Massacre de Eldorado dos Carajás completa 25 anos

conflitos agrários

Medo. A sensação sufocante, combinada com as lembranças, persiste 25 anos depois. Raimundo dos Santos Gouveia e Maria Zeuzuíta Oliveira de Araújo são sobreviventes de um dos mais sangrentos episódios da história brasileira contemporânea: o massacre de Eldorado dos Carajás.

Em 17 de abril de 1996, Gouveia e Zeuzuíta eram alguns dos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que ocupavam a chamada curva do S, na BR-155, na região Sudeste do Pará. Protestavam contra a demora da reforma agrária na região. Ali, viram a execução de 19 pessoas e sofreram pela morte de outros dois companheiros no hospital.

A luta de Gouveia e Maria Zeuzuíta era por direitos. Pleiteavam a desocupação de um latifúndio improdutivo,  a fazenda Macaxeira,  para transformar em roça para a família. E apesar do clima tenso que já havia na área, foram surpreendidos por uma tropa de 155 policiais militares que chegaram atirando.

Hoje o sr Gouveia tem a sua roça, no Assentamento 17 de abril. Dona Zeuzuíta também é assentada na mesma área e também cozinheira na Escola Oziel Alves Pereira, dentro do assentamento. Ela fala dos sonhos interrompidos pelos assassinatos.

Acompanhar o caso do Massacre na justiça foi exaustivo para Marco Aurélio do Nascimento, o promotor de justiça do Ministério Público do Pará que atuou no caso. Entre as dificuldades, ele destaca as modificações na cena do crime.

Apenas os dois comandantes da operação foram condenados neste caso: Coronel Mário Pantoja, que morreu em 2020 por complicações da COVID-19, e o major José Maria de Oliveira.

Conflitos agrário no país

O estado do Pará contabiliza mais massacres e mortes no Brasil. Baseado em documentos da Comissão Pastoral da Terra, o professor e historiador Airton dos Reis Pereira, da Universidade Estadual do Pará, contabilizou entre 1985 e 2019, 49 massacres no Brasil. 28 deles no Pará. Ele lembra que o cenário violento continua, e destaca o massacre de Pau d’Arco em 2017, também envolvendo a Polícia Militar do Pará, e que deixou 10 mortos.

A reportagem procurou a Polícia Militar do Pará para comentar os 25 anos do massacre de Eldorado dos Carajás, mas a PM informou que não havia porta-voz para comentar o assunto.

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