Queimadas na África agravam onda de calor no Sudeste brasileiro

Imagem de satélite mostra ondas de calor da África para a costa brasileira
Imagem de satélite mostra ondas de calor da África para a costa brasileira — Foto: Lapis/Ufal

A onda de calor que atinge as regiões Sudeste e Centro-Oeste desde o fim de abril está sendo influenciada pelas queimadas ocorridas nos países localizados no centro-sul da África. A enorme massa de ar seco, que causa bloqueio atmosférico, se deslocou da região e atravessou o oceano Atlântico, chegando à costa sudeste do Brasil.

A movimentação da massa de ar seco está sendo acompanhada pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), do Instituto de Ciências Atmosféricas (Icat) da Universidade de Alagoas. Segundo o pesquisador Humberto Barbosa, do Lapis, massas de ar seco alimentam as secas rápidas e a intensidade do calor acompanha a movimentação do sistema de alta pressão, que alterna períodos de maior ou menor aproximação com a costa do Sudeste.

— Pelas imagens do satélite Mteosat-10 podemos ver, de fato, partículas de fumaça vindas de queimadas da África, sendo transportadas para a costa leste do Brasil. A circulação dos ventos nessa época do ano favorece o transporte dessa área de alta pressão em direção à costa leste brasileira — diz o pesquisador.

Barbosa explica que as partículas muito finas, batizadas de aerossóis, influenciam na formação de nuvens e na destruição delas. É um ar seco e poluído que não chega a se apresentar como fumaça, mas provoca poluição do ar. Desde meados de março até essa semana, afirma, essa massa de ar seco segue muito intensa.

O fenômeno tende a ser mais forte, de acordo com o pesquisador, em função do El Niño e do aquecimento global, que mantém o oceano mais quente.

Embora ventos fortes da África em direção ao Brasil atinjam também a Amazônia, levando partículas do solo desertificado do Saara, que fica ao norte do continente africano, as características termodinâmicas e a composição química são diferentes. Segundo Barbosa, a reação à radiação solar dessas partículas maiores não causa o mesmo efeito das queimadas em relação ao Sudeste.

— As queimadas geram efeito diferente. Fazem com que a radiação solar chegue mais intensa na superfície terrestre. Por serem partículas muito finas, elas penetram mais na atmosfera e aquecem mais – diz ele.

Dados de satélite acompanhados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram 6.527 focos de queimadas ativos na África nesta quinta-feira (9 de maio) e 50% deles estão concentrados na República Democrática do Congo, seguido por Zambia e Angola.

De janeiro até o dia 1° de maio a África registrou 379.436 focos de incêndio, um aumento de 35% sobre o número registrado pelos satélites no mesmo período do ano passado.

Queimadas são comuns na África como forma de limpar áreas para a agricultura e muitas são promovidas por pequenas comunidades, que dependem do plantio para sobrevivência. Porém, segundo dados do World Resources Institute (WRI), a perda de florestas segue ritmo acelerado na Bacia do Congo e as taxas de desmatamento chamam atenção na República Democrática do Congo, que abriga mais da metade da floresta da região.

Correntes de ar da África para o Brasil são conhecidas e se repetem anualmente. Segundo cientistas, em geral, podem ajudar na fertilização do solo. Porém, fuligens de queimadas ou de queima de combustíveis têm efeito negativo e geram desequilíbrios ao redor da Terra, o que afeta o clima e a saúde das pessoas. Na Amazônia, chegam principalmente partículas provenientes do deserto do Saara.

Um estudo da pesquisadora Bruna Holanda, do Instituto de Física da USP e do Instituto de Química Max Planck de Mainz, na Alemanha, publicado no ano passado, mostrou que, embora haja períodos em que a Amazônia recebe nutrientes, o volume de fuligem que chega do continente africano representa 30% da poluição no bioma na estação seca, a 60% na chuvosa. maior problema, no entanto, continua sendo as queimadas da própria floresta em território brasileiro, que gera 70% da poluição total.

Recordes de calor em SP coincidem com tragédias no RS

Maio costuma ser o mês mais frio do outono (março a maio) na região Sudeste. Porém, o interior de São Paulo tem batido recordes de temperatura. A estação meteorológica da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/ USP), em Piracicaba, registrou no último sábado temperatura máxima de 32ºC, a maior desde maio de 1941, quanto a máxima foi de 33,7ºC. A medição é feita desde 1917.

— Há uma coincidência: a última cheia recorde no Rio Grande do Sul ocorreu justamente em 1941, quando registramos aqui em São Paulo o que se tornou agora a segunda maior temperatura máxima. Temos agora um recorde de calor aqui e um desastre enorme provocado pela chuva lá — observa Fábio Marin, professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Esalq/USP.

Marin lembra que é justamente o sistema de alta pressão no Sudeste que impede o avanço de frentes frias e provoca chuva no Sul do país.

Segundo dados da meteorologista Estael Sias, da MetSul Meteorologia, a cidade de São Paulo registra em maio temperatura mínima média mensal de 14,7ºC. A média máxima, com base na estação do Mirante de Santana, é de 23,4ºC.

Nos últimos dias, porém, os termômetros têm passado de 30ºC. O Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) mantém a capital paulista em estado de atenção em função da onda de calor desde o dia 26 de abril.

Os dados do CGE mostram ainda que a capital paulista completa hoje 21 dias sem registro de chuvas significativas.

Fonte: O Globo

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