O drama dos micro e pequenos empresários do Rio Grande do Sul

Centro de Porto Alegre inundado após chuvas extremas no Rio Grande do Sul
Centro de Porto Alegre inundado após chuvas extremas no Rio Grande do Sul — Foto: Edilson Dantas/Agência O GLOBO

“O primeiro sentimento foi igual o da pandemia, mas está sendo pior”. Esta frase foi compartilhada por MEIs, micro e pequenos empreendedores gaúchos que vivem o drama de terem seu trabalho interrompido de uma hora para outra. Muitos ainda não têm noção do prejuízo, já que as águas não recuaram. Em anúncio feito na semana passada, o governo federal anunciou que o Fundo Garantidor de Operações de Crédito (FGO) terá um aporte de R$ 4,5 bilhões pode alavancar até R$ 30 bilhões em crédito às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte no Pronampe.

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Segundo uma estimativa do Sebrae, cerca de 700 mil micro e pequenas empresas foram afetadas pelas chuvas intensas no Rio Grande do Sul. De acordo com a plataforma Data MPE Brasil, o estado tem um total de 1,45 milhão de empresas ativas, sendo 52,3% MEIs, 34,3% microempresas e 6% empresas de pequeno porte.

Para Lina Useche, fundadora da Aliança Empreendedora, o mais imediato no momento são ações voltadas ao que é emergencial, como água, alimentação e abrigos adequados. Em um segundo passo, o outro movimento é a reconstrução do estado, e isso perpassa os negócios.

– Os microempreendedores nesse sentido estão em uma situação muito vulnerável, pois além de perderem suas casas também tiveram seus negócios impactados, que são sua fonte de renda e estimulam a economia local. Para esse público será necessária a criação de ações emergenciais voltadas à reconstrução de negócios, como fundos emergenciais e investimentos, acesso a crédito orientado, e capacitação aliada a esses recursos, para que possam fortalecer seus conhecimentos e sua rede nesse momento de tanta fragilidade.

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Na cidade de Porto Alegre, o empresário Vilmar Paludo tem quatro lojas da franquia Anjos Colchões & Sofás, rede que atua com a produção de colchões e estofados, e teve uma unidade invadida pelas águas, a do bairro São João.

-Todo o bairro onde está a loja inundado e bem provável que teremos que reconstruir a loja. Neste momento o nível de água no rio Guaíba está subindo em vez de descer. É uma cena nunca antes presenciada.

Os funcionários estão sendo deslocados para as outras unidades, mas muitos não estão trabalhando porque perderam tudo. As lojas estão fazendo doações de colchões, mas mesmo assim, com dificuldade.

– Estamos em funcionamento, compramos colchões da fábrica no Paraná para doação, mas não chegam a Porto Alegre. Temos diversas famílias solicitando as doações, mas estamos esperando o caminhão conseguir entrar na cidade. Já conseguimos junto a outros franqueados doar mais de 8 mil colchões.

Marília Futuro Nör também não sabe o tamanho do seu prejuízo. Ela tem dez mercados autônomos que operam em condomínios comerciais e residenciais: três estão totalmente alagadas e duas completamente ilhadas.

– A maior loja, que é responsável por 15% do meu faturamento total, foi uma das mais afetadas, a gente tem certeza de que entrou muita água, mas ainda não temos dimensão se o nível chegou até o teto, ao ponto de pegar as câmeras de segurança ou se pegou apenas os equipamentos – comenta Marília, que é franqueada da rede market4u.

Além dos danos causados pelas enchentes, a empreendedora terá perda de produtos em diversas unidades devido à falta de energia e impossibilidade de abastecimento.

– A gente tinha um bom estoque em casa, então tem produtos que conseguimos abastecer, mas água, por exemplo, virou artigo de luxo no Rio Grande do Sul. Eu tinha um grande estoque que foi todo consumido. A grande maioria dos fornecedores ficam em Porto Alegre e também estão ilhados, com tudo embaixo da água, sem previsão de quando vão conseguir voltar a fornecer – lamenta.

A empresária Soyan Marins, que tem uma agência de intermediação de mão de obra na área da saúde da rede Padrão Enfermagem, conta que teve a suspensão de serviços pois clientes saíram da cidade. Muitos foram para o litoral para fugir do caos na capital. Além disso, alguns enfermeiros e cuidadores não conseguem chegar ao destino para o plantão devido a condição das estradas.

Outra preocupação é com o trabalho dos informais, impedidos de trabalhar por conta das cheias e invisíveis no meio da tragédia. O Boletim do Trabalho do Departamento de Economia e Estatística (DEE) do governo do estado divulgado no final do ano, a cada três pessoas com emprego no Rio Grande do Sul, uma está na informalidade. O governo federal estuda uma ajuda financeira nos moldes do Auxílio Emergencial na pandemia.

No caso dos entregadores, por exemplo, o iFood fez um repasse emergencial de R$ 2 milhões com o objetivo de oferecer apoio financeiro aos trabalhadores durante esse período crítico. Segundo a empresa, o valor foi calculado com base na média de ganhos do entregador no último mês, com pagamento mínimo de R$ 100. Outra iniciativa da startup foi antecipar o repasse de todas as vendas para os restaurantes. Segundo uma pesquisa realizada com associados da Abrasel, 33% dos restaurantes estão completamente isolados, impedindo a chegada de clientes e de insumos.

Fonte: O Globo

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