Professora com Síndrome de Down rebate crítica atribuída a desembargadora do Rio de Janeiro

Da Tribuna do Norte – A professora Débora Seabra, de 36 anos, primeira educadora com síndrome de Down do Brasil, se pronunciou em carta nesta segunda-feira (19) sobre uma suposta postagem da desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), Marília Castro Neves, em um grupo no Facebook, onde questionava a capacidade da docente de ensinar.

Na postagem realizada em um grupo privado e exclusivo de magistrados, a desembargadora afirmou que estava ouvindo a Voz do Brasil na rádio quando o fato do Brasil ser o primeiro em algo lhe chamou atenção. “Apuro os ouvidos e ouço a pérola: o Brasil é o primeiro país a ter uma professora portadora de síndrome de down!!! Poxa, pensei, legal, são os programas de inclusão social… Aí me perguntei: o que será que essa professora ensina a quem?”, escreveu.

Como resposta, a educadora postou em suas redes sociais uma carta feita à mão afirmando não querer ‘bater boca’ com Marília. “Só quero dizer que tenho síndrome de Down e sou professora auxiliar de crianças de uma escola de Natal/RN (…) Eu ensino muitas coisas às crianças. A principal é que elas sejam educadas, tenham respeito às outras. Aceitem as diferenças de cada uma. Ajudem a quem precisa mais”, disse.

Débora Seabra trabalha há 13 anos como professora assistente em um colégio particular e tradicional da capital potiguar, a Escola Doméstica, e é autora de livro infantil chamado “Débora Conta Histórias” (Alfaguara Brasil, 2013). Por sua experiência como educadora, já recebeu convites para realizar palestras em várias partes do Brasil e fora dele, como na Argentina e em Portugal. Em 2015, por ser considerada exemplo no desenvolvimento de ações educativas recebeu o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação, em Brasília.

A reportagem da Tribuna do Norte entrou em contato com o gabinete da desembargadora no TJRJ sobre a postagem, sua equipe informou estar ciente do assunto, mas afirmou que não teria como se pronunciar já que a desembargadora estava ausente no momento. Marília Castro é a mesma desembargadora que afirmou em suas redes sociais na sexta-feira (16) que a vereadora Marielle Franco (PSOL), de 38 anos, executada com quatro tiros na cabeça no Rio de Janeiro “estava engajada com bandidos”.

Após as mensagens, a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down publicou uma nota de repúdio ao que considerou ser uma demonstração de preconceito manifestado pela desembargadora Marília Castro Neves em relação às pessoas com síndrome de Down e declarou que estuda entrar com uma representação no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

“A FBASD considera que mensagem [da desembargadora] carregada de preconceito, ofende, definitivamente, os ditames impostos aos juízes por seu Código de Ética. Textos dessa natureza claramente denigrem a magistratura e, assim, devem ser rigorosamente apurados pelos órgãos competentes, tais quais a Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e o Conselho Nacional de Justiça”, afirma.

Sobre a outra postagem realizada por Marília Castro, referente a vereadora Marielle Franco, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) anunciou que vai entrar com uma representação no CNJ contra a desembargadora. Em nota, o PSOL afirmou que o texto está sendo elaborado e deverá ser protocolado ainda esta semana.

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