Reino Unido acusa China de realizar ataques cibernéticos contra parlamentares críticos a Pequim

Oliver Dowden faz declaração sobre ataques cibernéticos chineses na Câmara dos Deputados, em Londres
Oliver Dowden faz declaração sobre ataques cibernéticos chineses na Câmara dos Deputados, em Londres — Foto: Captura de tela/ AFP

O governo britânico acusou a China, nesta segunda-feira, de realizar ataques cibernéticos contra parlamentares críticos de Pequim e contra a comissão eleitoral do Reino Unido, anunciando sanções e a convocação do embaixador chinês em Londres. O anúncio foi feito no momento em que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, em Washington, informou que havia acusado sete cidadãos chineses em conexão com um ataque realizado 14 anos atrás.

— Atores afiliados ao Estado chinês foram responsáveis por duas campanhas cibernéticas maliciosas que visavam nossas instituições democráticas e parlamentares — disse o vice-primeiro-ministro, Oliver Dowden, em discurso ao Parlamento.

Os hacks, feitos pelo que Dowden disse serem “agentes afiliados ao Estado chinês”, foram “os mais recentes em um padrão claro de atividade hostil originada na China”. O vice-primeiro-ministro, no entanto, enfatizou que ambos, embora fossem uma “ameaça real e séria”, não foram bem-sucedidos.

— O compromisso não afetou a segurança das eleições. Não afetará a forma como as pessoas se registram, votam ou participam dos processos democráticos — declarou Dowden.

Em agosto, a comissão eleitoral britânica anunciou, sem mencionar a China, que foi vítima de um ataque cibernético por parte de “atores hostis” que tiveram acesso ao seu sistema durante mais de um ano. Segundo a imprensa local, os atores dos ciberataques conseguiram acessar servidores que continham cópias de censos eleitorais com dados de 40 milhões de eleitores.

Dois indivíduos e uma empresa ligados ao grupo APT31, suspeito de orquestrar os ataques, foram alvo de sanções. O embaixador da China em Londres será convocado “para responder pela conduta da China”, disse Dowden aos deputados, enquanto o Ministro das Relações Exteriores, David Cameron, disse que havia levantado a questão com seu colega Wang Yi. O chanceler, que, como primeiro-ministro de 2010 a 2016, pressionou fortemente para estreitar os laços do Reino Unido com a China, chamou as ações de “completamente inaceitáveis”.

Questionado nesta segunda-feira sobre as acusações britânicas, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Lin Jian, disse que “provas objetivas” deveriam ser usadas em vez de “caluniar outros países sem uma base factual”.

Do outro lado do Atlântico, a procuradora-geral adjunta dos EUA, Lisa Monaco, disse que mais de 10 mil e-mails foram enviados como parte de uma “prolífica operação global de hacking” visando empresas, políticos e jornalistas dos EUA e do exterior. O objetivo, acrescentou ela, era “reprimir os críticos do regime chinês, comprometer as instituições governamentais e roubar segredos comerciais”.

Tanto o Reino Unido quanto os Estados Unidos culparam a APT31, que, segundo eles, tem ligações com a inteligência chinesa. Londres e Washington estão realizando eleições governamentais este ano e disseram que reforçaram suas defesas contra tais ataques.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, disse anteriormente que o governo havia “investido significativamente” em capacidades e ferramentas para proteger o país, afirmando que a China representava “uma ameaça econômica à nossa segurança e um desafio que define uma época”.

O deputado conservador Iain Duncan Smith, um dos deputados visados, disse que Pequim deveria ser rotulada como uma ameaça ao Reino Unido.

— O anúncio de hoje deve marcar um momento decisivo em que o Reino Unido defende os valores dos direitos humanos e o sistema internacional baseado em regras do qual todos nós dependemos — disse ele em uma entrevista coletiva em Londres.

Duncan Smith foi um dos vários parlamentares do Reino Unido sancionados pela China em 2021 por causa de suas críticas a supostos abusos de direitos humanos da minoria uigur e de um cerceamento dos direitos em Hong Kong. Ele disse que o Reino Unido tem sido submetido a “assédio, falsificação de identidade e tentativa de hacking” por parte da China há algum tempo.

Nesta segunda-feira, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, rejeitou as alegações, afirmando que Pequim tem sido “resoluta” em restringir e derrubar “todos os tipos de atividades cibernéticas maliciosas”.

— A questão do rastreamento de ataques cibernéticos é altamente complexa e sensível — acrescentou. — Ao investigar e determinar a natureza dos incidentes cibernéticos, deve haver ampla evidência objetiva, em vez de difamar outros países sem base factual, e muito menos politizar as questões de segurança cibernética.

Há vários anos, o Reino Unido vem se desentendendo cada vez mais com Pequim por causa da repressão aos direitos civis e humanos na China e na antiga colônia britânica de Hong Kong. Os laços ficaram ainda mais tensos quando o Reino Unido bloqueou o acesso de empresas chinesas a projetos importantes de infraestrutura britânica, inclusive nas áreas nuclear e de TI.

No ano passado, um pesquisador parlamentar do Reino Unido foi preso sob a Lei de Segredos Oficiais acusado de espionagem para a China. Em 2022, o serviço de inteligência doméstica do Reino Unido, MI5, afirmou que uma agente do governo chinês estava “envolvida em atividades de interferência política em nome do Partido Comunista Chinês, interagindo com membros aqui no Parlamento”.

Em julho, o Comitê de Inteligência e Segurança do Parlamento acusou a China de atacar o Reino Unido de forma “prolífica e agressiva” e reclamou que o governo não tinha os “recursos, experiência ou conhecimento” para lidar com isso.

A China tem negado sistematicamente as acusações de espionagem e outros delitos.

Fonte: O Globo

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