O trabalho dos militares desde o primeiro momento da catástrofe no Rio Grande do Sul

Militares organizam doações para as vítimas das enchentes no Sul
Militares organizam doações para as vítimas das enchentes no Sul — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo/08-05-2024

No dia 30 de abril, o comandante do Exército, Tomás Paiva, estava em Santa Maria (RS), onde serviu no início da carreira. Ele estava lá por acaso. Havia chegado com o ministro José Múcio no dia 29, para acompanhar um exercício militar na Brigada de Santa Maria. Este específico exercício tem o nome de “Apronto Operacional da Força de Prontidão”. Nele, 1.500 militares simularam a preparação para uma missão iminente. Na ida, quando estavam chegando, caiu um raio no avião. Não houve maiores problemas, mas quando isso acontece a aeronave tem que ser enviada para manutenção e substituída. Logo após o exercício militar, a chuva caiu como se fosse uma parede, descreve quem estava lá. Ficou claro que não era uma chuva normal. O avião que pegaria o ministro e o comandante teve dificuldade de pousar na tarde daquele dia. A missão para a qual as tropas haviam se preparado, em simulação, começaria imediatamente.

— Eu vim para ver esse exercício militar nos dias 29 e 30, mas foi quando iniciou a catástrofe, começou a chover e não parava mais, uma coisa assustadora — me disse ontem o ministro José Múcio, de São Leopoldo.

O Rio Grande do Sul é o centro da tropa blindada do Exército brasileiro e a Brigada de Infantaria de Santa Maria é descrita como o coração dessa força. Os veículos Guarani, de seis rodas, anfíbios, foram colocados em ação. A atuação foi batizada de Operação Taquari 2 e envolveu as três forças. Naquela mesma noite, caíram barreiras e esses carros de combate saíram para o resgate de pessoas que tentavam atravessar as águas.

Quando desabou o aguaceiro, as equipes que foram fazer o religamento de energia ou, em casos de risco, o desligamento da rede elétrica para evitar acidentes, se deslocaram nesses blindados. O anfíbio entrava, parava debaixo do poste e de lá saíam as equipes para manutenção da rede elétrica.

São 11 mil militares do Exército no Rio Grande do Sul, 17.200 somando os das três forças, num total de 33 mil militares, policiais e agentes envolvidos, incluindo os integrantes da Defesa Civil. A tropa de engenharia foi convocada para ajudar na logística. Já foram instalados sete pontos de travessia, e dois estão em operação, de pontes e passadeiras até o tráfego por botes. Tudo que permita às pessoas atravessarem os rios e os grandes alagamentos. As Forças Armadas têm hoje 1.200 viaturas no Rio Grande do Sul, 120 lanchas e botes. Todos os blindados sobre rodas que estavam em pontos diferentes do estado estão sendo usados, cinco hospitais militares de campanha foram instalados — o quinto chegou ontem para a região de Porto Alegre— de um total de onze que o governo tem no estado. Há nove helicópteros em atividade só do Exército, um deles foi levado de Belém. Ao todo, atuam no estado 60 aeronaves. A Marinha levou um navio e tem outro a caminho. A mobilização está em outras partes do país.

Tem ainda a logística de suprimento. Só em Brasília, há 50 soldados destacados para o trabalho de separar donativos. O Exército já mandou três comboios para o Rio Grande do Sul, um do Rio de Janeiro, um de Brasília e um de São Paulo. O volume de doação é tão grande que apenas de Brasília saíram 200 toneladas por via terrestre. De água à ração para animais. Ontem 14 bombas de água seguiram para o Rio Grande do Sul em carretas do Exército.

Os militares chamam de “serviço de Uber” os casos em que a água baixa e as pessoas começam a voltar para casa a pé. Os Guarani saem oferecendo carona para quem está andando, num caminho ainda com água, que pode estar contaminada e em terreno arriscado de caminhar. Perguntei ao comandante do Exército, general Tomás Paiva, se era grande o esforço, e ele respondeu:

— A dimensão do esforço é proporcional ao tamanho da tragédia provocada pelas águas.

Ontem o general Tomás estava em São Leopoldo, na sexta viagem dele ao estado desde o começo da crise gaúcha. Falei com o ministro José Múcio, mas ele logo encerrou a conversa para ir se encontrar com o governador Eduardo Leite. O que se diz no Exército, quando se pergunta sobre essa mobilização, é que o comando é integrado, unindo civis, militares, agentes governamentais, com rotinas de briefings, sempre às 11h da manhã, para saber o andamento do trabalho. “Não tem protagonismo de ninguém, é um centro de operações em que todos participam”, informou o Centro de Comunicação do Exército.

(Com Ana Carolina Diniz)

Fonte: O Globo

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