‘Parece um tiro’: biólogo relata 12 horas de dor intensa após picada de formiga-bala, em Mato Grosso do Sul

Formiga-bala
Formiga-bala — Foto: manimiranda

Conhecida por habitar as regiões mais úmidas e tropicais da América Central e do Sul, com maior distribuição pelo Brasil, Bolívia e Peru, bem como Costa Rica e Honduras, a Formiga-bala (Paraponera clavata) é famosa pelo potencial de dor que proporciona após uma picada. Durante uma expedição de pesquisa pela UFMS, no Mato Grosso do Sul, o biólogo Paulo Robson de Souza, de 62 anos, tirava fotos de um formigueiro da espécie quando foi atingido pelos insetos em três lugares.

“Levei três ferroadas aqui no Cerradinho da UFMS, enquanto pesquisava a formiga. Eu precisei me ajoelhar para fotografar o ninho delas e havia uma entrada [do ninho] na proximidade da minha perna. Fui ferroado na ponta de um dedo da mão, no antebraço direito e em uma das coxas”, contou o biólogo ao Midiamax.

Por ser um lugar sensível e repleto de terminações nervosas que auxiliam o ser humano no tato, Paulo lembrou que a ponta do dedo foi também o local com a maior concentração de dor. Além disso, a sensação se assemelhava a um pulsar; há inclusive quem compare a picada do inseto com um tiro.

“No meu caso, durou 12 horas. Foi uma dor terrível. É uma dor que fica pulsando, eu acho que tem a ver com batimento cardíaco. Tem hora que eu sinto muito e daqui a pouco começo a sentir fortemente”, explicou Paulo ao Midiamax.

Em relato ao NatGeo, um entomologista a comparou a sensação da picada com a de “andar sobre carvão em brasa com um prego de 5 centímetros cravado no calcanhar”. No tupi-guarani, a formiga-bala é chamada de tocandera, tocandira, ou tocanquibira, palavra que significa ‘aquela que fere profundamente’.

Há um padrão científico que determina uma amostragem de dor provocada por ferimentos com insetos no mundo, a Escala de Schmidt, que vai de 0 (sem dor) até 4 (mais dolorosa), conforme o desenvolvido pelo americano Justin O. Schmidt. Nesse padrão, a formiga-bala registra uma ‘pontuação’ de 4+, ou seja, maior do que a própria comparação com a picada mais forte entre os insetos.

A dor ocorre devido a uma neurotoxina produzida pela formiga, que possui ações paralisantes, além de dor local extrema, retenção de líquidos, edemas, expulsão de sangue com as fezes humanas, e elevação da frequência cardíaca.

A tocandira é a mesma formiga usada pela etnia Sateré-Mawé, no Amazonas, em um ritual que marca a passagem da adolescência para a vida adulta dos homens. O rito é marcado pela introdução de formigas-bala em uma luva que será usada pelo garoto para adquirir resistência à dor.

“Eles [os indígenas] coletam dezenas de formigas, colocam dentro de uma bolsa feita de palha e o adolescente enfia a mão. Nesse caso, eu acredito que a dor deva durar 24 horas porque são muitas formigas”, explicou Paulo ao portal.

Fonte: O Globo

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