Potiguares optam por vida no exterior; veja motivações

Melhoria da qualidade de vida, oportunidades profissionais e novas experiências. É o que buscam os potiguares que resolveram deixar o Rio Grande do Norte com destino a outros países. A procura por uma nova vida longe do estado potiguar cresceu no ano passado, influenciada pela instabilidade econômica do país e pelo cenário político polarizado do Brasil, de acordo com especialistas da área que conversaram com a reportagem.

O número de apostilamentos de documentos para utilização no exterior cresceu 60% no segundo semestre de 2021 em comparação com o mesmo período do ano anterior: passaram de 3.792 nos últimos seis meses de 2020 para 5.130 na segunda metade do ano passado. Ao todo, desde de junho de 2020 até dezembro passado foram emitidas 12.812 certificações, média de 674 a cada mês. O apostilamento é uma autenticação que garante a procedência e autenticidade de um documento público nacional para ser aceito e válido no exterior. Ele é aceito nos 126 países signatários da Convenção de Apostila da Haia.

Os dados são da Associação dos Notórios e Registradores do Estado do Rio Grande do Norte (Anoreg/RN), entidade que congrega os cartórios do Estado, locais onde os apostilamentos passaram a ser feitos a partir de junho de 2020. De acordo com o vice-presidente da Anoreg, Airene Paiva, os apostilamentos não representam, necessariamente, uma ida definitiva para fora do país, mas é considerada uma forte evidência. “Significa que essa pessoa vai usar esse documento fora do país, para curso, para moradia, para requerer cidadania e outras opções. Emprego também”, diz Paiva.

“Hoje todo procedimento é feito em qualquer cartório brasileiro, com rapidez e celeridade. Aqui no RN vemos um aumento na procura desses serviços, desde 2020, que retrata uma busca por oportunidades fora do nosso país, não necessariamente, por moradia. Há ainda aumento no apostilamento de documentos que atestam linhagem familiar, que servem para embasar pedidos de cidadania estrangeira, principalmente a portuguesa”, explica Airene, que também é titular do 2º Ofício de Notas de Parnamirim.

A pátria colonizadora do Brasil é considerada a principal porta de entrada dos brasileiros para a União Europeia. É o caso da caicoense Cledivânia Pereira, que, aos 47 anos, largou o emprego de jornalista em Natal rumo a Lisboa, capital de Portugal. Ela foi aprovada no doutorado em Ciências da Comunicação do Instituto Universitário de Lisboa em julho de 2020 e desembarcou no novo país três meses depois. “Eu não tinha muito esse planejamento e eu tinha chegado numa fase da minha vida em que ou eu fazia alguma diferente ou eu ia ficar muito velha para isso depois”, conta.

Cledivânia afirma ainda que a ideia de morar em outro país surgiu a partir de uma combinação de fatores pessoais e profissionais. O idioma também pesou na escolha. “Eu queria fazer algo diferente. Tinha terminado o mestrado e pensei em aliar essa decisão ao estudo. Como eu não sou fluente em inglês, tinha que ser para um país onde eu pudesse me comunicar bem e continuar estudando. Fiz inscrições para doutoramentos e logo no primeiro eu fui aceita. Além disso, saí do Brasil na hora certa porque depois as fronteiras foram fechadas”, lembra a jornalista, que deixou o RN entre o fim da primeira onda e o início do recrudescimento da pandemia de covid-19.

Com cerca de 276 mil emigrantes, Portugal tem a segunda maior comunidade brasileira no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, que tem aproximadamente 1,77 milhão de brasileiros, segundo informações estimadas da Secretaria de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania do Ministério das Relações Exteriores, referentes ao ano de 2020. Ao todo, 4,21 milhões de brasileiros estão espalhados pelo mundo, sendo a maioria concentrada na América do Norte (46,06%) e Europa (30,85%).

A TN solicitou o número de potiguares que moram fora do país junto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ministério do Trabalho e Previdência, Ministério das Relações Exteriores e Polícia Federal, mas os órgãos informaram que não há divisão dos dados por estados.

“O Ministério das Relações Exteriores não dispõe de dados desagregados por unidade federativa de origem dos brasileiros residentes no exterior. O levantamento dos números da comunidade brasileira expatriada, tem como um de seus principais objetivos o de subsidiar o aprimoramento dos serviços consulares, possibilitando a adequação de medidas administrativas, a exemplo da organização de postos e da lotação de servidores. Não se trata, propriamente, de estudo sobre movimentos migratórios”, disse o Itamaraty em nota.

Com uma história de 15 anos morando fora do país, o natalense Gabriel Veiga faz parte da grande comunidade brasileira nos Estados Unidos da América. Hoje com 37 anos, o potiguar teve o primeiro contato com os EUA aos 16 anos, quando fez um intercâmbio de um ano na cidade de Jacksonville. Depois, ele voltou para Natal e após um ano, retornou novamente para terras estadunidenses com 18 anos, desta vez de forma definitiva para o estado da Geórgia, onde foi contemplado com uma bolsa para praticar tênis. Ele passou oito anos fora, voltou ao Brasil para trabalhar por 5 anos em São Paulo e fez as malas de novo para os EUA, onde mora há 7 anos.

“Inicialmente, a razão foi poder continuar treinando e jogando tênis enquanto fazia faculdade. Depois que fiz faculdade aqui, vi que mesmo se voltasse para o Brasil, não voltaria mais para Natal. E foi o que aconteceu. A razão do segundo retorno foi a minha mulher, que é americana, juntamente ao trabalho. Sou casado com Ashley e temos dois filhos maravilhosos: Leonardo que vai fazer 4 anos e Cecilia que vai fazer 2. Nós moramos em Charlotte, que fica localizado no estado da Carolina do Norte”, conta Veiga, que é diretor de Preço e Gerenciamento da Daimler Truck.

 

Tribuna do Norte

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