O que é o Estado Islâmico do Khorasan, que reivindicou ataque com mais de 133 mortos na Rússia

Soldados iraquianos seguram bandeira do Estado Islâmico após capturar combatentes do grupo ao norte de Bagdá em setembro de 2014
Soldados iraquianos seguram bandeira do Estado Islâmico após capturar combatentes do grupo ao norte de Bagdá em setembro de 2014 — Foto: AP Photo

Estado Islâmico do Khorasan, também chamado de EI-K ou Isis-K assumiu, nesta sexta-feira, a autoria do ataque à casa de shows Crocus City Hall, nos arredores de Moscou, com tiros e um incêndio criminoso. Além de ao menos 133 mortos, pelo menos 140 pessoas ficaram feridas. As autoridades russas anunciaram a prisão de 11 pessoas, quatro delas ligadas diretamente ao crime.

Surgido em meados de 2014, o Estado Islâmico do Khorasan tem como base ex-integrantes de um grupo igualmente radical, o Tehrik-i-Taliban, “Movimento dos estudantes”, do Paquistão, presente em áreas de fronteira entre Paquistão e Afeganistão e que mantém uma relação marcada por altos e baixos com o Talibã.

O Estado Islâmico considera a Rússia como inimiga porque o governo de Vladimir Putin apoia o ditador sírio Bashar Al-Assad, que expulsou a organização terrorista da Síria.

A facção segue um modelo similar ao de outras células — chamadas de províncias — do Estado Islâmico pelo mundo: uma relativa independência da liderança do grupo, baseada na Síria e no Iraque, e levando em consideração fatores regionais. O K vem da província histórica de Khorasan, que abrange partes do que hoje são Irã, Afeganistão, Paquistão e de outras nações da Ásia Central.

O Isis-K sempre foi visto como prioritário para as lideranças do Estado Islâmico. Desde o início, recebeu apoio logístico, financeiro e até moral: são inúmeros os vídeos de combatentes do Estado Islâmico na Síria e Iraque saudando a criação do Isis-K.

Sua estratégia de recrutamento era igualmente agressiva, buscando adeptos em áreas rurais e urbanas, sempre com promessas de dinheiro — muitas vezes oferecendo maços de notas de dólar e euro — e um discurso contra o Talibã. Muitas das lideranças do Isis-K viam a milícia como “apóstata”, considerando que eles não aplicavam de forma correta os preceitos do Islã e que se mostravam abertos a conversas com os EUA . Por outro lado, muitos reclamavam da brutalidade do Estado Islâmico, que queimaram grandes áreas de cultivo de papoula, principal fonte de renda de muitos camponeses e do próprio Talibã.

A crise entre os extremistas explodiu em junho de 2015, quando comandantes do Talibã enviaram uma carta ao líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, exigindo que suspendesse a campanha de recrutamento no Afeganistão e alegando que só havia espaço para “uma bandeira” na luta para restabelecer um emirado islâmico.

Não houve acordo, e semanas depois o Isis-K passaria a controlar a província de Naranghar, no Leste afegão, e áreas em Helmand e Farah, agora com combatentes recrutados localmente e outros vindos de países da região, como o Uzbequistão. Mas essa fase expansionista duraria pouco, e o grupo foi parcialmente dizimado por bombardeios dos EUA, em 2016, recuando para posições isoladas e perdendo um grande número de integrantes, agora de volta às linhas do Talibã.

Além dos combates, o Isis-K realizou, segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, centenas de ataques contra posições do governo afegão pró-Ocidente e contra civis, deixando um rastro de horror até mesmo na capital, Cabul.

Fonte: O Globo

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