Palestinos no norte de Gaza sobrevivem com só 245 calorias por dia, e EUA pressionam Israel por situação humanitária

Homem caminha em área devastada da Cidade de Gaza, próxima ao Hospital al-Shifa
Homem caminha em área devastada da Cidade de Gaza, próxima ao Hospital al-Shifa — Foto: AFP

Após Israel anunciar a reabertura temporária de um posto destinado ao aumento dos envios de ajuda humanitária na Faixa de Gaza nesta quinta-feira, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, advertiu que Washington espera ver os “resultados concretos” da medida. O aumento da pressão por entrega de suprimentos no enclave ocorre ao mesmo tempo em que civis vivenciam um cenário catastrófico: segundo a organização de caridade Oxfam, palestinos no norte de Gaza estão sendo forçados a sobreviver com 245 calorias por dia, o que equivale a menos de 12% da ingestão média necessária.

Ainda de acordo com o levantamento, mais de 300 mil pessoas estão presas no território, e Israel tenta impedir que a agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) entregue ajuda humanitária à região. O governo israelense argumenta que a UNRWA é tendenciosa contra Israel e influenciada pelo grupo terrorista Hamas, o que a agência nega. Em janeiro, Tel Aviv acusou 12 dos 13 mil funcionários do órgão de participarem dos ataques de 7 de outubro. Na ocasião, várias nações doadoras suspenderam o financiamento, embora algumas tenham voltado atrás dias depois.

A Oxfam também descobriu que as entregas totais de alimentos permitidas em Gaza para toda a população de 2,2 milhões de pessoas equivalem a uma média de 41% das calorias diárias necessárias, sendo que menos da metade dos caminhões de alimentos para atingir as calorias está entrando no enclave. Com base em dados da Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC) e da UNRWA, a análise concluiu que são necessários, todos os dias, um mínimo absoluto de 221 caminhões de alimentos. Hoje, em média apenas 105 veículos com essas doações entram diariamente na Faixa de Gaza.

— São avanços positivos, mas o verdadeiro teste são os resultados, e é isso que esperamos ver nos próximos dias e semanas — disse Blinken nesta sexta-feira sobre o anúncio de abertura do posto, ressaltando que os EUA observam “atentamente” se a ajuda humanitária chegará de forma eficaz às famílias necessitadas, e se os colaboradores poderão entregar esses suprimentos com segurança.

Nesta quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou por telefone com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e ameaçou condicionar o apoio futuro a Israel à forma como o país aborda suas preocupações sobre as mortes de civis e a crise humanitária em Gaza, tentando, pela primeira vez, usar a ajuda americana para influenciar a condução da guerra contra o Hamas. Todos os anos, os EUA enviam cerca de US$ 3,3 bilhões (R$ 16,6 bilhões) a Israel, especialmente na forma de equipamentos e serviços militares.

Após a conversa entre os dois líderes, um comunicado emitido pelo governo israelense informou que foi determinada a reabertura temporária do posto de fronteira de Erez, que dá acesso ao norte de Gaza. O local estava fechado desde 7 de outubro, quando o Hamas lançou ataques sem precedentes contra Israel, deixando mais de 1,1 mil mortos e sequestrando cerca de 250 pessoas. Não foi determinado o volume de caminhões que terão permissão para passar, tampouco como será feito o controle de cargas, ou por quanto tempo o posto ficará aberto.

O telefonema ocorreu dias depois da morte de sete trabalhadores humanitários da organização World Central Kitchen (WCK), atingidos por três foguetes israelenses disparados de um drone em Gaza. Netanyahu afirmou que o caso foi um “erro grave”, e ouviu de Biden a cobrança para que Israel “anuncie e implemente uma série de medidas específicas, concretas e mensuráveis para lidar com os danos aos civis, o sofrimento humanitário e a segurança dos trabalhadores humanitários”.

Nesta sexta-feira, o chefe da diplomacia americana afirmou ser “essencial” a ocorrência de uma “investigação independente, abrangente e amplamente divulgada” sobre o assassinato dos trabalhadores da WCK, organização fundada pelo chef espanhol José Andrés. Blinken disse, em reunião com funcionários da União Europeia em Bruxelas, esperar ver “uma prestação de contas que abra caminho para responsabilização” e pontuou que Israel deveria tornar esse processo “uma prioridade”. (Com AFP e New York Times)

Fonte: O Globo

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