Polícia do Rio Grande do Sul registrou seis suspeitas de estupros em abrigos, 38 prisões por saques e investiga 27 casos de estelionato

Imagem de Porto Alegre (RS) alagada
Imagem de Porto Alegre (RS) alagada — Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul prendeu seis homens suspeitos de estupros cometidos em abrigos em meio ao desastre causado pelas chuvas no estado. Os casos ocorreram na capital, Porto Alegre, em Canoas e em Viamão. Os policiais também prenderam 38 pessoas por saques em municípios atingidos por enchentes e investigam 27 casos de estelionato, de pessoas pedindo doação para afetados pelas chuvas.

Cinco ocorrências de estupro foram registradas em Porto Alegre e Canoas. O outro caso foi em Viamão, em uma chácara que servia de abrigo não oficial, no qual uma criança de seis anos foi abusada por um homem de 24 anos. O secretário da Segurança Pública do estado, Sandro Caron, explicou que os outros cinco registros de crime sexual envolveram suspeitos que eram integrantes das famílias das vítimas.

– Eram pessoas da própria família e eram situações que já vinham ocorrendo nas casas. Temos segurança nos abrigos e isso foi identificado. Já houve a prisão de todos – afirmou.

Não há no momento presença permanente de policiais nos abrigos – alguns chegam a ter 6 mil pessoas abrigadas. Para suprir esta demanda, o governo busca policiais militares (chamada de Brigada Militar no estado) da reserva para que voltem ao trabalho para atuar especificamente no policiamento dos abrigos. O prazo para inscrição dos interessados vai até sexta-feira e no sábado o efetivo já vai receber os equipamentos.

Em relação aos saques, o secretário explicou que a maioria ocorreu nos primeiros três dias de enchentes, quando a população das regiões mais afetadas estava sendo retirada e quando a prioridade do poder público era salvar vidas. A partir do quarto dia em diante, o secretário afirmou que foram direcionadas equipes da Polícia Civil e da Brigada Militar para reprimir saques de comércios e roubos a residência.

– A primeira crise foi em Arroio do Meio. Quando começou, a gente tinha uma situação ali que a cidade estava cercada por água, a polícia não conseguia enviar o reforço para viatura e, por isso, deixamos uma aeronave lá que estancou a situação. Nos outros dias, os saques ocorreram em Porto Alegre, em Canoas e em Eldorado do Sul, em bairros específicos, não é algo generalizado. São saques em áreas alagadas, reforçamos com policiamento em embarcações – explicou Caron.

O secretário pontuou que a polícia também está fazendo a segurança de voluntários que estão atuando fazendo os resgates. De acordo com ele, nos primeiros dias houve notícia de pessoas armadas em Porto Alegre e Canoas que estariam tentando intimidar voluntários para tomar embarcações.

– É muito difícil, porque em condições normais um boletim de ocorrência seria registrado, a polícia seria acionada. Mas muitos não têm nem telefone. Por isso, colocamos a inteligência de segurança pública monitorando em redes sociais e buscando mensagens que estejam circulando relativas a atividades criminosas – explicou.

A Polícia Civil também investiga 27 casos de estelionato de pessoas que estão pedindo doações alegando que os recursos serão direcionados para a população atingida pelo desastre.

– Alguns estelionatários estão tentando se aproveitar desse momento dizendo que é doação para o estado e para ajudar pessoas que foram desabrigadas, mas estão criando chave PIX que manda o dinheiro para conta bancária deles. Tem gente tentando se aproveitar da boa vontade das pessoas – ressaltou Caron.

O Instituto Survivor e o Me Too Brasil afirmaram que já receberam dezenas de denúncias de violência sexual contra crianças, adolescentes e mulheres em abrigos no Rio Grande do Sul. A advogada criminalista Izabella Borges, que está à frente do Instituto Survivor junto com a atriz e ativista Duda Reis, relata que parte desses abusos ocorreu nos banheiros, durante a noite, ou em situações de grande aglomeração nos abrigos.

— Abrimos um canal de escuta especializada de vítimas de violência sexual, pois desde ontem estamos recebendo dezenas de denúncias. A situação é gravíssima. As vítimas temem por suas vidas e informam que não estão denunciando nos canais oficiais pois, apesar de haver policiamento nos abrigos, não está tendo interferência da polícia nos casos — disse.

Além dos abusos contra crianças e adolescentes, há relatos de mulheres vítimas de violência doméstica que estão sendo obrigadas a conviver com seus agressores no mesmo ambiente. Um dos casos citados pelas duas organizações envolve uma mulher que possuía medida protetiva contra o ex-marido.

Fonte: O Globo

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