Musk expôs o pacto ilegal de Moraes com os ministros do Supremo

Alexandre de Moraes e Elon musk - Prisma
Na imagem, o ministro do STF Alexandre de Moraes e o dono do X (ex-Twitter) Elon Musk

O Supremo Tribunal Federal e os que mandam no Brasil fizeram um pacto não-verbal para evitar que a direita voltasse a dar um golpe nas últimas eleições presidenciais. Segundo esse acordo, os liberais iriam tolerar violações tidas como menores e, em troca, o ministro Alexandre de Moraes seguraria a besta pelo chifre e a jogaria para escanteio. Funcionou. O pacto evitou que o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua gangue tomassem o poder e jogassem a frágil democracia brasileira no lixo, mas vem cobrando um preço para lá de alto.

O bilionário Elon Musk, com o uso de fake news, manipulações simplórias e alguma verdade, ajudou a desnudar esse pacto. Muitos vêm usando a figura abjeta de Musk para desqualificar as acusações. Se isso for adiante, será uma bobagem comparável às ilegalidades em série da Operação Lavo Jato. Porque ambas as ilegalidades partem do mesmo princípio: a ideia de que os fins justificam os meios. Não justificam e a história do século 20 é um poço de provas desse erro.

Essa ideia nasceu na extrema-direita, migrou para o stalinismo nos anos 1920 e 1930 e, agora, reaparece tanto na direita como na esquerda. Sergio Moro, na sua cruzada contra a corrupção, valia-se dessa máxima. O apoio que a esquerda dá a Moraes tem essa justificativa.

Musk revelou uma série de decisões espantosas de Moraes sobre suspensão de contas na rede X (ex-Twitter), que eram mantidas em sigilo. Foi no episódio batizado com o nome tosco de Twitter Files Brazil (é tosco porque a ideia de “files” está associada a descobertas do jornalismo investigativo e, no caso de Musk, essa marca registrada é usada para defender interesses do empresário e militante da extrema-direita). São espantosas por duas razões: eram mantidas em sigilo e tinham um texto padrão, do tipo “copia e cola”.

É certo que Moraes é conhecido pelos seus antigos alunos da USP como um bárbaro da língua portuguesa. Suas teses de mestrado, doutorado e para professor titular da USP são exemplos de como não se deve escrever uma dissertação, pelos clichês em série e pelo palavreado que mira o imponente.

Mas, quando um ministro do Supremo não se dá ao trabalho de individualizar decisões para suspender contas no X, já ultrapassou vários sinais vermelhos e seus pares deveriam ter uma reação vigorosa, em proporções similares à que o ministro Gilmar Mendes adotou contra as decisões ilegais do ex-juiz Sergio Moro. Se ficarem com cara de paisagem, como fazem até agora, serão cúmplices de um erro jurídico histórico.

Não importa que Musk tenha se tornado herói de Bolsonaro, do pastor Silas Malafaia e similares. O bilionário foi festejado no ato realizado no último domingo (21.abr.2024) por apoiadores de Bolsonaro, em Copacabana, no Rio, como um salvador da pátria.

Esse uso político de Musk mostra o grau do desarranjo e servilismo da direita brasileira. Mas, guardadas as devidas proporções, é o mesmo papel que Moraes desempenha no outro lado do espectro político. Malafaia desperta em mim os instintos mais selvagens pelo uso político que faz da religião, mas ele está certíssimo quando diz que o inquérito das fake news é “uma aberração jurídica” por dispensar um ator sem o qual a Justiça não existe –o Ministério Público.

Como é regra com essa direita incivilizada, logo depois de fazer um diagnóstico que qualquer jurista sério assinaria embaixo, Malafaia chama o ministro de “frouxo, covarde e omisso”. Qualquer um que preze a democracia, sabe que xingamento interdita o debate.

Está certo que Musk não ajuda em nada aqueles que estão preocupados com Justiça. O empresário começou o ataque a Moraes do jeito mais amador possível. Usou a postagem de um jornalista norte-americano completamente desqualificado, chamado Michael Shellenberger. Foi ele que começou essa patacoada, com informações falsas. São tantas que é difícil decidir por onde começar.

Uma das postagens dele no X dizia que Moraes havia ameaçado prender um advogado do X se ele não revelasse informações “privadas e pessoais” de titulares de algumas contas.

Dias depois, após ser questionado por um ex-funcionário do Ministério da Justiça, recuou e reconheceu que tinha publicado mentiras.

A quantidade de informação falsa que esse jornalista divulga é de vomitar. Mas o fato de um desqualificado ter sido usado para atacar Moraes não diminui em nada as arbitrariedades que ele comete.

Moraes age como um tanque de guerra porque recebeu um apoio que parecia incondicional. Há indícios de que essa aliança começa a rachar.

O presidente do Supremo, o ministro Roberto Barroso, se desentendeu com Moraes e Gilmar Mendes em 2 votações: as sobras eleitorais e a revisão de cálculos da aposentadoria. Moraes teria ficado irritado por a articulação de Barroso para atrair o voto do ministro Luiz Fux no caso da revisão da aposentadoria. Se o voto de Moraes fosse vitorioso, haveria o risco de a conta para o governo chegar a R$ 480 bilhões. A tese de Moraes, de apoio à revisão da vida inteira dos benefícios, acabou derrotada por 6 a 5.

Esse racha, por mais que lembre intrigas do Antigo Regime francês pré-revolução de 1789, é uma das esperanças para que os ministros parem Moraes.

Fonte: Poder360

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