PF caça ladrões de livros raros avaliados em R$ 4 milhões em Londres, NY e Buenos Aires

Pesquisadora apresenta um dos livros roubados em 2008 do acervo do Museu Emílio Goeldi, em Belém (PA)
Pesquisadora apresenta um dos livros roubados em 2008 do acervo do Museu Emílio Goeldi, em Belém (PA) — Foto: Divulgação

A Polícia Federal (PF) avança na investigação de um roubo milionário de livros raros ocorrido no Museu Emílio Goeldi, em Belém, em dezembro de 2008. Na ocasião, 60 obras literárias dos séculos XVII, XVIII e XIX — avaliadas em torno de R$ 4 milhões — sumiram da noite para o dia da biblioteca da instituição. Três servidores acabaram sendo indiciados por peculato culposo — falta de cuidado adequado — mas o inquérito foi arquivado por falta de provas.

O mistério sobre a autoria do crime começou a ser desvendado quando a PF resolveu reabrir o caso em 2023 e passou a trocar informações com polícias internacionais, como a Scotland Yard, em Londres, e a Polícia Federal Argentina.

Dos 60 livros, a PF conseguiu recuperar três em 2014, 2023 e 2024. Os volumes estavam sendo comercializados em Nova York, Buenos Aires e Londres, respectivamente. Nesta semana, também houve uma devolução voluntária ao museu.

Com o auxílio de novas ferramentas de perícia e da cooperação internacional, os investigadores agora trilham o caminho inverso para descobrir os autores do roubo nunca solucionado. Ou seja, ir atrás dos receptadores e intermediários que lucraram com a venda das obras.

— O nosso objetivo é identificar o intermediador que fez a obra chegar na Europa. São esses intermediários e receptadores que viajam o mundo negociando e buscando esses bens, tanto no mercado legal como ilegal. É um segmento muito restrito. Pouquíssimas pessoas atuam com isso. Há indícios de que pelo menos um estrangeiro esteja envolvido — detalhou o delegado Diego Dantas.

Esse estrangeiro poderia ter visitado o Pará em dezembro de 2008, quando houve o roubo. Um grupo de pesquisadores havia visitado a biblioteca do museu um dia antes, e a polícia suspeita que um deles passou as informações à quadrilha.

A instituição estava prestes a receber uma sala cofre e um novo sistema de monitoramento, mas os bandidos agiram antes, deixando poucos rastros. O que se sabe até agora é que os ladrões tinham conhecimento do valor histórico dos livros e adotaram métodos para “lavar” o produto do roubo. Os carimbos do museu Emílio Goeldi, por exemplo, foram apagados das páginas por meio de lavagem química. Mas os peritos da PF conseguiram detectar as marcas “lavadas”.

O último livro repatriado foi o “De India utriusque re naturali et medica”(“Da Índia, tanto naturais quanto medicinais”), datado de 1658 e escrito por Guilherme Piso, um médico e naturalista holandês que participou de uma expedição ao Brasil patrocinada pelo conde Maurício de Nassau. Ele foi um dos primeiros autores a escrever sobre a história natural brasileira. A obra estava nas mãos de um colecionador em Londres até março de 2024, quando foi recuperado.

Em dezembro de 2023, o livro “Reise in Chile und auf dem Amazonstrome”(“Viagem no Chile, Peru e no Rio Amazonas”), do naturalista alemão Eduard Friedrich Poeppig, foi recuperado. A edição, de 1836, traz descrições detalhadas sobre a flora, fauna, geografia e cultura desses locais na época. A obra foi interceptada na aduana da Argentina.

Outro livro, encontrado em 2014, é o “Rerum Medicarum Novae Hispaniae” (“Assuntos Médicos da Nova Espanha”), de 1628, escrito pelo médico e botânico espanhol Francisco Hernandez. A obra traz registros da flora mexicana durante uma expedição encomendada pelo rei Filipe II em 1570.

No dia 23 — por coincidência, o Dia do Livro — o museu recuperou a obra “Delectus Florae et Faunae Brasiliensis” (“Uma seleção da flora e fauna brasileira”), que havia sido comprada em um leilão pelo Itaú Cultural. Ao ser informada da procedência, a instituição fez uma cerimônia para a devolução. A PF estima valor de R$ 100 mil a R$ 200 mil para cada uma das obras.

Fonte: O Globo

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