Prioridade da viagem aos EUA foi restabelecer relações democráticas, diz Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a prioridade da sua viagem aos Estados Unidos foi restabelecer as relações democráticas, e não definir a entrada e a contribuição dos americanos no Fundo Amazônia. A fala ocorreu em uma entrevista dada ao ‘Jornal Nacional’, da ‘TV Globo’, ainda quando o presidente estava em Washington, capital dos EUA, e veiculada neste sábado. Lula encontrou-se na última sexta-feira com o presidente americano, Joe Biden.

“Eu, quando vim para os EUA, eu não vim na ideia de que nós iríamos fazer um grande acordo, porque nós não viemos para fazer um grande acordo [sobre o Fundo Amazônia]. Nós viemos para reestabelecer relações democráticas entre Brasil e Estados Unidos. Afinal de contas, nós somos os dois países mais importantes do continente, norte-americano, da América Latina e da América do Sul. E nós não poderemos deixar de conversar”, afirmou Lula.

O presidente brasileiro disse também que não foi aos EUA para “discutir a ajuda de 50, de 100, de 200, de 10 milhões de dólares [para o Fundo Amazônia]”. “O que nós queremos é compartilhar com o mundo a possibilidade de, primeiro, pesquisar e estudar profundamente a riqueza da nossa biodiversidade e compartilhar com eles. Aí, sim, ajuda para as pesquisas e para que a gente possa transformar isso num ganho econômico para o povo que mora na região, que são praticamente 25 milhões de pessoas”, acrescentou.

Outro ponto discutido entre os líderes foi a proteção da democracia e o crescimento da extrema-direita. “O que eu acho que tem que ficar claro é que nós precisamos combater cada vez com muita habilidade, com muita coragem, a extrema direita fascista que está surgindo no mundo”, disse.

Lula ainda afirmou que combinou com Biden que os dois países vão trabalhar “muito fortemente na democracia” e ao mesmo tempo no estreitamento da relação entre os dois países, que “estava um pouco truncada”. “Há quatro anos que o Brasil não fazia contato com os Estados Unidos. E os Estados Unidos faziam poucos contatos com o Brasil. Ou seja, é impensável que duas maiores economias possam ficar tanto tempo sem conversar sobre acordo econômico, sobre acordo comercial, sobre política, sobre transição energética, sobre transição ecológica”, disse.

Ex-sindicalista, Lula ainda afirmou que, por Biden ter sido o presidente que “mais tem vínculo com o movimento dos trabalhadores” nos EUA, deu uma “liga” na conversa entre os dois chefes de estado.

O presidente brasileiro disse também que convidou Biden para visitar o Brasil, embora não saiba quando ele virá. Segundo Lula, seria importante que o americano conhecesse o “potencial industrial brasileiro, o potencial energético brasileiro”. “E depois seria importante conhecer um pouco a Amazônia para ele ver do quê que nós estamos falando, quando estamos falando de preservar a Amazônia de verdade, de preservar o Pantanal, de preservar o nosso bioma”, disse.

Em um dado momento da entrevista, Lula foi perguntado sobre a relação do Brasil com a China, que vive atualmente uma espécie de “guerra fria” com os EUA. O presidente brasileiro disse que os dois países são os grandes parceiros comerciais do Brasil e indicou que quer aumentar a exportação de produtos manufaturados para os dois parceiros.

Ainda na política externa, Lula afirmou também que quer ter uma “belíssima relação com a União Europeia”. “A Europa tem que compreender que a Europa, junto com a América do Sul, a gente pode formar um bloco ainda muito mais forte para negociar com as duas potências, que inegavelmente são duas potências que estão muito distantes do restante dos países”, disse.

Lula voltou a falar que sobre a possibilidade de paz na guerra entre Rússia e Ucrânia, salientando o papel de um grupo de países para as discussões sobre um acordo. “Eu acho que nós precisamos construir um grupo de países que comece a se organizar pela paz, ou seja, criar uma espécie de G20 pela paz. Nós criamos o G20 quando houve a crise econômica. Portanto, nós precisamos criar um outro instrumento político de países que não estão participando de nenhuma atividade nesta guerra e conversar com eles [Rússia e Ucrânia]”.

O brasileiro afirmou ainda que discutiu com Biden o assunto. “Eu acho que ele [Biden] tem clareza de duas coisas: primeiro que a guerra tem que parar, ela já foi longe demais. Segundo, é que as pessoas precisam reconhecer as suas falhas e seus acertos”.

Perguntado se o Biden teria conversado sobre a possibilidade de um assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, Lula foi evasivo. Disse, contudo, que o Conselho de Segurança da ONU “é de uma geopolítica de 45”.

Do Valor Econômico

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