Rússia critica promessa dos EUA de fornecer munições de urânio empobrecido à Ucrânia; entenda as controversas armas

Tanque M1 Abrams, enviado pelos Estados Unidos para a Guerra da Ucrânia
Tanque M1 Abrams, enviado pelos Estados Unidos para a Guerra da Ucrânia — Foto: Reprodução / Departamento de Defesa dos Estados Unidos

A Rússia criticou nesta quinta-feira a promessa dos Estados Unidos de fornecer à Ucrânia munições de urânio empobrecido, capazes de perfurar blindagens, mas controversas devido aos riscos tóxicos para os militares e a população. O envio das munições com urânio, utilizada por tanques Abrams, foi anunciada pelo Pentágono na quarta-feira.

— [Seu uso no passado] causou um aumento desenfreado [de casos de câncer, portanto] é uma notícia muito ruim — afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, nesta quinta. — A responsabilidade recairá sobre os Estados Unidos.

O anúncio sobre as munições especiais foi feita em Washington no mesmo dia em que o secretário de Estado americano, Antony Blinken, fez uma visita surpresa a Kiev, para anunciar um novo pacote de US$ 1 bilhão (R$ 4,9 bilhões) à Ucrânia. O valor inclui US$ 5,4 milhões (R$ 26,8 milhões) em bens de oligarcas russos, congelados por sanções internacionais. A manobra contábil também foi criticada por Moscou.

— Nós encaramos isso de forma muito negativa — acrescentou Peskov, sublinhando que a Rússia considera qualquer apreensão de bens russos, “sejam públicos ou privados”, como “ilegítima”.

O urânio empobrecido é um produto derivado do processo de enriquecimento do urânio. É cerca de 60% menos radioativo do que o urânio natural.

O urânio é 1,7 vezes mais denso que o chumbo, sendo tão duro que não se deforma quando atinge um alvo. Portanto, o urânio empobrecido é usado em projéteis perfurantes para penetrar em blindagens de veículos e navios.

É um tipo comum de munição, usado por sua capacidade de perfuração, de acordo com o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, que afirma que esses projéteis “não são radioativos” e “não se aproximam de forma alguma” da categoria de armas nucleares. O uso de tais munições não é proibido pelo direito internacional.

Essas munições são usadas por muitos exércitos, incluindo os dos Estados Unidos e da Rússia. Foram utilizadas nas duas Guerras do Golfo, em 1991 e 2003, bem como na antiga Iugoslávia na década de 1990. O Pentágono também reconheceu o uso de projéteis de urânio empobrecido em duas ocasiões em 2015 em operações contra o grupo Estado Islâmico (EI) na Síria.

Meses atrás, o Reino Unido anunciou que forneceria munições de urânio empobrecido à Ucrânia, o que foi criticado por Moscou.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o urânio empobrecido é um “metal pesado, química e radiologicamente contaminante”. Ao atingir seu alvo, os projéteis perfurantes espalham poeira e fragmentos de urânio.

Em termos de saúde, “o principal risco associado ao urânio empobrecido não é a radioatividade, mas sua toxicidade química”. A ingestão ou a inalação de grandes quantidades pode afetar o funcionamento dos rins. Se uma pessoa inalar grandes quantidades de partículas por um longo período, a principal preocupação com a saúde será o aumento do risco de câncer de pulmão, destaca a comissão canadense de segurança nuclear.

As munições de urânio empobrecido foram apontadas como uma possível causa de problemas de saúde em veteranos da Guerra do Golfo ou do alto número de cânceres e malformações congênitas na cidade iraquiana de Fallujah, mas seu papel não foi cientificamente comprovado.

Muitos estudos concluíram que não há evidências do caráter prejudicial do urânio empobrecido, mas esses resultados continuam sendo questionados.

De acordo com estudos cujas conclusões são compartilhadas pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), “os riscos radiológicos para a população e o meio ambiente não são significativos nos casos em que a presença de urânio empobrecido causou contaminação localizada do meio ambiente na forma de pequenas partículas liberadas durante o impacto”, destaca o escritório de assuntos de desarmamento da ONU.

No entanto, “quando fragmentos de munições de urânio empobrecido ou munições completas desse tipo são encontrados, pessoas que entram em contato direto podem sofrer efeitos radiológicos”, conclui as Nações Unidas.

Fonte: O Globo

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