Mulher que teria sido estuprada com uma faca pelo principal suspeito do caso Madeleine McCann depõe no tribunal

Christian Bruckner é o principal suspeito do caso Madeleine McCann e acumula acusações de violência contra mulheres
Christian Bruckner é o principal suspeito do caso Madeleine McCann e acumula acusações de violência contra mulheres — Foto: Reprodução

O julgamento de Christian Bruckner, de 47 anos, principal suspeito ligado ao desaparecimento de Madeleine McCann, em 2007, e a outros crimes de violência e abuso sexual foi marcado nesta quarta-feira por mais uma acusação contra o réu. Hazel Behan, 40 anos, afirmou ao tribunal que Bruckner entrou no apartamento em que estava hospedada, na região do Algarve, em Portugal, e a estuprou na manhã de 16 de junho de 2004 sob a mira de uma faca. Atualmente, ele está preso por violentar uma turista americana e responde por outras cinco acusações, de mulheres e meninas com idade de 10 a 80 anos.

A mulher prestou depoimento na cidade de Braunschweig, no norte da Alemanha, onde Bruckner é julgado pelos crimes que teria cometido entre dezembro de 2000 e junho de 2017. Ao relatar o que viveu há 20 anos, por mais de uma hora, a vítima teve que fazer várias pausas para retomar o fôlego.

— Senti um medo que nunca teria imaginado ser possível — disse, descrevendo o momento em que percebeu que estava sendo atacada pelo homem — O sangue fugiu do meu corpo. Eu senti que iria durar para sempre. Eu só estava tentando descobrir, como vou sair disso?

Segundo ela, Bruckner ficou junto da sua cama e a chamou pelo nome antes de iniciar o ato que durou horas. A mulher só teve coragem de fazer a denúncia em 2020, após notar um método de ataque muito semelhante quando seu possível abusador foi condenado em 2019 por violentar uma turista americana idosa.

A polícia alemã começou a tratar Bruckner como principal suspeito do sumiço de Madeleine em 2013. O réu nega as acusações de agressão sexual e também que esteja envolvido no desaparecimento de Madeleine. Durante o relato impactante de Hazel, ele, que estava a poucos metros da vítima, não demonstrou reação e passou boa parte do tempo com o queixo apoiado nos dedos.

A audiência desta quarta-feira foi adiada por mais de uma hora depois que o advogado de defesa de Bruckner, Friedrich Fülscher, apresentou uma objeção à tradução oficial da entrevista de Behan de 2020 com a polícia criminal alemã, a BKA. Ele alegou que o policial que a entrevistou não estava qualificado para fazê-lo, tornando a entrevista nula e sem efeito. O pedido foi rejeitado pela corte, abrindo caminho para que Behan prestasse depoimento. Mais de 40 testemunhas devem depor até outubro.

Os procuradores alemães rejeitaram os protestos dos advogados de Bruckner de que ele não terá um julgamento justo devido à ligação que os procuradores estabeleceram, há muito tempo, entre ele e o caso McCann. O processo judicial está sendo supervisionado por um juiz, mas não jurados.

O caso de Madeleine McCann é um dos mais misteriosos dos últimos tempos. A menina de três anos desapareceu repentinamente do hotel onde estava hospedada, em 2007, enquanto seus pais jantavam em um restaurante no mesmo complexo, em Praia da Luz, ao sul de Portugal. O sumiço aconteceu em 3 de maio de 2007.

Hoje, 17 anos após o desaparecimento, o Tribunal de Braunschweig está julgando Bruckner, mas por um caso anterior. O primeiro policial a ser convocado para depor foi o detetive Mark Draycott, que estava lá para responder perguntas sobre o desaparecimento de Madeleine enquanto trabalhou na busca, que ficou conhecida como Operação Grange, iniciada em 2011.

Em seu depoimento, ele forneceu um detalhe que pode ser crucial na investigação. Segundo ele, Helge Busching, um antigo amigo de Bruckner que o conheceu no Algarve durante os anos 2000, entrou em contato com a polícia britânica em 2017.

— Naquela época, ainda tínhamos um número de telefone público que era divulgado em todo o mundo. O público poderia ligar para fornecer informações sobre a Operação Grange, a investigação sobre Madeleine McCann. Um dos meus trabalhos era verificar as mensagens na secretária eletrônica. Em 18 de maio, verifiquei a secretária eletrônica e havia uma mensagem — disse o detetive. — Ele disse que tinha informações e deixou um número de celular grego. Depois liguei para este número e falei com um homem que agora sei que é Helge Lars Busching. Ele se referiu a si mesmo como ‘Lars’ e me deu informações relacionadas a Madeleine.

O surpreendente foi que, em uma declaração que depois se tornou viral na mídia, Bursching disse que Bruckner esclareceu, sem mais detalhes, que “ela não gritou”.

O detetive disse que conversaram durante dois dias antes de ele viajar para prestar depoimento. O juiz perguntou se ele havia feito um juramento e o detetive respondeu:

— Não fazemos testemunhas prestarem juramento. Nunca pagamos testemunhas por informações. Podemos pagar algumas despesas (e fazemos isso). Pagamos 35 euros para ele viajar de ônibus para Atenas para nos encontrar e pagamos suas despesas de volta para casa, na Grécia. Também reservamos um hotel barato para ele ficar na capital.

Atualmente, Christian Bruckner cumpre uma sentença de sete anos por estupro de uma idosa em 2019 e agora está sendo acusado de uma série de ataques sexuais em Portugal entre 2000 e 2017.

Fonte: O Globo

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