Milei lança ‘pacote anticasta’ no Congresso

Presidente da Argentina, Javier Milei, durante seu primeiro discurso de abertura do ano legislativo
Presidente da Argentina, Javier Milei, durante seu primeiro discurso de abertura do ano legislativo — Foto: JUAN MABROMATA / AFP

Em seu primeiro discurso de abertura do ano legislativo, o presidente da Argentina, Javier Milei, afirmou nesta sexta-feira que assumiu o poder no “momento mais crítico da História” do país, “após 20 anos de desastre econômico e uma orgia do gasto público”. Perante o Congresso Nacional, Milei atacou a classe política, acusou os deputados, senadores, sindicalistas e empresários, entre outros, de terem apoiado um sistema “que gerou pobreza, enquanto uma casta privilegiada vivia como se fossem monarcas”. Ao som de aplausos de seus aliados e gritos de “a casta está com medo”, o chefe de Estado anunciou um pacote de leis “anticasta”, que será enviado ao Congresso.

— Se não mudarmos este modelo de raiz, a Argentina não terá futuro — declarou o presidente, que detalhou alguns dos pontos do pacote “anticasta”, entre eles a eliminação de aposentadorias de privilégio para presidentes e vice-presidentes; a exigência de que sindicatos realizem eleições periódicas de autoridades, supervisionadas pela Justiça eleitoral e com a possibilidade de apenas uma reeleição; a inabilitação para disputar cargos públicos de pessoas condenadas por corrupção em segunda instância; a proibição de que o Estado financie partidos políticos, e a determinação de que a emissão de dinheiro passe a ser considerada um delito.

Depois de passar mais de meia hora atacando o que chama de casta política, o chefe de Estado convidou todos os partidos políticos a assinarem um pacto no próximo mês de maio, que estabeleça o equilíbrio fiscal como política de Estado, a proibição de violar a propriedade privada, um projeto de reforma da Previdência e das normas trabalhistas e uma reforma política, entre outras iniciativas.

— Se a política nos acompanhar, as reformas serão mais duradouras… esta é nossa proposta sobre a mesa — disse o presidente.

Milei se referiu a dirigentes como o ex-candidato presidencial Sergio Massa e o deputado Máximo Kirchner como “cavaleiros do fracasso”, e disse que a ex-presidente e ex-vice-presidente Cristina Kirchner “é responsável por um dos piores governos da História”.

— O populismo nos levou a uma loucura, na qual o salário mínimo é de US$ 300, depois de ter chegado a US$ 1.800 na década de 90 — declarou o presidente.

Em vários momentos, deputados e senadores de seu partido, A Liberdade Avança, gritaram “a casta está com medo” e “a casta não aplaude”, num clima similar ao que se viveu durante a campanha eleitoral do chefe de Estado.

— Nossa cruzada começa por reduzir o Estado a seu tamanho mínimo, para acabar com os privilégios da casta política… isso sim é serra elétrica — disse Milei, lembrando um dos símbolos de sua campanha presidencial.

O presidente enumerou cortes de despesas implementados em vários setores, entre eles na área de comunicação.

— É uma vergonha que governos gastem dinheiro em comprar simpatias de jornalistas — enfatizou Milei, que anunciou a decisão de fechar a agência de notícias Telám, segundo o presidente, usada como “agência de propaganda dos governos kirchneristas”.

Nesse e em outros momentos, seus aliados gritaram “serra elétrica”. O presidente comunicou que aviões oficiais só poderão ser usados para motivos oficiais, e lembrou que viagens pagas pelo Estado não poderão ser usadas para acumular milhas, entre outras medidas anunciadas contra a chamada casta política.

— A maioria dos políticos, como muitos de vocês, são ricos — alfinetou Milei, perante um Congresso que, em sua grande maioria, ouviu o inflamado discurso do presidente sem aplaudir.

O chefe de Estado atacou governadores, empresários “amigos do Estado”, partidos de esquerda, sindicatos, questionou o estado em que recebeu a Educação, Segurança e Saúde. Em alguns trechos do discurso defendeu “mais capitalismo e mais liberdade”.

— O antigo sistema só podia gerar pobreza, enquanto uma casta privilegiada vivia como se fossem monarcas… Nós não vivemos da política, o que temos é sede de mudança — frisou o presidente.

Num recado a seus adversários, Milei avisou:

— Se o que buscam é conflito, conflito terão.

Milei tem diversas frentes de conflito abertas atualmente, em meio a uma situação econômica e social cada dia mais complicada. Sem poder mostrar, ainda, resultados positivos em termos de recuperação da economia — com uma projeção de queda do PIB de 2,8% para este ano, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) — o presidente mantém um nível elevado de apoio popular, que oscila entre 48% e 55%, dependendo da pesquisa, essencialmente em com no engajamento de seus eleitores nas disputas com setores e lideranças que questionam o governo, entre eles sindicatos, movimentos sociais, o peronismo e representantes da Igreja.

O governo enfrentou uma primeira greve geral convocada pela CGT, no final de janeiro. Em meados de fevereiro, os trabalhadores ferroviários pararam durante 24 horas. Na última terça-feira, foi a vez do setor aeronáutico, que com sua greve geral provocou o cancelamento de pelo menos 532 voos na Argentina. Nesta sexta, foram organizados protestos em estações de trem e metrô, para repudiar os aumentos nas tarifas dos transportes públicos.

Fonte: O Globo

© 2024 Blog do Marcos Dantas. Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.