Os cálculos de Lula para a Venezuela

Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (E), e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião da CELAC
Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (E), e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião da CELAC — Foto: MARCELO GARCIA / Presidência da Venezuela

Em meio a negociações frenéticas na Venezuela para decidir qual será a estratégia da oposição para enfrentar o governo de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais de 28 de julho, o Palácio do Planalto faz cálculos. Em Brasília, fontes do governo Lula admitiram que se a oposição venezuelana se unir ao redor da líder María Corina Machado, vencedora das primárias não reconhecidas oficialmente de outubro de 2023 com 92% dos votos, Maduro enfrentará dificuldades eleitorais — podendo, até mesmo, ser derrotado.

Apoiar María Corina não significa apoiar sua eventual candidatura, já que ninguém acredita, dentro ou fora da Venezuela, que o governo Maduro cederá às pressões internacionais e suspenderá a inabilitação por 15 anos da líder do partido Vente aprovada pelo Tribunal Supremo de Justiça, alinhado ao chavismo. A questão é qual será a estratégia que ela vai traçar nos próximos dias e que incluiria, por exemplo, a escolha de um candidato substituto. Essa estratégia contará com o respaldo da chamada Plataforma Unitária, integrada por 10 partidos? É a pergunta de um milhão de dólares.

As informações que chegam a Brasília apontam fissuras dentro da plataforma e, com base nessas informações, o governo Lula acredita que María Corina não conseguirá a coesão que espera e que sua “teimosia” acabará favorecendo Maduro. Em conversas com governos estrangeiros, entre eles o americano, mencionou-se recentemente a possibilidade de que uma oposição unida na Venezuela consiga vencer a eleição. O Brasil de Lula tem dúvidas, mas admite que tal cenário seria adverso para Maduro.

O Parlamento Europeu divulgou, na quinta-feira, uma resolução sobre a situação política na Venezuela na qual denúncia violações dos direitos humanos. E, faltando menos de uma semana para o início do período de inscrição dos candidatos que vão disputar o pleito presidencial de 28 de julho (de 21 a 25 de março), pede que “a comunidade internacional apoie o retorno da democracia na Venezuela, em particular pela proximidade das futuras eleições, nas quais deve ser permitida a participação da líder opositora do regime María Corina Machado”. Mais uma expressão de desejo que vai morrer na praia.

Mais uma vez, a oposição venezuelana está diante do dilema que enfrenta desde 2002, quando organizou um fracassado golpe de Estado — que durou 48 horas — contra o então presidente Hugo Chávez: unidos ou derrotados. Quando se uniu, por exemplo nas eleições legislativas de 2015, obteve bons resultados. Nas presidenciais de 2013, o então candidato Henrique Capriles perdeu por menos de dois pontos percentuais a disputa com Maduro. Mas, em geral, é uma articulação complexa.

Nos últimos dias, dirigentes como Capriles expressaram seu apoio à liderança de María Corina. Mas tem uma figura que gera incertezas, o governador do estado de Zulia, Manuel Rosales, que disputou a Presidência em 2006 e foi derrotado por Chávez. A boa relação de Rosales com o chavismo é conhecida e, apesar de o governador ter dito recentemente que vai respaldar a posição da plataforma, muitos na Venezuela temem que acabe negociando com Maduro e causando um racha na oposição. Rosales tem ambições próprias.

Do alto de seus 92%, María Corina exige controlar e concentrar as decisões centrais. Prevalecerá a união como única saída, ou o ego das lideranças opositoras? Maduro e seus aliados, entre eles Lula, apostam na segunda opção.

Fonte: O Globo

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