Na Super Terça, Trump e Biden definem seu futuro com disputa de delegados; entenda

Biden e Trump
Biden e Trump — Foto: Montagem o Globo

Milhões de eleitores americanos irão às urnas nesta terça-feira para escolher indiretamente os candidatos à Presidência que poderão representar os dois partidos majoritários dos Estados Unidos nas eleições de novembro. Conhecido como Super Terça, o evento acontece paralelamente em 15 estados — entre eles Califórnia e Texas, que são ricos em delegados — e no território da Samoa Americana. A data é a mais importante da pré-eleição nacional e, este ano, provavelmente marcará uma revanche na Casa Branca entre o presidente Joe Biden e o ex-presidente Donald Trump.

Na Super Terça, uma grande quantidade de delegados é distribuída em um único dia: estão em jogo 865 delegados do Partido Republicano (35% do total nacional) e 1.420 do Partido Democrata (30%). Consequentemente, a data costuma ser decisiva para determinar quais são os pré-candidatos mais fortes de cada partido. As disputas também determinarão os contornos das corridas para a Câmara e o Senado, que moldarão o poder Legislativo no próximo ano.

O resultado final das prévias é apresentado de forma oficial pela Convenção Nacional de cada partido— neste ano, o Partido Republicano realizará a sua entre 15 e 18 de julho, em Milwaukee, e o Partido Democrata entre 19 e 22 de agosto, em Chicago. Porém, não é incomum que os candidatos presidenciais de cada partido sejam conhecidos bem antes de serem nomeados.

Com exceção de Washington D.C, Trump venceu todas as prévias do Partido Republicano desde janeiro. Muitos rivais jogaram a toalha no caminho. Nikki Haley, de 52 anos, foi a única que ficou. Ex-governadora da Carolina do Sul e ex-embaixadora dos EUA na ONU, ela foi a primeira pré-candidata republicana a se apresentar para concorrer à vaga do partido na disputa pela Casa Branca, em fevereiro do ano passado. Haley venceu sua primeira primária no domingo e pode vencer mais algumas nesta terça-feira, mas deve anunciar nesta ou na próxima semana sua saída da disputa, após não conseguir se consolidar como uma opção de renovação dentro do partido, nem convencer o eleitorado geral de que está preparada para ser a primeira mulher a presidir o país.

Já Biden, que não tem concorrentes com real possibilidade de desafiá-lo no flanco democrata, sofre com a percepção da maioria do eleitorado de não ter mais disposição e acuidade mental para seguir na Casa Branca, segundo pesquisas. Na quinta-feira, seu discurso do Estado da União, dizem reservadamente fontes da campanha de reeleição, pode deslanchar o que qualificam de “virada na campanha”. Além de bater na tecla de que a economia está em pleno vapor, com recorde de emprego e inflação controlada, há a possibilidade de o presidente anunciar uma ação executiva endurecendo a política de imigração do país. O tema, após recorde de entrada de estrangeiros não documentados pela fronteira com o México no ano passado, virou tema central do pleito.

Ao contrário do Brasil, onde a maioria dos partidos políticos define seus candidatos por meio de processos restritos a líderes e filiados e os apresentam ao eleitorado já na condição de postulantes à Presidência, os Estados Unidos desenvolveram um sistema de consulta pública que permite aos eleitores opinar desde o primeiro momento na definição de quem disputará o controle da Casa Branca. As prévias — também chamadas de primárias por aqui — são a etapa inicial das eleições americanas e seguem regras tão específicas (e variadas) por Estado quanto a eleição geral, que neste ano será realizada em 5 de novembro.

As prévias são um processo longo — começaram em 15 de janeiro, com o caucus republicano em Iowa, e se estendem até 8 de junho, com o caucus e a primária democrata em Guam e Ilhas Virgens, respectivamente — e quase idêntico a qualquer disputa por voto. Políticos fazem campanha, arrecadam verba e debatem propostas, enquanto tentam convencer os eleitores a se apresentar em uma data predeterminada para votar. A diferença é que, para os candidatos (pré-candidatos, no caso), a disputa é interna, seja no Partido Democrata ou no Partido Republicano. O vencedor no processo de cada sigla ganha o direito de ter seu nome na urna em novembro e só então disputar de fato a Presidência.

