Putin fala sobre criação de ‘arquitetura de segurança fiável’ para a região Ásia-Pacífico durante visita ao Vietnã

Putin participa de cerimônia no Memorial aos Soldados Caídos em Hanói
Putin participa de cerimônia no Memorial aos Soldados Caídos em Hanói — Foto: Kristina Kormilitsyna/AFP

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, desembarcou em Hanói, no Vietnã, nesta quinta-feira, um dia após assinar um acordo com a Coreia do Norte, em Pyongyang, na esperança de reforçar parcerias regionais enquanto trava a guerra de desgaste com a Ucrânia. Para Hanói, a viagem de Putin é uma oportunidade de solidificar laços com a Rússia, seu mais importante parceiro de defesa — embora tenha melhorado as relações com os EUA e a China, recentemente.

Seguindo o típico roteiro das visitas de Estado no país, crianças vietnamitas – agitando bandeiras do Vietnã e da Rússia – alinharam-se nas ruas de Hanói enquanto o comboio de Putin passava. Ele foi recebido pelo presidente recém-empossado, To Lam, que lhe deu um abraço. Mais tarde, Putin recebeu uma saudação de 21 tiros na Cidadela Imperial de Thang Long, um importante local histórico no centro da capital. Uma banda militar tocou os hinos nacionais dos dois países.

— A Rússia atribui grande importância ao fortalecimento das relações com o Vietnã — disse Putin presidente russo após uma reunião bilateral com o seu homólogo vietnamita, To Lam. — Manifestamos interesse mútuo na criação de uma arquitetura de segurança fiável e adequada na Ásia-Pacífico que se baseie nos princípios do não recurso à força, na resolução pacífica de litígios e onde não haja espaço para blocos político-militares fechados.

Hanói e Moscou anunciaram a assinatura de dezenas de acordos nas áreas de justiça, da educação e da energia nuclear civil. De acordo com To Lam, o Vietnã espera “impulsionar a cooperação em defesa e segurança”.

Putin ainda tem uma agenda prevista com o secretário-geral do Partido Comunista do Vietnã, Nguyen Phu Trong, considerado a personalidade mais influente do regime. O líder de 80 anos realizou parte de seus estudos na União Soviética, na década de 1980.

Esta é a quinta visita de Putin ao Vietnã e segue-se às viagens do presidente dos EUA, Joe Biden, e do presidente da China, Xi Jinping, ao país, no ano passado, que procuraram garantias de Hanói de que não estava do lado do outro.

Hanói, por sua vez, tenta manter uma distância segura e relações abertas com as duas principais potências globais, e agora a Rússia, seguindo os preceitos flexíveis da sua chamada “diplomacia do bambu” que combina prudência e pragmatismo. A recepção a Putin, alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), irritou parceiros ocidentais.

Washington repreendeu Hanói por ter convidado o líder russo, dizendo: “Nenhum país deveria dar a Putin uma plataforma para promover a sua guerra de agressão e permitir-lhe normalizar as suas atrocidades”.

Em 1950, a União Soviética foi um dos primeiros países a dar reconhecimento diplomático ao que era então a República Democrática do Vietnã, ou Vietnã do Norte. Por décadas, Moscou tornou-se o maior doador do Vietnã, fornecendo ajuda militar quando Hanói travava as suas guerras contra a França e os Estados Unidos.

A relação de defesa sustentou muitos laços entre os dois países, que ao longo dos anos também partilharam a ideologia comunista.

O equipamento russo representa cerca de 60% a 70% do arsenal de defesa do Vietnã, segundo Nguyen The Phuong, que estuda assuntos militares do país na Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália. A Rússia forneceu ao Vietnã sistemas de mísseis de defesa costeira, seis submarinos da classe Kilo, aviões de combate e muitas outras armas.

Quase todos os navios de guerra do Vietnã vêm da Rússia, segundo Phuong. Os tanques T-90, que foram a última grande compra de armas russas pelo país, em 2016, constituem a espinha dorsal de suas forças blindadas, acrescentou.

A imposição de sanções ocidentais a Moscou aumentou as preocupações em Hanói sobre a fiabilidade da Rússia como fornecedor, e tornou cada vez mais limitado o espaço de negociação com a Rússia enquanto se relaciona com o Ocidente.

Muitos dos líderes do país também estão atentos ao campo de batalha na Ucrânia – imagens mostraram os tanques T-90 sendo destruídos por drones. Estão também cientes do aprofundamento do relacionamento da Rússia com a China, que consideram uma ameaça devido a uma disputa territorial de longa data no Mar do Sul da China.

Nos últimos meses, Hanói recorreu a países como a Coreia do Sul, o Japão e a República Checa como fontes alternativas de armas. Também tentou construir a sua própria indústria de defesa. Recorreu à Índia, outro antigo aliado soviético, para modernizar algumas das suas armas.

Os EUA têm oferecido ativamente mais armas ao país, com altos funcionários viajando para a Ásia nos últimos meses. Mas analistas dizem que os altos escalões da liderança da defesa do Vietnã continuam a suspeitar de Washington. Eles estão relutantes em vincular o seu destino a um país onde as vendas de armas têm de ser aprovadas por um Congresso que poderia vincular o acordo a preocupações com direitos humanos. (Com AFP e NYT)

Fonte: O Globo

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