Polícia investiga mortes de animais que teriam sido deixados para trás em subsolo de pet shop durante enchente no RS

ONG, polícia e Corpo de Bombeiros tiveram acesso parcial a loja onde animais teriam morrido durante enchente em Porto Alegre
ONG, polícia e Corpo de Bombeiros tiveram acesso parcial a loja onde animais teriam morrido durante enchente em Porto Alegre — Foto: ONG Princípio Animal

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul investiga as mortes de animais que teriam sido deixados para trás por funcionários de uma rede de pet shops durante o início da enchente na capital Porto Alegre. A situação teria acontecido na filial da loja Cobasi no Shopping Praia de Belas, e foi denunciada pela ONG gaúcha Princípio Animal. Eles afirmam que os pets poderiam ter sido salvos se os profissionais tivessem os transportado do subsolo do comércio para o mezanino, parte mais alta e que não foi atingida pela água. O inquérito apura crime de maus tratos.

Nesta segunda-feira, a delegada Samieh Saleh, da Delegacia do Meio Ambiente, ouviu depoimentos de três profissionais da loja envolvidos no episódio. Ainda no domingo (19), a ONG denunciante conseguiu uma liminar da Justiça — após pedido de coleta antecipada de provas — para acessar a loja e foi até o local acompanhada da polícia e do Corpo de Bombeiros. O acesso à parte submersa não foi permitido pelos militares por questões de segurança, já que a água ainda atinge altura de 1,80m lá.

— Ontem (domingo, 19) nós acompanhamos a entrada dos bombeiros, da brigada militar e do pessoal do shopping na loja e já identificamos algumas pessoas. Eu questionei a gerente sobre a quantidade de animais, espécies, mas ela disse que não tinha conhecimento e que o sistema estava debaixo d’água. Mas estamos buscando localizar esse inventário de animais — conta a delegada. — O que temos certeza é de que nenhum animal foi retirado de lá, e isso pode configurar crime de maus tratos, caso seja comprovado que houve dolo, ou seja, conduta deliberada, vontade de ter deixado os animais lá. Estamos ouvindo todo mundo para identificarmos se houve alguma ordem ou decisão.

A ONG Princípio Animal acrescenta que, na visita, foi possível constatar que a parte mais alta da loja estava intacta e, portanto, poderia ter servido de abrigo aos animais.

— Nós queríamos entrar no local para sabermos se ainda havia algum animal vivo. A própria Cobasi emitiu a nota dizendo que estavam mortos, mas nós tínhamos esperança — conta o diretor da ONG, Fernando Schell Pereira, que esteve no local. — A loja fica no subsolo do shopping, mas tem um segundo andar, um mezanino. Os bombeiros não deixaram a gente descer à parte mais baixa, porque não tinha viabilidade, a água estava muito alta, mas foi constatado que nenhum animal sobreviveu. E o que nos revoltou ainda mais foi ver que a parte de cima estava intacta: local onde eles exibiam produtos e rações. Ou seja, os funcionários, o responsável, tiveram todo o tempo do mundo para colocar esses animais em segurança, mas eles permaneceram lá embaixo em suas gaiolas.

Procurada pela reportagem, a Cobasi disse em nota em que lamenta a morte dos animais na loja. Segundo eles, os pets que estavam na parte baixa da loja e acabaram morrendo eram aves e roedores.

“A loja Cobasi Praia de Belas teve de ser deixada de forma emergencial, seguindo as orientações das autoridades locais. Foi garantido que os animais estivessem seguros e com o necessário para a sobrevivência até o retorno dos colaboradores, o que considerávamos ser breve. Mas a tragédia foi sem precedentes e, apesar das tentativas constantes da empresa nos últimos dias, não foi possível o acesso seguro à loja devido ao nível da água. É com pesar que a Cobasi comunica a perda das vidas dos animais que estavam no local. A empresa seguirá atuando com as ONGs de proteção animal, da região e de todo o país, para salvar as vidas que pudermos, enquanto lamentamos aquelas que não pudemos salvar”, diz a empresa.

“Estamos sensibilizados com o que aconteceu na Loja Praia de Belas. A Cobasi está apurando as denúncias, e sentimos muito pelas perdas dos roedores e aves da nossa loja. E é com essa sensibilidade que a Cobasi segue ajudando o estado do RS sem medir esforços”, acrescenta.

A ONG Princípio Animal afirma que já pediu à Justiça para que a empresa seja obrigada a apresentar documentação que comprove quantos e quais animais haviam exatamente no local.

— Não temos nem como estimar quantos animais estavam ali. E esse é um dos nossos pedidos na Ação Civil Pública. Requeremos que a empresa nos diga quantos animais, as espécies, apresente laudo veterinário, responsável técnico etc. — afirma a advogada da ONG, Cícera de Fátima Silva.

A delegada Samieh Saleh explica ainda que, dependendo de quais animais morreram no local, a pena pode variar.

— Houve uma alteração recente que diz que a pena do crime de maus tratos, que é de 3 meses a 1 ano, passa a ser de 2 a 5 anos de reclusão, permitindo inclusive flagrante, quando cometido contra cão e gato. No caso dessa loja, a princípio, eram pássaros, roedores e peixes, então, tende a se enquadrar no primeiro caso. Mas nós vamos investigar.

Fonte: O Globo

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