Número de mamografias realizadas pelo SUS tem redução no Estado

O número de mamografias  de rastreamento em mulheres de 50 a 69 anos de idade, realizado no Sistema Único de Saúde (SUS) do Rio Grande do Norte, caiu nos últimos dois anos. Em 2020, foram feitos, na rede pública do Estado, 21.922 mil exames do tipo, 35,78% menos do que em 2019 (34.140). Já no ano passado, foram realizadas 31.086 mamografias, ou 41,8% a mais do que em 2020, mas  ainda com redução de 8,94% em relação ao período pré-pandemia (2019). Os dados são do Instituo Nacional de Câncer (Inca), do Ministério da Saúde. Para o médico mastologista Moisés Schots, a crise sanitária foi a principal causa para a redução. No mês de outubro, comemorou-se o Outubro Rosa.

A mamografia de rastreamento, ou de rotina, é indicada, especialmente, para mulheres de 50 a 69 anos sem sinais e sintomas de câncer de mama uma vez a cada dois anos. Neste ano, de janeiro a julho, foram 32.157 mamografias de rastreamento feitas via SUS no Rio Grande do Norte (considerando as mulheres a partir dos 30 anos). Já o número de mamografias com finalidade diagnóstica realizadas na rede SUS do RN na população feminina de todas as faixas etárias, também sofreu revés nos últimos dois anos, mas com impacto menor. A mamografia diagnóstica é motivada por algum alteração identificada na mama.

Para esse tipo de exame, a redução entre 2020 e 2019 foi de 27,54% (foram realizadas  2.788 em 2019 e 2.020 no ano seguinte). Já no comparativo entre o ano passado (com a realização de 2.701 exames) e 2019, a queda foi de 3,12%. Para o mastologista Moisés Schots, as baixas se deram, nos últimos dois anos, em função das restrições da pandemia e pelo medo de muitas mulheres com o risco de serem infectadas com a covid-19 durante a realização do procedimento.

“Para se ter uma ideia, teve paciente que, já com o diagnóstico, atrasou o tratamento por causa do medo da pandemia e quando retornou para realizá-lo, estava em um estado bem mais avançado que prejudicou bastante a chance de cura”, afirmou o médico. O grande prejuízo em não realizar o exame, segundo ele, está no diagnóstico precoce do câncer de mama.

O descuido em relação ao exame, aponta, deve ser usado como alerta, uma vez que a a descoberta da doença ainda em estágio inicial é fator importante para o aumento das chances de cura. “A importância do exame é exatamente no diagnóstico precoce, onde o câncer ainda não pode ser detectado no autoexame. Portanto, a mamografia  permite essa descoberto logo no início, o que aumenta a chance de cura em 90% e diminui a mortalidade das pacientes”, destaca Moisés Schots.

A agente de Saúde Luciete Felício, de 49 anos, não se descuida do exame. Ela perdeu a mãe há dois anos para o câncer de mama e, por isso, compreende bem a importância de realizar, periodicamente, o procedimento. “Faço uma vez por ano. Mas já cheguei a fazer mamografia a cada seis meses, quando surgiu um nódulo na mama que, graças a Deus, não era nada maligno. E também tem a recomendação médica, uma vez que minha mãe foi acometida pela doença”, conta Luciete, que mora no distrito de Panon II, em Assu.

“Fazer a mamografia é muito importante, porque o câncer é uma doença silenciosa. Eu costumo dizer que o exame é dolorido, mas, mais dolorido ainda é descobrir o problema já avançado e ter que passar por todo um tratamento, às vezes, sem chance de cura”, acrescente a agente de saúde. Segundo ela, a mãe lutou contra a doença durante cinco anos. “Ele faz uma mastectomia parcial, esvaziou os linfonodos da axila e fez quimioterapia, mas não resistiu”, relata Luciete.

 

RN tem menor tempo de espera para tratamento 

 

Segundo dados  dos Registros Hospitalares de Câncer(RHC) do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Rio Grande do Norte é o Estado do País com o menor tempo de espera entre o diagnóstico e o início do tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ao todo, as pacientes aguardam em média 120 dias, número abaixo da média nacional, de  174 dias.

Na sequência ao Estado potiguar, Goiás e Piauí apresentam o melhor tempo de espera com, respectivamente, 125 e 135 dias. Por outro lado, o cenário fica negativo em três Estados do Nordeste, Norte e Sul, são eles: Sergipe, com 273 dias em média de aguardo; Rondônia com tempo médio de 245 dias e Mato Grosso com 233 dias. Os dados correspondem ao período de 2015 a 2020 e foram analisados no estudo “Panorama da Atenção ao Câncer de Mama no Sistema Único de Saúde”, realizado entre o Instituto Avon e o Observatório de Oncologia.

