Júri completo que julgará Trump foi definido e depoimentos podem começar já na segunda, anuncia juiz de Nova York

Trump comparece ao Tribunal Criminal de Manhattan, na cidade de Nova York
Trump comparece ao Tribunal Criminal de Manhattan, na cidade de Nova York — Foto: Curtis Means / POOL / AFP

O júri completo, com doze titulares e seis suplentes, que irá julgar o ex-presidente americano Donald Trump, foi constituído nesta sexta-feira, anunciou o juiz de instrução do caso em Nova York. Logo após a decisão, um homem ateou fogo em si mesmo do lado de fora da corte e foi levado em estado grave para o hospital. A motivação não ficou imediatamente clara, embora tenha ocorrido enquanto o magnata republicano estava sentado no banco dos réus. A seleção do júri abre caminho para as declarações inaugurais já na segunda-feira e o início dos depoimentos.

— Temos o júri completo — disse o juiz Juan Merchan, ao final de uma manhã intensa na qual se concluiu a escolha dos suplentes que vão ocupar o lugar que possa ser deixado vago por algum dos titulares neste que será o primeiro julgamento da História dos EUA a levar ao banco dos réus um ex-presidente, que também está em campanha para voltar à Casa Branca nas eleições de novembro.

A seleção dos 12 titulares e seis suplentes que julgarão Trump tinha acabado de terminar quando a TV local começou a transmitir imagens ao vivo de fumaça saindo do que relatou ser uma pessoa em chamas. No vídeo, um policial pode ser visto correndo com um extintor de incêndio e o repórter da CNN disse que havia um forte cheiro de combustível e carne queimada.

— Um homem ateou fogo em si mesmo do lado de fora da Suprema Corte. Ainda estamos reunindo detalhes no local — afirmou um porta-voz da polícia de Nova York, segundo a AFP.

O incidente parece ter ocorrido em um estacionamento em frente ao tribunal, que as autoridades cercaram para organizar manifestantes pró e anti-Trump, bem como alguns meios de comunicação.

Segundo um porta-voz do sistema judiciário, Al Baker, o cronograma do tribunal não será alterado devido ao evento trágico desta sexta, embora “todo o tribunal tenha sido afetado por isso”. Espera-se que as declarações de abertura do julgamento de Trump, nas quais os promotores e advogados de defesa apresentarão seus argumentos ao júri recém-empossado, comecem já na segunda-feira.

O caso tem origem em um pagamento de dinheiro secreto feito durante a campanha presidencial de 2016 a Stormy Daniels, uma estrela de filmes adultos que, na época, estava ameaçando tornar pública a história de seu caso extraconjugal com Trump. O pagamento de US$ 130 mil (cerca de R$ 675 mil na cotação atual) foi feito pelo ex-advogado e ex-braço de Trump, Michael Cohen, que disse ter agido sob as ordens do republicano.

O promotor distrital de Manhattan, Alvin Bragg, atribuiu a Trump 34 crimes de falsificação de registros comerciais, acusando-o de ter disfarçado os reembolsos de Cohen para manter o escândalo sexual em segredo. O ex-presidente se declarou inocente e sempre negou ter tido relações sexuais com Daniels. Se o júri o condenar, ele poderá ficar até quatro anos atrás das grades.

Ao chegar ao tribunal nesta sexta-feira, Trump fez uma declaração furiosa sobre a ordem que o impedia de atacar testemunhas, promotores e familiares de funcionários do tribunal, que ele chamou de “grosseiramente injusta”.

— O juiz precisa retirar essa ordem de mordaça — disse Trump, que tem um longo histórico, mesmo enquanto presidente, de fazer declarações ameaçadoras ou insultantes contra oponentes públicos e privados, e em uma enxurrada de publicações em sua plataforma Truth Social, novamente pediu a impunidade presidencial.

Os jurados foram submetidos a um questionário sobre sua profissão, local de trabalho, os jornais que leem e as redes sociais que usam, que tanto a defesa quanto a acusação examinaram com lupa para determinar suas tendências políticas. Para proteger o anonimato dos nova-iorquinos selecionados por sorteio para o serviço de júri, Merchan pediu aos repórteres que não fornecessem descrições físicas dos membros ou revelassem onde eles trabalham.

Ocupado com o julgamento em meio à campanha, Trump diz que é vítima de uma “caça às bruxas” orquestrada pelos democratas para impedi-lo de voltar à presidência dos EUA. Nas últimas pesquisas, ele está empatado com o presidente democrata Joe Biden para a eleição de 5 de novembro.

Espera-se que o julgamento na Suprema Corte de Manhattan dure cerca de seis semanas, durante as quais testemunhas como Michael Cohen.

O magnata republicano enfrenta três outros processos criminais, incluindo acusações muito mais sérias de tentar anular sua derrota nas eleições de 2020 para Biden, mas eles foram repetidamente adiados e agora é improvável que sejam realizados antes da eleição. Se condenado, ele poderá ficar até quatro anos atrás das grades, mas é mais provável que seja multado. O veredicto do júri deve ser unânime, segundo a AFP.

O magnata de 77 anos lamentou novamente na quinta-feira o fato de ter que estar “em um julgamento muito injusto” em vez de fazer campanha.

— O mundo inteiro está assistindo a essa farsa — declarmou, usando novamente o caso para lançar seus ataques eleitorais contra Biden, a imigração e o sistema judiciário. (Com AFP e The New York Times)

Fonte: O Globo

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