Portugal pode guinar à direita após oito anos de governo socialista; entenda

Luis Montenegro, líder do partido Aliança Democrática (AD), chega para um comício de campanha na Alameda, em Lisboa
Luis Montenegro, líder do partido Aliança Democrática (AD), chega para um comício de campanha na Alameda, em Lisboa — Foto: PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP

Portugal, que neste domingo iniciou oficialmente a campanha para as eleições legislativas de 10 de março, poderá dar uma guinada à direita após oito anos de governo socialista marcado por denúncias de tráfico de influência. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa dissolveu o Parlamento em janeiro e confirmou a convocação de eleições antecipadas após a renúncia, em novembro, do primeiro-ministro António Costa.

— A questão da corrupção neste momento na Europa favorece a direita radical — diz o cientista político Antonio Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS).

Vários países da UE, incluindo Itália, Eslováquia, Hungria e Finlândia, são governados por coalizões com um partido de extrema direita em suas fileiras. A Holanda pode se juntar a essa lista após a vitória de Geert Wilders nas eleições legislativas de novembro.

Em Portugal, que em abril celebrará os 50 anos da Revolução dos Cravos e o fim da ditadura fascista, a extrema-direita demorou mais do que em outros países para perturbar o cenário político, mas a teoria de uma exceção lusitana foi descartada.

O país está atolado em uma crise política desde o início de novembro, depois de uma série de detenções que levaram à acusação formal do chefe de Gabinete de Costa e do seu ministro das Infraestruturas, em um caso de tráfico de influências.

Neste contexto, o jovem partido Chega — fundado em 2019 por um ex-comentarista de futebol que se tornou carrasco das elites político-econômicas — alcançou entre 15% e 20% das intenções de voto. Nas eleições legislativas de janeiro de 2022, essa formação anti-imigração — mas não antieuropeia — já havia conseguido obter 7,2% dos votos e doze deputados em um Parlamento de 230 assentos.

Seu presidente, André Ventura, espera agora desafiar a hegemonia do Partido Social Democrata (PSD, centro-direita) dentro da direita portuguesa, que, como um todo, deverá ser majoritária.

Liderado por Luis Montenegro, o principal partido de oposição ainda está melhor posicionado do que o Chega nas pesquisas, onde aparece com pontuações próximas a 30% e uma leve vantagem sobre o Partido Socialista (PS).

Às vésperas das eleições, as principais questões são se a centro-direita liderará as pesquisas e até que ponto dependerá do apoio de Chega para governar.

Montenegro, que está concorrendo em nome da Aliança Democrática (AD), formada por dois pequenos partidos conservadores, já rejeitou qualquer acordo com a extrema direita, esperando formar uma maioria estável com a ajuda da Iniciativa Liberal (IL).

O sucessor do primeiro-ministro António Costa como líder dos socialistas, Pedro Nuno Santos, já planejou não se opor à formação de um governo minoritário de centro-direita. No poder desde o final de 2015, Antonio Costa obteve uma vitória histórica nas eleições legislativas de janeiro de 2022, mas sua primeira maioria absoluta se mostrou muito instável.

Apesar de um balanço marcado pela consolidação das finanças públicas e por uma relativa saúde econômica, seu Executivo sucumbiu a uma série de escândalos e demissões. O golpe de misericórdia foi dado por uma investigação por tráfico de influência contra um de seus ministros e seu próprio chefe de Gabinete, que tinha 75,8 mil euros (mais de R$ 400 mil) em dinheiro escondidos nas prateleiras de seu escritório.

O próprio Costa, acusado pela promotoria, renunciou no início de novembro e disse que não concorreria a um novo mandato.

Fonte: O Globo

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