RN registra mais de 200 carteiras de identidade com nome social em quatro anos: ‘Meu espaço na sociedade’, diz estudante

Documentos passaram a ser emitidos no estado em 2018 e em 2021 bateram recorde, com 134 novas identidades. Defensoria Pública do RN faz mutirão nesta quinta, Dia da Visibilidade Trans, para retificar registros civis.

O estudante potiguar Anthony Gabriel, de 26 anos, decidiu, em agosto do ano passado, usufruir do seu direito e registrar o seu nome social na carteira de identidade.

Ele é uma das 288 pessoas trans que fizeram esse registro desde o ano de 2018 no Rio Grande do Norte, quando houve a regulamentação da emissão do documento no estado.

Os dados são do Instituto Técnico-Científico de Perícia (Itep) e contabilizam as carteiras de identidade com nome social até o fim do ano de 2021. O ano passado, inclusive, foi o ano com maior registro: 134 novas identidades (veja a tabela abaixo).

RGs com nome social emitidos pelo Itep

Ano Carteiras
2018 44
2019 62
2020 48
2021 134

A emissão de RGs com nome social tinham a tendência de crescimento desde a implementação, em junho de 2018.

Em 2020, no entanto, a pandemia da Covid reduziu parte do funcionamento dos órgãos públicos, aliado ao fato de muitas pessoas permanecerem em isolamento social.

De acordo com o Itep, apesar do crescimento, a demanda de emissão ainda era “muita baixa” no fim de 2021. O órgão avalia que isso se deu pelo serviço de emissão de carteiras com nome social estar concentrado apenas em Natalaté o fim daquele ano.

No início de 2022, qualquer unidade da Central do Cidadão que faça o RG com sistema biométrico pode realizar esse cadastro.

No estado, atualmente, oferecem esses serviços as Centrais do Cidadão de Mossoró, Caicó, Pau dos Ferros, Natal, Parnamirim, Macaíba e São Gonçalo do Amarante.

‘Meu espaço na sociedade’

O estudante Anthony Gabriel, de 26 anos, fez a carteira de identidade com nome social em agosto do ano passado. Para ele, o registro é representativo.

“Aqui no estado temos a carteira de nome social e, mesmo sabendo que é algo paliativo pra mim, foi muito importante. Pra mim foi como mais uma batalha de ter direito do meu espaço na sociedade”, pontuou.

Ele diz que ainda vai fazer a retificação dos outros documentos, como o registro civil, e está só juntando dinheiro para isso.

Enquanto isso não ocorre, ele diz que a carteira de identidade com nome social já o permite evitar outras situações incômodas.

“Não é algo definitivo, mas se tornou uma aliada na conquista dos meus direitos na sociedade. Até quando eu conseguir retificar o meu registro civil”.

Mutirão para retificação

Nesta quinta-feira (31), a Defensoria Pública do RN dá continuidade a um mutirão de retificação de nome e gênero para pessoas trans.

O mutirão acontece no Núcleo de Primeiro Atendimento Cível de Natal, na Avenida Senador Salgado Filho, 2868B, em Lagoa Nova, Zona Sul da capital. O horário é das 8h às 14h com atendimento por ordem de chegada.

No mutirão, é possível fazer a abertura de ação para garantir a retificação do registro civil para pessoas trans que buscam ajustar em seus documentos oficiais o seu gênero. Durante a ação, a Secretaria Estadual das Mulheres, Juventude, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Semjidh) está realizando orientações ao público sobre violação de direitos.

Nicolas Vinicius, de 21 anos, foi um dos que buscaram o mutirão. “Eu sempre tive esse reconhecimento no trabalho, na faculdade, em casa, com minha família. Mas, em situações em que era preciso apresentar os documentos ficava difícil”, disse.

“A retificação vai mudar a minha vida, eu vou poder me apresentar sem medo, vou de fato agora poder falar sobre mim e saber que serei reconhecido”.

A retificação do registro civil para pessoas trans passou a ser feita 100% de forma extrajudicial desde 2018. “Na teoria, bastaria ir até o cartório, se autoidentificar uma pessoa trans e alterar o nome e o gênero. Mas, o caminho extrajudicial possui a cobrança de taxas cartorárias que nem sempre podem ser arcadas por uma pessoa hipossuficiente”, explicou o defensor público Eduardo Brasil, coordenador do Núcleo da DPE/RN em Parnamirim.

“Além disso, são necessários vários documentos e certidões que nem sempre são fáceis de emitir. É aí que entra em ação a Defensoria Pública, como um caminho para solicitar e requerer a retificação com um menor custo”.

Os documentos necessários são:

  • Certidão de nascimento atualizada
  • certidão de casamento atualizada, se a pessoa for ou tiver sido casada
  • Cópia do RG e CPF
  • cópia de carteira de identidade social, se tiver
  • cópia do passaporte brasileiro, se tiver
  • cópia do título de eleitor
  • comprovante de endereço atualizado
  • comprovante de renda

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