O calendário eleitoral americano é definido pelos estados, com participação dos partidos, e divulgado aos eleitores. Os requisitos para a votação e as fórmulas de disputa e apuração, contudo, variam de estado para estado. Em alguns deles, eleitores registrados podem escolher em qual prévia votar espontaneamente enquanto, em outros, devem declarar antecipadamente vínculo com algum dos partidos. A principal diferença, porém, está no formato, que pode ser de primária ou caucus.

As primárias são as que mais se assemelham a uma eleição normal. Elas são organizadas e realizadas pelos governos estaduais. Os eleitores se dirigem a locais de votação no dia indicado e depositam seu voto na urna de forma anônima. Ao fim, os votos são apurados e os vencedores apresentados ao público.

Os caucus são um formato que remontam uma tradição que se arrastou do período colonial à democracia dos EUA. Nele, o eleitor precisa demonstrar publicamente seu apoio a um candidato, comparecendo presencialmente a um ato político organizado pelo partido em seu distrito e expressar seu voto diante dos demais presentes. Ou seja, no dia marcado, o eleitor de determinado candidato precisa ir até um local definido previamente, como um ginásio ou um templo religioso, e expressar seu apoio no momento da contagem.

Cada estado tem uma regra específica, mas em alguns caucus são realizadas votações sequenciais, permitindo que apoiadores de determinado candidato tentem atrair novos eleitores ou mudem de opinião entre uma contagem e outra, até que um candidato conquiste a maioria necessária para vencer o pleito.

Os formatos de votação diferentes no fim levam a um mesmo caminho: a contagem dos votos. Os caucus costumam ser mais rápidos em apontar um vencedor pelo fato de as contagens serem realizadas em tempo real, enquanto as primárias exigem a abertura de urnas e uma apuração cédula por cédula. Por outro lado, outra especificidade das eleições americanas complica mais um pouco o processo: a presença dos delegados.

Uma diferença marcante das eleições americanas para outras democracias é que, nos EUA, nem sempre o número absoluto de votos define o vencedor. Ao contrário do Brasil, onde o voto de um eleitor em Fortaleza tem o mesmo peso que o voto de um eleitor de São Paulo para o resultado da eleição, o sistema americano privilegia a opinião dos Estados com maior população, e isso se manifesta — nas prévias e nas eleições gerais — na distribuição dos delegados.

Funciona assim: antes da eleição, são definidos os distritos eleitorais, que costumam ser traçados considerando limites de cidades e condados, levando em conta suas populações. Para cada distrito, é atribuído um número de delegados. Quem vence no distrito, conquista os seus delegados. No caso das prévias, esses delegados do partido representarão o pré-candidato mais votado na Convenção Nacional de sua sigla, da qual sairá a nomeação do candidato presidencial.

O Partido Democrata estabeleceu 3.923 delegados em disputa para seus pré-candidatos. O Partido Republicano, 2.429. O pré-candidato de cada sigla que obtiver mais da metade dos delegados estabelecidos pelo partido será indicados para a disputa geral, em que os candidatos dos dois partidos disputam o mesmo número de delegados (538).

Foi isso que aconteceu com os ex-candidatos democratas à Presidência Al Gore e Hillary Clinton, em 2000 e 2016, durante as eleições gerais. Mesmo com a maioria dos votos diretos dos eleitores, eles perderam na soma de delegados para George W. Bush e Donald Trump, respectivamente, sendo derrotados no Colégio Eleitoral.

No caso das prévias, os partidos criaram mecanismos para tentar fazer a opinião dos eleitores ter mais peso na decisão dos candidatos. Em vez de um sistema em que “o vencedor leva tudo”, alguns Estados estabeleceram um sistema proporcional, em que os delegados do Estado são repartidos de acordo com o percentual de votos por candidato. Outros Estados mantém a regra da eleição geral para as prévias: o vencedor conquista todos os delegados enviados à Convenção Nacional.

Fonte: O Globo

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