Mortes por leptospirose no RS preocupam autoridades de saúde

Autoridades têm visto pessoas buscando objetos, nos montes de lixo, para tentar recondicionar. São restos infectados deixados pela baixa da água -  (crédito: Fotos: Henrique Lessa/CB/D.A Press)
Autoridades têm visto pessoas buscando objetos, nos montes de lixo, para tentar recondicionar. São restos infectados deixados pela baixa da água - (crédito: Fotos: Henrique Lessa/CB/D.A Press)

A confirmação de uma segunda morte por leptospirose no Rio Grande do Sul — em Venâncio Aires, pois a primeira foi no município de Travesseiro — deixou as autoridades federais e estaduais de saúde em estado de alerta. Isso porque, além dos dois óbitos, há 33 registros de infecção pela bactéria e outros 23 casos estão sendo investigados. A lama podre que se acumula em locais nos quais as águas baixaram e a grande quantidade de detrito que se acumula em vários pontos do estado são os habitats ideais para que a doença se dissemine.

A Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul tem feito a recomendação para as pessoas não voltarem diretamente às suas casas e nem para reaproveitarem qualquer utensílio que tenha ficado em contato com a água da enchente. No primeiro caso, a indicação é que, no trabalho de limpeza do imóvel, não haja qualquer contato com a lama e os detritos — daí porque a recomendação de cobrir pedro josé* o corpo com roupas que não possibilitem a exposição da pele, sobretudo as dos pés e das mãos.

Catadores

No segundo, é porque as autoridades vêm verificando que a população mais carente tem procurado utensílios que possam reaproveitar nos montes de lixo — como roupas, cobertores e colchões —, além de comida imprestável, jogada fora pelos mercados que estão sendo limpos depois que as águas da inundação baixaram. Nesses casos, tudo deve ser completamente descartado.

“A doença apresenta elevada incidência em determinadas áreas, além do risco de letalidade, que pode chegar a 40% nos casos mais graves. Sua ocorrência está relacionada às condições precárias de infraestrutura sanitária e à alta infestação de roedores infectados. As inundações propiciam a disseminação e a persistência da bactéria no ambiente, facilitando a ocorrência de surtos”, adverte a secretaria.

A leptospirose se soma a um rol de doenças que as autoridades de saúde vêm monitorando, como tifo, desinteria, influenza, pneumonia e outros males respiratórios, além da dengue — uma vez que o mosquito transmissor costuma se reproduzir na água suja, sobretudo agora que os dias alternam altas temperaturas do meio da manhã ao fim da tarde e madrugadas geladas.

A chefe da vigilância epidemiológica do Rio Grande do Sul, Roberta Vanacor, chama a atenção para o fato de que a população deve estar alerta aos sintomas da doença — como febre, dor de cabeça, dor muscular (principalmente nas batatas das pernas), falta de apetite e náuseas ou vômitos. Ela salienta que o tratamento contra a leptospirose é eficiente e que as mortes se dão em decorrência de não tomar as medidas médicas necessárias.

Alexander Alberto Toni, especialista na bactéria leptospira, alerta para taxa de letalidade da doença, que foi de 8,2% no ano passado e deve disparar neste ano. O período entre a incubação da doença — ou seja, o intervalo de tempo entre a transmissão, a infecção no sistema sanguíneo humano — a presença dos sintomas pode variar de um a 30 dias. Normalmente, ocorre entre sete a 14 dias após a exposição à lama ou à água infectada.

Colapso

A saúde está sendo a área do serviço público mais afetada nos municípios que estão acolhendo desabrigados das enchentes que assolam o Rio Grande do Sul. Cidades do litoral norte do estado, que vêm recebendo muitas pessoas, chamam a atenção para a falta de medicamentos e insumos a fim de atender as pessoas em busca de ajuda.

“Era um público não esperado neste momento, é uma emergência, calamidade e a gente teve que se adaptar. Somos solidários, vamos receber todos. Mas levamos para a Secretaria de Saúde do estado a necessidade que temos pelo aumento do uso dos serviços”, advertiu o presidente da Associação de Municípios do Litoral Norte (Amlinorte), João Marcos Bassani.

Os secretários de alguns municípios da região temem que a situação entre em colapso rapidamente. “Estamos recebendo muita gente. Vieram para casa de amigos e, com isso, cresceu a procura pelos serviços de saúde. Estamos atendendo por volta de 400 pessoas por dia nas farmácias municipais, quando o normal são 250”, relata Patrícia Ramos, secretária de Saúde de Imbé, que já recebeu cerca de 5 mil pessoas por conta das enchente.

Tal cenário não é novidade. Em conversa com o Correio, na semana passada, o secretário de Saúde de Capão da Canoa, Tiarlin Abling, “implorou ao estado” que fornecesse mais medicações. Ele afirma que a 18ª Coordenadoria do Estado de Saúde remeteu uma “pequena carga” de insumos hospitalares, que impediu a cidade de colapsar. Mas ele classifica a situação como “ruim”.

*Estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi

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Fonte: Correio Braziliense

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