Polônia prende dois suspeitos de ataque com martelo contra número 2 de principal opositor de Putin morto

Leonid Volkov foi chefe de gabinete de Alexei Navalny, opositor russo morto em fevereiro
Leonid Volkov foi chefe de gabinete de Alexei Navalny, opositor russo morto em fevereiro — Foto: Petras Malukas/AFP

As autoridades da Polônia prenderam dois homens suspeitos de atacar um aliado próximo do falecido líder da oposição russa Alexei Navalny em Vilnius, em março último, disse o presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, nesta sexta-feira.

— Duas pessoas suspeitas de terem atacado o líder da oposição russa, Leonid Volkov, estão detidas na Polônia — disse Nauseda aos jornalistas.

Leonid Volkov, número dois de Navalny — morto no mês passado em circunstâncias ainda pouco claras —, foi atacado do lado de fora de sua casa na Lituânia. Volkov, de 43 anos, disse que seu braço foi quebrado e sua perna foi atingida ao menos 15 vezes com um martelo. Na ocasião, o opositor russo afirmou que o caso ocorreu por motivação política, e que esta era “uma abordagem óbvia e típica do [presidente russo, Vladimir] Putin”.

A inteligência da Lituânia disse na época que suspeitava do envolvimento dos serviços especiais da Rússia. Nauseda não revelou as identidades dos acusados, mas disse que seriam expulsos para a Lituânia. Ele acrescentou que agradeceu ao presidente da Polônia, Andrzej Duda, pelo trabalho do seu país no caso.

“Ainda não conheço os detalhes [das detenções], mas posso dizer que vi a energia e a perseverança com que a polícia da Lituânia trabalhou neste caso e estou muito feliz que este trabalho tenha valido a pena”, reagiu Volkov, pelo Telegram.

O anúncio da detenção dos suspeitos vem um dia depois de procuradores poloneses e ucranianos afirmarem terem detido um homem na Polônia suspeito de planejar um ataque contra presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

Ainda em março, a polícia da Lituânia iniciou uma investigação sobre o ataque, que ocorreu quando o ativista Leonid Volkov, chegava em casa em Vilnius, capital do país. Outro membro da equipe de Navalny, Ivan Zhdanov publicou nas redes sociais fotos de Volkov com a perna ensanguentada e hematomas na cabeça.

A mulher de Volkov, que também faz parte da equipe de Navalny, disse que seu marido retornou para casa do hospital com o braço quebrado. Ela também afirmou que ele não conseguia andar por causa dos golpes de martelo em sua perna.

Em publicação no X (antigo Twitter), Anna Biryukova escreveu que “escolher entre correr em direção ao marido que foi atacado ou não deixar as crianças dormindo sozinhas é repugnante”, e que voltará a trabalhar “ainda mais e com ainda mais raiva”.

Uma das figuras mais proeminentes da oposição russa, Volkov vive fora do país há cinco anos, decisão que tomou por sua própria segurança. Ele serviu como chefe de gabinete de Navalny até o mês passado, quando o ativista morreu repentinamente na prisão. Condenado por “extremismo”, Navalny cumpria uma sentença de 19 anos e estava detido em uma colônia penal no Ártico. Volkov também enfrenta acusações na Rússia.

Em vídeo publicado nas redes sociais ao voltar para casa, Volkov afirmou que o agressor havia usado um martelo de carne e “literalmente queria me transformar em milanesa”. Ele prometeu que o caso não o faria interromper seu ativismo político e pediu aos eleitores russos que se unissem a um protesto pacífico no próximo domingo, último dia de votação nas eleições presidenciais do país, nas quais nenhum candidato da oposição recebeu permissão para concorrer.

Horas antes do ataque, Volkov disse à agência Reuters que ele e outros exilados temiam por suas vidas. Ele indicou que os líderes da organização de Navalny sabiam que estavam enfrentando “altos riscos individuais” porque “Putin não mata apenas pessoas dentro da Rússia”. Ele ressaltou que os opositores viviam “tempos sombrios”.

Muitos dos ativistas saíram do país em 2021, após toda a organização política de Navalny ter sido rotulada como “extremista” e classificada como proibida. Vários ex-membros da equipe do opositor foram presos, assim como alguns de seus advogados. Também em entrevista à Reuters, Volkov disse que a morte do líder na prisão inspirou os apoiadores do ativista a garantir que o sacrifício dele “não fosse em vão”.

— A morte de Alexei foi uma perda devastadora e é uma ferida aberta em nossos corações, mas é claro que também gerou muita energia, muito impulso político — disse. — É nossa tarefa e responsabilidade converter essa energia em ações políticas significativas que enfraqueçam Putin.

Porta-voz da polícia lituana, Ramunas Matonis confirmou à AFP que um cidadão russo foi atacado em frente à sua casa em Vilnius por volta das 22h no horário local (17h em Brasília). Em nota, o Departamento de Segurança do Estado afirmou que o caso “provavelmente” foi uma operação “organizada e implementada pela Rússia”.

A Lituânia, membro da Otan, abriga muitos exilados russos e tem apoiado firmemente a Ucrânia durante a invasão da Rússia. O presidente do país, Gitanas Nauseda, declarou em março que o ataque a Volkov foi “claramente premeditado”. Já o chanceler do país, Gabrielius Landsbergis, escreveu que “as notícias sobre a agressão a Leonid são chocantes”. No X, ele ressaltou que as autoridades competentes “estão trabalhando” e que “os autores terão que responder pelo crime”.

— Posso dizer apenas uma coisa a Putin. Ninguém tem medo de você aqui — disse o presidente, na ocasião.

Fonte: O Globo

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