Pandemia aumentará desigualdade em hora muito infeliz para Brasil, diz historiador

O historiador austríaco Walter Scheidel, 53, produziu um marco ao publicar, em 2017, o best-seller “The Great Leveler”, que agora chega ao Brasil como “Violência e a História da Desigualdade – Da Idade da Pedra ao Século 21”. Ele deu uma entrevista exclusiva a Folha de S. Paulo e preveu tempos ruins para o Brasil.

Como o sr. vê as perspectivas do Brasil? O sr. já mencionou no passado que o país fazia um trabalho interessante no governo Lula, com programas voltados aos mais pobres. Agora, temos um governo supostamente liberal e uma pandemia.

O momento para o Brasil e para a América Latina é muito infeliz. A primeira década deste século foi muito positiva, e não apenas para o Brasil. Houve um boom econômico, mudanças políticas que levaram a uma maior distribuição de renda e políticas para a educação. Muitas coisas juntas ocorreram no momento de um boom de demanda da China por commodities. Isso ajudou a reduzir as desigualdades, mas os problemas começaram a aparecer cedo na década atual, e a tendência de equalização social parou repentinamente. A partir daí houve uma mudança política radical que não chega a surpreender se levarmos em conta o quão profundamente arraigado está o conservadorismo nessas sociedades. Isso talvez fosse até inevitável. E tudo talvez fique ainda pior com a crise em andamento agora.

Eu ficaria bastante pessimista em relação às perspectivas de o Brasil conseguir retomar uma trajetória de diminuição de suas desigualdades como o fez há 10 ou 15 anos. A não ser que, como disse, as coisas fiquem tão ruins que a pressão para mudanças seja muito grande. E apenas se livrar do atual governo talvez não seja o suficiente. Teria de haver um descontentamento muito grande entre os pobres e mesmo na classe média para que algo assim pudesse ocorrer.

 

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