Considerando o panorama nacional, o estudo aponta que o Brasil possui baixa cobertura de mamografias, grande proporção de diagnósticos tardios, dificuldades no acesso a ele, principalmente, no início, que  registro aumento significativo conforme o avanço da faixa etária da paciente (de 112 dias, em média, para mulheres entre 20 e 29 anos; de cerca de 179 dias para quem tem entre 50 e 59  anos; e de 191 dias para as mulheres com idade entre 60 e 69 anos).

Conforme aponta a análise, entre 2015 e 2021 foram produzidos 28.255.364 exames de mamografia no Brasil, dos quais 27.853.787 foram aprovados. Com a chegada da pandemia nos últimos dois anos do período, foi identificada uma  queda no número de mamografias realizadas, com 41% em 2020 e de 18% em 2021 quando comparado com o ano de 2019 (pré-pandemia).

Em 2020, ano com maior registro de redução de mamografias, os estados de Minas Gerais (42%), Tocantins (43%), Sergipe e Santa Catarina (44%), Paraíba (45%), Paraná e Roraima (46%), Rio de Janeiro (47%), Espírito Santo e Goiás (48%), Amazonas (50%), Pernambuco (52%), Mato Grosso do Sul (53%), Mato Grosso (56%), Piauí (58%) e Acre (60%) apresentaram redução maior que a nacional. Amapá foi o único Estado que registrou aumento na produção de mamografias (1.562%).

 

RN tem a maior incidência no Nordeste

 

De acordo com dados estimados pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) para 2022, o Rio Grande do Norte tem a maior taxa bruta  de incidência de câncer de mama da região Nordeste, com 61,85 casos para cada 100 mil mulheres, seguido pelo Ceará (53,35), Paraíba (52,93) e Pernambuco (47,86).

Em escala nacional, a doença é também a de maior incidência em mulheres de todas as regiões, com taxas mais altas no Sul e no Sudeste, quando desconsiderados os tumores de pele e não melanoma. O sinal de alerta começa a soar mais alto quando as mulheres se aproximam dos 50 anos de idade. Em 2020, ponto alto da pandemia de covid-19, o Inca aponta que o número de mamografias realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) caiu 41%, passando do total de 2.527.833 para 1.473.277, considerando os números de todos os estados do País.

Em Natal, o Grupo Reviver oferta o procedimento de forma gratuita. Os atendimentos foram interrompidos por 90 dias em 2020,  em função da chegada da pandemia ao Estado. Idaísa Cavalcanti, associada fundadora do Grupo Reviver conta que hoje são realizados, por dia, até 80 mamografias, no máximo. O Grupo Reviver Natal é uma instituição sem fins lucrativos, fundada em 2012, com o objetivo de prestar serviços de saúde para a prevenção do câncer de mama. A entidade conta com uma unidade móvel, a Savana Galvão, para a realização dos exames, por meio de contratos com o SUS, via Secretaria Municipal de Saúde de Natal e de Parnamirim, além de contratos pontuais com outros Municípios e com a Assembleia Legislativa.

Idaísa Cavalcanti disse que, no caso do Grupo Reviver, não houve redução no número de procedimentos.  Nós fazemos 95% das mamografias de Natal e, no nosso caso, não observamos essa diminuição. Mas ficamos parados por 90 dias, no início da pandemia. Este ano, percebemos que houve aumento da procura, com muitas filas e mulheres voltando para casa sem conseguir atendimento”, conta.

A associada fundadora do Grupo Reviver também chama atenção para a importância da realização da mamografia. “A prevenção é o diagnóstico precoce. Esse diagnóstico acontece com o autoexame todo mês, com o toque da mama. Qualquer alteração observada, deve-se procurar um médico. E o exame mais completo, que detecta, de fato, o nódulo no início, é a mamografia. Então, essa é a verdadeira prevenção do câncer de mama. Não dá para deixar de fazer de jeito nenhum”, alerta Idaísa.

A partir desta segunda-feira (31) até a sexta-feira, 4 de novembro, a unidade móvel do Grupo Reviver estará na Escola de Governo, no Centro Administrativo, para prestar atendimentos à população. Pela manhã, todos os dias, incluindo o feriado de Finados, serão atendidas 40 mulheres. À tarde, os procedimentos serão destinados à servidoras do Estado. As fichas serão distribuídas às 7h e os atendimentos são por demanda espontânea.

 

Números

Mamografias de rastreamento em mulheres de 50 a 69 anos realizadas no SUS, no RN, de 2019 a 2021:

 

2019: 34.140

2020: 21.922

2021: 31.086

 

Fonte: Inca / Ministério da Saúde

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