Lula suspende campanha ‘Fé no Brasil’ e prioriza divulgação da ajuda ao Rio Grande do Sul

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobrevoa áreas inundadas em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobrevoa áreas inundadas em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul — Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a suspensão da campanha “Fé no Brasil”, lançada no início do mês para promover a gestão do PT, para concentrar a comunicação do Palácio do Planalto apenas em materiais relacionados à crise provocada pelas chuvas no Rio Grande do Sul.

Os efeitos já foram sentidos no último domingo, quando foi veiculada nos meios de comunicação e nas redes sociais uma peça publicitária destacando a mobilização da União para socorrer a população, a verba empenhada para reconstruir o estado, a distribuição gratuita de doações pelos Correios, a parceria com prefeitos e a importância da solidariedade de voluntários.

A propaganda do último domingo também cita os riscos da disseminação de fake news que “colocam em risco a vida do povo gaúcho” – um dos temas que esteve no centro das preocupações do Planalto na semana passada pelo potencial de chamuscar o governo durante a crise no Sul.

A Polícia Federal (PF) chegou a abrir um inquérito para apurar a disseminação de informações falsas sobre as chuvas, e a Advocacia-Geral da União (AGU) criou uma sala de emergência para tentar reagir a conteúdos apontados como desinformação pelo governo.

Desde então, as contas oficiais do governo do Brasil e da Presidência – além da própria Secom – já compartilharam 85 conteúdos sobre ações do governo para o Rio Grande do Sul no X (ex-Twitter), sem contar “retuítes” de outros ministérios ou canais da União, até o fechamento desta matéria.

Já Lula e a primeira-dama, Janja da Silva, já publicaram 30 vezes sobre o assunto na plataforma desde domingo. O presidente, inclusive, só não falou sobre a tragédia no RS em duas ocasiões desde o final de semana: para lamentar a morte dos comunicadores esportivos Antero Greco, Washington Rodrigues e Silvio Luiz e repudiar o atentado contra o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico.

A orientação de empenho total na agenda do Rio Grande do Sul também foi seguida por diversos ministérios, como o da Integração e do Desenvolvimento Regional, de Minas Energia, da Fazenda, Defesa e outros.

Nos primeiros dias da crise no Sul, Lula foi criticado nas redes sociais e também por partidos de oposição, como o PSDB do governador Eduardo Leite, pela demora em visitar o estado – o que só fez no último dia 2, cinco dias após o início das chuvas torrenciais que já provocaram 151 mortes e desalojaram quase 600 mil pessoas.

Agora, nas campanhas que a Secom passou a divulgar desde que as enchentes começaram são divulgadas, além das visitas de Lula ao Rio Grande do Sul, iniciativas como auxílios do governo para desabrigados, distribuição de botijões de gás para cozinhas comunitárias e cestas básicas, repasse de verbas, a abertura de hospitais de campanha federais e orientações sobre como doar mantimentos e se prontificar como voluntário.

Também receberam destaque a suspensão da dívida do estado junto ao governo federal e a liberação de R$ 5,75 bilhões do Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como Banco dos Brics e presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff, para o Rio Grande do Sul.

A campanha “Fé no Brasil” foi lançada pela Secom no último dia 1º, no feriado do dia do trabalhador, como parte do esforço do governo de romper a barreira da polarização e reverter a tendência de queda na popularidade de Lula nas pesquisas. A campanha visava promover ações e políticas públicas sob a premissa de que as iniciativas beneficiarão todos os brasileiros, e não apenas os que apoiam a gestão petista.

A ideia de união – que, por sinal está no slogan do governo, “União e Reconstrução – também foi explorada nas campanhas sobre o Sul. A propaganda de domingo diz que é “a marca do brasileiro”, que “somos um só povo” e sustenta que o Brasil está “unido” em torno do Rio Grande do Sul.

A Secom também tem apelado para hashtags nesse sentido, como #BrasilUnidoPeloRS. Outras publicações destacam que o Brasil “é um só país”.

A mudança de rota coincide com a decisão de deslocar o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, que é gaúcho, para o Ministério Extraordinário de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul. A pasta está sob o comando interino de Laércio Portela, secretário-adjunto de Pimenta.

A nova estratégia também ocorre no momento em que surgem cada vez mais indicativos de que os efeitos da chuva, como inundações e cheias, ainda afetarão a população gaúcha por meses – além dos impactos de longo prazo na infraestrutura gaúcha. Segundo a Defesa Civil do RS, 460 dos 497 municípios foram afetados.

Fonte: O Globo

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