Quem quer café? Pequenos produtores retomam cafeicultura no RN na onda do aumento do interesse pela bebida

Café produzido em fazenda de Jaçanã, no interior do Rio Grande do Norte — Foto: Cedida
Café produzido em fazenda de Jaçanã, no interior do Rio Grande do Norte — Foto: CedidaPlantação de café em Jaçanã, no Rio Grande do Norte — Foto: CedidaProdutor mostra produção de café em propriedade em Jaçanã, RNPai de Gerlane Magalhães, no viveiro montado por ele na década de 1970. — Foto: Arquivo/CedidaMudas de café produzidas em fazenda de Portalegre, RN — Foto: CedidaSeminário realizado em março, pelo Sebrae, sobre a cafeicultura no Rio Grande do Norte — Foto: Cedida

Pequenos produtores do Rio Grande do Norte estão retomando plantações de cafés que estavam paralisadas há décadas, de olho no aumento do interesse do mercado de cafés especiais e gourmets. São filhos e netos de volta à cultura que já foi dos seus antepassados.

O processo recebe incentivo de entidades como o Sebrae, que vem trabalhando no fomento da cafeicultura no estado. Segundo a instituição, pelo menos 16 propriedades potiguares são atendidas e já produzem variedades do grão, em municípios como Jaçanã, Cerro Corá, Portalegre e Martins. Em média, elas contam com dois hectares de café.

Esta sexta-feira (24) é o Dia Nacional do Café, uma das bebidas mais apreciadas pelo brasileiro. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), o consumo nacional em 2023 foi equivalente a 5,12 kg de café torrado por habitante – o maior volume desde o início da série histórica em 1985.

As produções potiguares se concentram principalmente em regiões de clima mais ameno, como as serras. É o caso da fazenda da família de Diogo Castro, que tem uma relação antiga com a bebida. O produtor retomou a plantação de café depois de quase 30 anos.

Na década de 1950, o avô de Diogo, Firmino Gomes de Castro, tinha uma indústria de torrefação de café, aberta primeiro em Natal e depois transferida para Parnamirim, na região metropolitana da capital.

O empresário comprou uma propriedade rural em Jaçanã em 1978 e também passou a plantar café na década de 1980. Mesmo após a morte dele, a produção seguiu até meados da década de 1990.

Porém, com o fechamento da indústria e a dificuldade de escoar a pequena produção, a família abandonou a cafeicultura aos poucos.

“Na divisão da herança, meu pai ficou com essa propriedade. Na verdade, ela estava dando despesa. Eu e minha irmã dizíamos para ele vender. Mas em 2020, com a pandemia, a gente veio se refugiar aqui e havia 2 mil pés de café remanescentes, plantados pelo meu avô. Havia um sonho de retomar a atividade. A gente começou a brincar de produzir café, restaurar a mini torrefação. Então eu olhei para meu pai e disse que queria encarar essa lida”, lembra o produtor.

Atualmente a fazenda conta com 15 mil pés de café, espalhados por 3,5 hectares, e os proprietários querem expandir a plantação para mais dois hectares. A expectativa é que a safra comece no meio do ano, quando a fazenda também vai abrir oficialmente para visitas, aproveitando o interesse turístico relacionado à bebida. A experiência deverá ocorrer das mudas da planta e até a chegada da bebida à xícara.

A família também lançou sua própria marca de café.

Foi após uma visita da equipe do Sebrae que Gerlane Magalhães também passou a sonhar com a retomada da produção realizada pelo seu pai entre a década de 1970 e 1980, no município de Portalegre, no Alto Oeste potiguar.

O patriarca, Paulo de Magalhães Freitas, começou a cultivar café por incentivo de um programa do Instituto Brasileiro do Café – uma autarquia federal extinta. Segundo Gerlane, ele plantou cerca de 10 mil plantas na propriedade, na época.

“Papai aceitou fazer esse experimento, com 10 mil mudas. Era a maior produção da região. Fez viveiro, nós tínhamos cacimbas de água. Ele ia buscar água nos jumentos para aguar as plantas”, lembra a produtora.

Na época, foram plantadas 8 mil mudas a céu aberto e 2 mil mudas embaixo de cajueiros. Os invernos eram regulares e a família teve boas safras durante 10 anos, vendendo o produto em Portalegre e cidades próximas, como Martins e Pau dos Ferros.

“Mas depois houve um período de seca de quase 10 anos, ele não teve mais assistência técnica, e os pés de café foram morrendo”, lembra Gerlane. Apenas algumas plantas das que estavam sob cajueiros resistiram ao tempo e à falta de manejo.

Paulo Magalhães faleceu há cerca de cinco anos e, para Gerlane, a retomada da produção de café une os aspectos afetivos, de memória familiar, e também perspectivas econômicas.

As primeiras mudas foram plantadas em 2022 e, atualmente, a propriedade da família conta com cerca de mil pés de café. A expectativa é chegar a até 12 mil, mas a ampliação ainda depende de investimentos na irrigação.

Gestor do Programa AgroNordeste, do Sebrae no Rio Grande do Norte, Elton Alves explica que, embora não haja um marco com dados sobre a produção de café potiguar, é possível afirmar que o estado teve um auge na cafeicultura na década de 1980, por causa do incentivo federal, mas a cultura acabou esquecida no estado.

Em 2021, ao analisar pesquisas a respeito do interesse das pessoas e o comportamento do mercado em relação ao café, o Sebrae passou a desenvolver um projeto voltado à retomada da produção local. A iniciativa Cafés do RN conta com desenvolvimento de atividades como seminários, oficinas virtuais e presenciais, além de consultorias de especialistas nas propriedades. A instituição também estuda a criação de uma rota do café no estado.

Ainda de acordo com Elton Alves, os custos de produção de um hectare de café podem variar de acordo com a capacidade de investimento e o tipo de manejo que os produtores querem implantar, partindo de R$ 18 mil e chegando a R$ 32 mil, considerando a preparação de solo, aquisição das mudas, adubação, irrigação, entre outros fatores.

De acordo com o gestor, no primeiro ano, um hectare gera entre 10 e 20 sacas de produção, porém, entre o quarto e quinto ano, as plantações alcançam um ritmo produtivo rentável, chegando a um montante entre 40 e 50 sacas por hectare.

“Nosso grande alvo é capacitar o produtor rural que tem interesse na atividade, que quer, de fato, mais do que produzir, entender sobre torra, entender sobre experiência sensorial, que ele reconheça o comportamento do mercado sobre essa cadeia”, diz.

O programa do Sabrae também vem apresentando aos produtores novos tipos de cafés além do Arábica – o mais produzido e consumido no mundo. Elton explica que a fruta pode gerar diferentes sabores de acordo com a tipologia, além das características da terra em que foi plantada e do manejo realizado.

Em celebração ao Dia Nacional do Café, o Sebrae vai realizar degustações guiadas por baristas, nas suas agências regionais, na manhã desta sexta-feira (24). E na segunda-feira (27) haverá um seminário técnico na sede da entidade, voltado para empresas e pessoas físicas interessadas no setor. A inscrição no seminário, no site da instituição, custa R$ 50.

Fonte: G1 RN

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