Papa Francisco fala de amores da juventude e relembra ditadura argentina em autobiografia

Papa Francisco fala durante sua audiência geral na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 13 de março de 2024
Papa Francisco fala durante sua audiência geral na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 13 de março de 2024 — Foto: Andreas Solaro / AFP

O Papa Francisco afirmou que, apesar de seu estado de saúde, não tem motivos para renunciar. A declaração foi feita em uma autobiografia que será lançada na próxima terça-feira pela editora HarperCollins. No livro, chamado “Vida: Minha história na História”, o Pontífice também relembra seus primeiros amores e a ditadura na Argentina, e faz um relato político e pessoal de seus 87 anos de vida.

Afligido por vários problemas de saúde, o papa afirma que não tem “motivos sérios” para renunciar, e que decisão é uma “hipótese distante”, justificada somente em caso de um “grave impedimento físico”. Apesar de ter passado por uma cirurgia abdominal em 2023 e ter sofrido várias bronquites nos últimos meses, o jesuíta mantém um ritmo frenético em Roma e planeja realizar uma viagem à Ásia este ano.

Embora muitos detalhes da vida de Jorge Mario Bergoglio já fossem conhecidos, as 350 páginas de seu livro, escritas sob a forma de uma conversa com um jornalista italiano, trazem novos detalhes sobre sua vida pessoal. O primeiro papa sul-americano fala sobre sua “namorada” de quando era adolescente e conta de um “pequeno deslize” que teve quando, ainda seminarista, ficou “deslumbrado” por uma garota, que o deixou “encantado por ser bonita e inteligente”.

“Durante uma semana, tive sua imagem sempre em minha mente. Foi difícil rezar! Depois, felizmente, isso passou e me dediquei de corpo e alma à minha vocação”, relatou no livro, que teve trechos divulgados nesta quinta-feira pelo jornal italiano Corriere della Sera.

O livro também aborda os anos de ditadura militar argentina (1976-1983) e as acusações feitas contra ele sobre seu papel naquela época. Antes de ser papa, Bergoglio ocupava posições de liderança na Argentina, de modo que foi acusado de não fazer o suficiente para proteger os membros da ordem jesuíta e outros opositores políticos durante a ditadura. Dois missionários jesuítas, Orlando Yorio e Francisco Julics, foram sequestrados, presos e torturados pelo governo militar em 1976.

“As acusações contra mim continuaram até recentemente”, lamentou o ex-arcebispo de Buenos Aires, que foi por muitos anos apontado como cúmplice da ditadura e negligente. “Mas, no final, não encontraram provas porque eu estava limpo”, assegurou.

Além disso, um capítulo inteiro do livro é dedicado ao futebol, uma das paixões do papa, e ao Maradona na Copa do Mundo de 1986.

Três meses depois de ter causado polêmica ao autorizar a bênção de casais homossexuais, Francisco minimizou as acusações de que está “destruindo o papado” reformando a Igreja. Ele afirmou que sempre há “aqueles que tentam fazer a reforma e aqueles que gostariam de permanecer imóveis na época do Papa-Rei”. Em tom de brincadeira, ele também disse que, se tivesse que “seguir tudo o que as pessoas dizem”, teria que “consultar um psicólogo uma vez por semana”.

Fonte: O Globo

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