Otan anuncia Mark Rutte, premier da Holanda, como novo secretário-geral da aliança

O premier da Holanda, Mark Rutte, foi confirmado como novo secretário-geral da Otan
O premier da Holanda, Mark Rutte, foi confirmado como novo secretário-geral da Otan — Foto: Denis Balibouse/AFP

O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, foi anunciado nesta quarta-feira como novo secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O experiente político, com reputação de conciliador e de defesa da Ucrânia, assumirá o cargo em 1º de outubro, em substituição ao atual líder da aliança, Jens Stoltenberg.

Rutte, de 57 anos, era o favorito do presidente americano, Joe Biden, para assumir o cargo. Ele recusou um pedido do democrata para se lançar ao cargo ao menos uma vez antes, forçando a aliança a prolongar o mandato de Stoltenberg por mais um ano. O holandês serviu quatro vezes como premier, totalizando quase 14 anos no poder — tempo em que construiu coalizões complexas, uma habilidade que pode ser importante em um grupo que funciona por consenso.

O líder holandês também era o favorito dos maiores países da Otan, mas alguns países travavam a unanimidade. Ele conquistou o cargo de secretário-geral na semana passada, quando concordou em cumprir um compromisso elaborado entre Stoltenberg e o primeiro-ministro Viktor Orban, da Hungria, próximo ao presidente russo, Vladimir Putin. O acordo indica que nenhum funcionário húngaro será enviado para missões da aliança em apoio à Ucrânia, e que nenhuma verba liberada pelo país será usado para apoiá-las.

A Eslováquia, outro país de governo eurocético, também concordou em apoiar Rutte, e o obstáculo final foi eliminado quando o presidente da Romênia, Klaus Iohannis, abandonou a própria candidatura.

Rutte assumirá o grupo em um momento difícil, diante da guerra da Rússia contra a Ucrânia e no meio de uma corrida acirrada pela Presidência americana, que poderia levar Donald Trump de volta ao poder. Em seu primeiro mandato, Trump confrontou os aliados e minimizou a importância da organização de defesa coletiva, ameaçando retirar os EUA em certa altura.

Sobre uma possível volta de Trump, Rutte tem adotado uma postura comedida. Durante o primeiro mandato do republicano em Washington, a relação entre ambos foi cordial, rendendo-lhe o apelido de “The Trump Whisperer”, aquele que sussurra ao ouvido de Trump. Em fevereiro, falando na Conferência de Segurança de Munique, ele disse aos europeus para pararem “de reclamar de Trump” e, em vez disso, agirem no seu próprio interesse, reforçando as suas forças armadas e produzindo mais munições para a Ucrânia.

— Não sou americano, não posso votar nos EUA. Temos que trabalhar com quem quer que esteja na pista de dança — disse aos aliados, naquela oportunidade.

A escolha de Rutte também foi pensada como uma forma de tranquilizar a Ucrânia quanto ao compromisso de longo prazo da aliança com a segurança do país do Leste Europeu, em um momento em que o país enfrenta uma pressão crescente da Rússia após mais de dois anos de guerra.

A visão de Rutte sobre o Kremlin foi profundamente afetada pelo abate do voo MH17 da Malaysia Airlines sobre a Ucrânia em 2014, com 196 holandeses entre as 298 pessoas mortas por um míssil antiaéreo russo que foi fornecido às forças separatistas pelos militares russos.

Em setembro de 2022, sete meses após a invasão da Ucrânia pela Rússia, Rutte disparou contra a Putin nas Nações Unidas, descrevendo-o como “insensível, brutal e impiedoso”.

— Ele não irá parar na Ucrânia se não o impedirmos agora. Esta guerra é maior que a própria Ucrânia. Trata-se de defender o Estado de direito internacional — afirmou o premier.

O consenso em torno do nome de Rutte foi saudado por líderes ocidentais. O atual secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, enviou uma mensagem pouco depois da confirmação, pela rede social X (antigo Twitter).

“Rutte é um líder forte e um construtor de consensos. Desejo a ele todo o sucesso. Sei que deixo a Otan em boas mãos”, afirmou Stoltenberg

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou que a liderança e a experiência de Rutte serão cruciais para a Aliança durante “estes tempos difíceis”.

— Espero trabalhar com você para fortalecer ainda mais a associação UE-Otan — disse a líder da UE.

Rutte deve ser oficialmente recepcionado pelos líderes da Otan durante uma reunião de cúpula, marcada para o dia 9 de julho.

Agora servindo como primeiro-ministro interino antes da posse do novo governo holandês, Rutte é conhecido como um trabalhador esforçado, mas um chefe afável. Homem de hábitos simples e filho de um revendedor de automóveis, mora há 30 anos na mesma casa modesta, com os mesmos móveis. Ele faz suas próprias compras no supermercado e dirige um Saab quando precisa ver o rei.

Todos os verões, ele aluga a mesma casa com familiares e passa alguns dias por ano em Nova York com o mesmo amigo, hospedando-se no mesmo modesto hotel em Chinatown, escreveu Caroline de Gruyter, correspondente europeia do jornal holandês NRC Handelsblad.

Embora sonhasse em ser pianista, estudou na Universidade de Leiden e acabou trabalhando para a gigante anglo-holandesa de produtos de consumo Unilever.

Solteiro, seu status de relacionamento sempre causou especulações na mídia. Rutte evita perguntas relacionadas ao tema, garantindo que se sentia “feliz”. Ele se descreve como um “homem de costumes e tradições” e passou toda a sua vida em Haia.

— Mark não gosta de mudanças, ele quer sempre a mesma coisa — disse Marco Rimmelzwaan, seu cabeleireiro.

Ele também é conhecido por ir de bicicleta para o trabalho, um hábito que terá que mudar, porque seu novo emprego exigirá que ele receba uma segurança significativamente reforçada onde quer que vá. Ele também terá que abandonar as aulas semanais de estudos sociais que lecionou durante anos em uma escola secundária em Haia. (Com NYT e AFP)

Fonte: O Globo

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