Protestos e greve de fome: venezuelanos no exterior dizem que são impedidos de realizar registro para votar nas eleições

Venezuelanos na Argentina protestam em frente à embaixada da Venezuela em Buenos Aires e pedem que registro eleitoral seja habilitado para que possam votar nas eleições de julho.
Venezuelanos na Argentina protestam em frente à embaixada da Venezuela em Buenos Aires e pedem que registro eleitoral seja habilitado para que possam votar nas eleições de julho. — Foto: Luis Robayo / AFP

De protestos diários em Buenos Aires a uma greve de fome em Madri, venezuelanos de todo o mundo estão reclamando que seus consulados estão impedindo que eles façam o registro para votar na eleição presidencial, na qual a continuidade de Nicolás Maduro está em jogo. Funcionários diplomáticos dizem aos manifestantes que não receberam as máquinas para coletar impressões digitais ou optam por ignorá-los.

A cena se repete nos consulados da América Latina e da Europa, onde eleitores e ativistas denunciam manobras para impedir que cerca de 5,2 milhões de pessoas, muitas delas opositoras, votem nas eleições presidenciais, marcadas para 28 de julho.

Jesús Delgado, da ONG Transparência Eleitoral, que monitora os processos eleitorais na América Latina, acredita que esses obstáculos são “sistemáticos e correspondem ao fato de que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) não enviou nenhuma diretriz” aos consulados. As autoridades da Venezuela atribuem os atrasos e as dificuldades no envio das máquinas às sanções internacionais, de acordo com a imprensa.

As Nações Unidas estimam que quase oito milhões de venezuelanos tenham migrado de seu país desde 2014. A maioria está fugindo de uma crise sem precedentes, com uma queda de 80% no PIB, hiperinflação, escassez de alimentos e medicamentos e imensa agitação política. A rejeição ao governo de Maduro é generalizada no exterior.

Cerca de 5,2 milhões devem atualizar seu registro no estrangeiro ou se registrar para votar pela primeira vez, de acordo com a ONG Súmate. A lista eleitoral foi atualizada pela última vez em 2018 e tem apenas 107 mil venezuelanos registrados em todo o mundo.

Desse total, cerca de 40 mil estão registrados nos Estados Unidos, onde não poderão votar desta vez, uma vez que os consulados não estão funcionando desde 2019 devido ao rompimento das relações diplomáticas.

A eleição coloca o presidente Nicolás Maduro, que está buscando um terceiro mandato de seis anos, contra Manuel Rosales, governador do estado petrolífero de Zulia (na fronteira com a Colômbia) e que concorreu a presidência em 2006 conta o falecido ex-presidente Hugo Chávez.

Também conseguiu se registrar o ex-embaixador Edmundo González Urrutia, considerado um “candidato de fachada” que poderia ser substituído por outra pessoa indicada pela opositora María Corina Machado, impedida de participar da eleição por uma desqualificação de 15 anos.

O período de registro de eleitores vai de 18 de março a 16 de abril. Na Colômbia, que abriga o maior número de venezuelanos (2,8 milhões, dos quais cerca de 1,2 milhão estão aptos a votar), o registro foi aberto com vários dias de atraso, apenas na terça-feira.

No entanto, os ativistas temem que o consulado não considere como residência legal o Status de Proteção Temporária, concedido pelo governo colombiano a milhares de venezuelanos para que pudessem trabalhar e ter acesso à assistência médica.

— Isso gera muita preocupação — disse o líder da oposição Eduardo Battistini, porque impede que 80 a 90% da população potencialmente votante se registre. — Além de uma violação flagrante do nosso direito de registro no exterior, essas são desculpas ridículas.

Embora na comunidade venezuelana em Bogotá também haja decepção com a política e uma certa indiferença com relação às eleições.

— A verdade é que não pretendo votar. Estou muito desligada da política, nos últimos dez anos me sinto tão decepcionada que não a acompanho — disse Carolina Peña, uma produtora de moda de 37 anos que votou pela última vez em 2013, quando Maduro sucedeu o falecido Hugo Chávez, à AFP.

Em contraste, em Buenos Aires houve protestos quase diários do lado de fora da embaixada. Na segunda-feira, cerca de 30 manifestantes simularam a votação em uma urna. “Votar no exterior é um direito”, dizia uma das faixas.

— Cada consulado tem seus requisitos e eles os comunicam verbalmente. Não há nada oficial. Alguns pedem residência permanente, outros pedem um passaporte válido. Não há um critério uniforme — lamentou Adriana Flores, do lado de fora do consulado em Buenos Aires.

Há cerca de 220 mil venezuelanos na Argentina, dos quais cerca de 150 mil estão aptos a votar. No entanto, apenas 2.200 estão no registro eleitoral, de acordo com os cálculos dos ativistas.

Enquanto isso, em Madri, Lorena Lima, de 28 anos, disse que fez greve de fome da última sexta-feira até terça para exigir que o registro fosse aberto.

— Foi um método de pressão para que todos os venezuelanos ao redor do mundo pudessem se registrar — explicou à AFP, sentada em um pedaço de papelão na calçada, um dia antes de encerrar seu protesto.

Em Quito, Luis Magallanes fez o mesmo:

— Greve de fome para que possamos exercer nosso direito legítimo de nos registrar e atualizar nossos dados no registro eleitoral.

As autoridades venezuelanas não responderam aos pedidos de comentário da AFP.

Fonte: O Globo

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