina e sancionamento de integrantes”.

Reginaldo participa das sessões de julgamento e punição impostos pelo PCC a outros integrantes da facção e teria ordenado o assassinato de uma faccionada do Ceará em fevereiro do ano passado.

Quando foi preso, em março de 2023, a polícia o encontrou dormindo em um sofá na casa da namorada, em Taboão da Serra. Com ele estava, embaixo de um lençol, uma arma calibre 9mm da marca Beretta. Outra equipe de policiais havia ido momentos antes no endereço de Reginaldo, no Guarujá (SP), onde encontraram também uma pistola semi-automática da marca Taurus, além de um carregador municiado com 15 munições.

Reginaldo era reincidente, uma vez que já havia sido condenado, pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), a cinco anos e quatro meses de prisão por crime de porte de arma de fogo de uso restrito com numeração suprimida.

Fonte: O Globo

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