Lula critica ações de Israel em Gaza, chama Hamas de terrorista e defende reformulação do Conselho de Segurança

Lula após reunião com o presidente do Egito, al-Sisi
Lula após reunião com o presidente do Egito, al-Sisi — Foto: Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar, nesta quinta-feira, a posição de Israel no conflito contra o Hamas. Lula ressaltou que o Brasil condenou os ataques do grupo terrorista, mas que não há “nenhuma explicação” para Israel “estar matando mulheres e crianças”. O presidente brasileiro afirmou ainda que parece que Israel tem a “primazia” de não cumprir decisões das Nações Unidas.

— O Conselho de Segurança não pode fazer nada na guerra entre Israel e Faixa de Gaza. Ou seja, a única coisa que se pode fazer é pedir paz pela imprensa, mas que me parece que Israel tem a primazia de descumprir, ou melhor, de não cumprir nenhuma decisão emanada da direção das Nações Unidas.

Lula ainda afirmou que é “urgente estabelecer um cessar-fogo definitivo” na Faixa de Gaza e afirmou que o Brasil é “terminantemente contrário” a tentativa de deslocamento forçado do povo palestino. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pediu ao Exército de seu país que apresente um “plano combinado” para “deslocamento” de civis de Rafah, após anunciar a expansão das operações militares no sul do enclave palestino.

— É urgente estabelecermos um cessar-fogo definitivo que permita a prestação de ajuda humanitária sustentável e desimpedida e imediata e incondicional liberação dos reféns. O Brasil é terminantemente contrário a tentativa de deslocamento forçado do povo palestino. Por esse motivo, entre outros, o Brasil se manifestou em apoio ao processo instaurado na Corte Internacional da Justiça pela África do Sul. Não haverá paz sem um estado palestino convivendo lado a lado com Israel dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas.

Ao criticar a posição de Israel, Lula ressaltou que o Brasil condenou de forma “veemente” o Hamas, a quem chamou de “terrorista” no discurso, mas afirmou que a “jamais viu em qualquer guerra” uma atitude como a de Israel.

— O Brasil foi um país que condenou de forma veemente a posição do Hamas no ataque a Israel e ao sequestro de centenas de pessoas. Chamamos o ato de ato terrorista. Mas não tem nenhuma explicação o comportamento de Israel a pretexto de derrotar o Hamas estar matando mulheres e crianças, coisa jamais vista em qualquer guerra que eu tenha conhecimento.

Lula ainda afirmou que é “lamentável” que instituições multilaterais não funcionem para a solução de conflitos internacionais. O presidente tem defendido a reforma da governança global e colocou a pauta como uma das prioridades da presidência brasileira no G20.

Em seu discurso, Lula afirmou que está empenhado na reforma e que espera contar com o Egito para “fazer as mudanças necessárias nos órgãos de governança global”. Ao criticar o Conselho de Segurança da ONU, o presidente brasileiro afirmou que é preciso ter uma “nova geopolítica”, “acabar com o direito de veto” e que os membros sejam “pacifistas”.

— O que é lamentável é que as instituições multilaterais, que foram criadas para ajudar a solucionar esses problemas, elas não funcionam. Por isso, o Brasil está empenhado e espera contar com o apoio do Egito para que a gente consiga fazer as mudanças necessárias no órgão de governança global. É preciso que o Conselho de Segurança da ONU tenha outros países participando, outros países da África, da América Latina. É preciso que tenha uma nova geopolítica da ONU. É preciso acabar com o direito de veto dos países, é preciso que os membros do Conselho de Segurança sejam atores pacifistas e não atores que fomentam a guerra.

As declarações de Lula ocorrem após reuniões com o presidente do Egito, Abdel Fatah al-Sisi. O Egito foi um país importante na retirada de brasileiros e seus familiares da Faixa de Gaza após o início do conflito e ocupa um papel importante negociação de um acordo entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas.

Em seu discurso, Lula agradeceu o presidente do Egito pela “solidariedade” e ajudar o Brasil na repatriação de brasileiros.

— Não poderia deixar de começar toda a minha conversa agradecendo ao presidente al-Sisi pela solidariedade que ele teve em ajudar o Brasil para que a gente conseguisse tirar os brasileiros e brasileiras que estavam na Faixa de Gaza. Eles atenderam o nosso embaixador, conversaram muito, e conseguimos retirar praticamente 2 mil pessoas que estavam em Israel e boa parte delas na Faixa de Gaza. Quero publicamente agradecer ao presidente al-Sisi.

O presidente do Egito, por sua vez, afirmou ele e Lula concordaram na reunião sobre a necessidade do cessar-fogo e a necessidade de instalação de um país palestino.

— As nossas deliberações bilaterais refletiram o nível de concertação nos pontos de vista e visões no que diz respeito às causas e situações internacionais. Já concordamos que o cessar-fogo imediato e sustentável é muito importante, também a necessidade de fazer entrar as cooperações e ajudas humanitárias para o povo de Gaza, principalmente na fase pós guerra. É preciso a instalação de um país palestino com capital em Jerusalém. Agradeço o presidente brasileiro o reconhecimento do Estado Palestino.

Brasil e Egito também assinaram dois atos. O primeiro é um memorando de entendimento entre o Ministério do Ensino Superior, Pesquisa Científica da República Árabe do Egito e do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação do Brasil sobre cooperação no âmbito da ciência e tecnologia e inovação. O segundo foi um protocolo para exportação de carnes e produtos do Brasil para o Egito.

Da capital egípcia, o presidente segue para Etiópia, onde terá agendas de sexta-feira a domingo. Na capital etíope Lula vai participar como convidado da 37ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana, entidade que reúne as 55 nações da África.

Etiópia e Egito também integram o Brics (bloco inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que também recebeu a adesão de Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes). É a segunda vez neste mandato que Lula vai ao continente africano. No ano passado, o presidente visitou África do Sul, Angola e São Tomé e Príncipe.

Fonte: O Globo

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