Lei que pode banir TikTok abala influenciadores com conteúdo pró-Biden

Lei de desinvestimento abala relação de Biden com criadores de conteúdo do TikTok
Lei de desinvestimento abala relação de Biden com criadores de conteúdo do TikTok — Foto: Gabby Jones/Bloomberg

Quando o presidente Joe Biden retornou à Casa Branca após fazer seu discurso sobre o Estado da União, a influenciadora do TikTok Awa Sanneh, de 23 anos, se juntou a funcionários do governo para aplaudi-lo. Biden destacou “a importância” do conteúdo das redes sociais para alcançar os eleitores da Geração Z, lembrou Awa, que estava entre dezenas de influencers convidados naquela noite.

Semanas depois, o presidente do EUA sancionou uma lei que obriga a controladora do TikTok, a ByteDance, a vender sua participação ou a plataforma será banida no país. Isso abalou os influenciadores, que a campanha de Biden buscava cortejar.

— Sou bastante crítica a ele neste momento. Se você realmente entendesse o impacto, então gostaria de manter o TikTok — disse Awa, que tem mais de 510 mil seguidores.

A adesão de Biden à lei que pode banir o TikTok mostra seus esforços para conter o que autoridades do governo e parlamentares de ambos os partidos veem como uma crescente ameaça à segurança nacional pela China. Mas ele continua a promover sua mensagem política na plataforma.

Nenhum dos influenciadores que falaram com a Bloomberg News disse que Biden perdeu o voto. No entanto, a nova lei provavelmente afastará os eleitores mais jovens, que impulsionaram o aplicativo e são hoje fundamentais para uma vitória eleitoral democrata. Muitos já não estão entusiasmados com a reeleição de Biden.

Kenny Walden, que tem 167 mil seguidores no TikTok e participou de eventos na Casa Branca, postou um vídeo na plataforma expressando confusão sobre a decisão de Biden de apoiar a lei em vez de preocupações com privacidade e segurança de dados.

“Sou contra, Joe”, disse Walden, cujo conteúdo se concentra em incentivar as pessoas a votarem em Biden. O presidente está silenciando sua “linha de frente de defesa”, acrescentou, referindo-se a criadores de conteúdo como ele.

Autoridades da Casa Branca afirmam que a intenção não é proibir o app de operar, mas forçar o dono chinês do aplicativo a se desfazer dele. O prazo de 270 dias para a ByteDance se estende além de novembro, permitindo que os usuários continuem postando durante as eleições.

— Isto é sobre a nossa segurança nacional. Isso não é motivo de preocupação para os americanos que usam o TikTok — disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.

A ByteDance deixou claro que não tem intenção de vender o app, aumentando as chances de uma longa batalha judicial. Ao mesmo tempo, Donald Trump já está usando a perspectiva de uma proibição para atrair eleitores mais jovens.

Em uma postagem nas redes sociais antes da aprovação do projeto de lei pelo Congresso, ele culpou Biden por iniciar a proibição — uma reviravolta de Trump, que em 2020, quando ainda era presidente, assinou uma lei o aplicativo, que foi posteriormente anulada na Justiça.

A equipe de Biden diz que sua presença no aplicativo é uma parte vital de uma estratégia para alcançar o máximo possível de eleitores. O TikTok tem amplo alcance: mais de 170 milhões de americanos têm contas, segundo a empresa, e um terço dos adultos com menos de 30 anos se informa pela plataforma, de acordo com o Centro de Pesquisa Pew.

Em um esforço inédito, assessores de Biden estão em contato diário com influenciadores das redes sociais. As parcerias da campanha com criadores populares são ainda mais importantes porque o TikTok proíbe a publicidade política. Organizar várias pessoas para promover conteúdo positivo supera a presença de Biden sozinho no aplicativo, segundo uma pessoa a par da estratégia.

A campanha de Biden criou uma conta no TikTok durante o Super Bowl, em fevereiro. Tem mais de 300 mil seguidores, pouco em comparação aos influenciadores mais populares. E, por questões de segurança, os funcionários da campanha só postam no aplicativo a partir de um dispositivo separado.

O cenário para Biden no TikTok já não era bom, mesmo antes do novo projeto de lei. Postagens negativas sobre o presidente de proliferam na plataforma, motivadas pela frustração com a forma como lidou com a guerra em Gaza, sua idade e políticas climáticas.

Mas não há provas claras de que o algoritmo do TikTok tenha uma tendência política específica, de acordo com Neta Kligler-Vilenchik, professora assistente de comunicação da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Porém, como o algoritmo do TikTok é conhecido por ser pouco transparente, isso representa um desafio para aqueles que tentam compreender sua crescente influência política, explicou Ioana Literat, professora associada de comunicação da Universidade de Columbia.

É difícil medir o volume de sentimentos positivos ou negativos sobre Biden na plataforma porque a empresa restringe certos dados. Os usuários muitas vezes ficam isolados em diferentes universos de conteúdo, onde seus feeds refletem os tópicos com os quais eles mais interagem, dizem os especialistas.

A equipe de Biden está calculando o que pode persuadir os eleitores decepcionados a apoiá-lo, em parte por meio de conteúdo on-line. Em março, alguns criadores de conteúdo do TikTok participaram de uma mesa redonda com funcionários da campanha sobre estratégia digital, onde Biden passou para falar com eles. E Finnegan Biden, neta do presidente, ofereceu um happy hour para influenciadores.

Se o TikTok desaparecer, o mesmo acontecerá com a fonte de receita dos influenciadores. Harry Sisson, um jovem de 21 anos que participou de reuniões oficiais e de campanha, está incentivando seus 850 mil seguidores do TikTok a assistirem vídeos em seu canal no YouTube, onde tem postado mais por causa da potencial proibição.

— Há muitos criadores no TikTok que os apoiam e fizeram muito trabalho para a campanha e para o presidente. Estou desapontado — disse Sisson.

Fonte: O Globo

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